Era 1997. A rotina de Valber, que até então trabalhava na cidade de Catalão, era comum a de quase todas as outras pessoas. Mas, ao descobrir que a filha, de apenas dois anos, estava com câncer, sua vida tomou um rumo diferente, como ele mesmo narra: “Seguiram-se meses de horror, que ultrapassaram as barreiras da individualidade e me fizeram abrir os olhos para uma realidade cruel de pessoas que estavam na mesma situação que eu, lutando contra o câncer, mas com bem menos armas. Vi durante os 11 meses que estive quase todos os dias na pediatria do Hospital Araújo Jorge, famílias que vieram de longe para tratar seus filhos e viviam às margens da dignidade; vi crianças chorarem ao receberem alta médica porque não sabiam se ao chegarem em casa, haveria pelo menos algo para comerem; outras que ao findarem uma seção de quimioterapia voltavam para suas casas e por se alimentarem tão precariamente, retornavam anêmicas e com um quadro infeccioso muitas vezes irreversível, uma vez que a quimioterapia reduz consideravelmente o sistema imunológico”.
Todos esses fatores, somados a perda da filha por causa da doença, fizeram com que Valber Barreto, já em Anápolis, se solidarizando com as crianças e famílias que lutavam contra a doença, em rotineiras visitas, tivesse o desejo de criar uma Organização para ajudá-las. Assim, em outubro do ano 2000, nasceu o Núcleo Esperança, uma sociedade civil, sem fins lucrativos, de caráter assistencial, que tem por finalidade arrecadar doações para as famílias dessas crianças de acordo com suas necessidades e lutar ante o poder público para que seja concedido a elas o que lhes é de direito, além de visitá-las regularmente. “Na sede do Núcleo, que é em Anápolis, fazemos contatos com mantenedores e armazenamos donativos para serem entregues aos beneficiários”, conta o idealizador do projeto. São distribuídas cestas de alimentos, remédios e garantido transporte e apoio psicológico às famílias de crianças e adolescentes com câncer que são acompanhadas pelo Núcleo. “Contamos com camas hospitalares, cadeiras de roda, utensílios para o lar, que são emprestados aos beneficiários em sistema de rodízio, sendo que, assim que não está mais em uso por um beneficiário é recolhido e repassado para outro”, explica.
Para realizar todo o trabalho necessário, Valber, que deixou o emprego para se dedicar integralmente ao Núcleo, conta com o apoio da esposa e de uma funcionária que trabalha na sede do projeto e todo restante é realizado por voluntários. “Por causa do trabalho realizado ali, somos mantidos por uma rede de parceiros e realizamos vários eventos a fim de arrecadar fundos para manter o projeto”, relata Valber. Essa ajuda chega a cerca de 40 famílias de crianças com câncer que estão em Anápolis, Goiânia, Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Trindade.
“Minha vida se confunde com o Núcleo, vivo isso com muita intensidade. Quando minha filha morreu, eu personifiquei o câncer, ele é uma pessoa que faz com que eu dedique minha vida buscando diminuir seu poder de devastação”, diz. Hoje, Valber tem duas filhas- uma de nove e outra de dez anos- que gostam e são muito envolvidas com as atividades do projeto. “Conseguimos transformar uma história que até o momento era aparentemente só de morte, em uma nova esperança de vida para crianças doentes e muito carentes, não apenas de recursos financeiros, mas também de amor e atenção. Os problemas sociais são mais tristes que o câncer”, conclui.
O Núcleo Esperança está aberto para receber doações em alimentos, roupas, remédios, brinquedos cobertores ou utilitários. Os donativos podem ser entregues na atual sede do Núcleo Esperança, localizado na Av. José Neto Paranhos, Bairro Jundiaí. O telefone de contato da entidade é o (62) 3099 – 2304. Os interessados também podem colaborar fazendo doações de qualquer quantia na conta da entidade no Banco do Brasil (Agência: 0324-7Conta Corrente: 411.181-8).
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