Ser mulher não basta. É preciso ser super. Este é o grande desafio enfrentado pelo sexo feminino na sociedade contemporânea, independente da classe social, e a tentativa de superá-lo tem influência direta na sua saúde física e emocional. Durante séculos o papel social da mulher restringiu-se a três funções básicas: ser esposa, ser mãe e ser dona de casa. Hoje as responsabilidades com a família somam-se ao trabalho e a outras demandas e exigem um esforço quase sobre-humano e, na maioria das vezes, o sucesso não é obtido completamente em todas as áreas.
Frente a este contexto, é inevitável que surjam problemas de ordem emocional e que afetam a qualidade da vida da mulher e, claro, de toda sua família, com reflexos nas relações e no desempenho no trabalho. A psicóloga Karlla Cristina de Paula Silva afirma que, nos dias de hoje, a mulheres estão sujeitas a vários transtornos de comportamento, e os principais são o de ansiedade, a síndrome do pânico e o transtorno de humor, cuja manifestação mais grave é a depressão.
Segundo Karlla Cristina, a mulher apresenta uma predisposição à ansiedade e com as pressões externas e também dela mesma que, às vezes, são ainda mais intensas, os desequilíbrios emocionais, como o transtorno de ansiedade generalizado, surgem. Neste caso, a principal característica é a preocupação excessiva com determinadas situações, beirando ao descontrole.
Outro é a síndrome do pânico, que tem crescido muito. A pessoa já tem a predisposição à doença e com a pressão excessiva desenvolve a síndrome. “Tem que apresentar um conjunto de sintomas: taquicardia, tremores nas mãos, falta de ar, medo de morrer”, esclarece a psicóloga.
Há, ainda, o transtorno de humor, cuja principal doença é a depressão. Nesse quadro, a mulher apresenta irritabilidade, baixa auto-estima, falta de energia, cansaço, impulsividade e, em alguns casos, vêm os transtornos alimentares. Algumas comem muito, e como conseqüência, ganham peso; e outras perdem o apetite.
A maioria das mulheres leva um tempo para se dar conta de que estão com algum problema, explica Karlla Cristina. Segundo a psicóloga, elas associam os sintomas ao cansaço, às pressões do cotidiano, mas chega um momento em que as pessoas começam a chamar a atenção para o fato de que ela está muito nervosa, sem paciência, irritada. “Muitas só conseguem ter a dimensão do problema quando já estão prostrando”, afirma.
A psicóloga afirma que estas doenças se desenvolvem gradativamente e, muitas vezes, são percebidas tardiamente, quando já se encontram instaladas, e a única solução para elas são as psicoterapias ou até tratamentos medicamentosos. Por isto é preciso estar alerta aos principais sinais para evitar uma evolução para casos muito graves. “O melhor mesmo é a prevenção”, afirma Karlla Cristina.
Como prevenir
A prevenção é o melhor caminho, pois depois que a doença se instala é difícil reverter o quadro, avalia. A mulher, hoje, quer se auto-afirmar profissional e financeiramente, o que a leva a uma sobrecarga, afirma a psicóloga Karlla Cristina. É uma realidade advinda do capitalismo, não é possível fugir dela, mas a mulher deve ter exata consciência do que quer para viver sem culpas. Ela acrescenta que é preciso saber coordenar o investimento de energia em diferentes setores da vida, o que permite que a mulher cuide de si, de sua família e de seus afazeres de maneira satisfatória, mesmo que não obtenha a perfeição em nenhuma delas. A aceitação das limitações pessoais possibilita que mulher reconheça a necessidade de dividir responsabilidades com outras pessoas e lhe permite pedir ajuda sempre que necessário. Tudo isto contribui para que se possa viver de maneira menos angustiada e mais equilibrada, completa
Políticas públicas
Segundo Karlla Cristina, no Brasil pouco se tem de pesquisas na área de saúde emocional da mulher. A maioria delas está vinculada ao ciclo reprodutivo. Os principais estudos são desenvolvidos no Sudeste. Ela acrescenta que as políticas públicas nessa área começaram a ser implantadas muito recentemente, com mais intensidade a partir de 2004, quando foi lançada a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. “Há ainda um longo caminho para que se fortaleça a rede de apoio e atendimento à saúde mental e emocional da mulher”, afirma.