Profissionais estão abandonando a atividade por causa do alto preço dos combustíveis e da falta de reajuste de tarifas
Dirigir por aplicativo não dá mais dinheiro. Há quem diga que nunca deu, uma vez que os motoristas costumam contar como custo apenas o preço do combustível. O CONTEXTO foi às ruas de Anápolis para descobrir o porquê das reclamações de usuários sobre a demora no atendimento, percebida com cada vez mais frequência nos últimos meses.

A resposta está no número de profissionais que abandonou a atividade desde janeiro desse ano. Quase metade deles simplesmente parou de rodar. A afirmação é do representante deles em Anápolis, Rodrigo Bastos.
Segundo ele, o serviço existe há 4,5 anos na cidade. Quando começou, era cobrada uma taxa de 25% fixa. De lá pra cá, essa taxa passou a ser variável, chegando a 45% de acordo com o horário e a quantidade de motoristas disponível, enquanto o valor cobrado dos passageiros só diminuiu. “Durante a pandemia, com o aumento da taxa de desemprego, muitas pessoas viram o aplicativo como uma forma de sobreviver, fazendo crescer muito o número de motoristas”, revelou ele. Daí, com maior oferta, aumenta a taxa. Mas o principal vilão da história foi o sucessivo aumento do preço dos combustíveis. “Muitos dirigem carros alugados, tornando o negócio inviável”, completou.
Rodrigo compara que, antigamente, em oito horas de trabalho era possível tirar R$ 150 livres. Atualmente é preciso fazer 20 horas, o que desestimula a atividade. “Gostaríamos que a taxa do aplicativo baixasse, ao invés do preço cobrado do passageiro aumentar. Assim seria possível continuar”, afirma. Com isso, começa a faltar transporte para os usuários. Nas redes sociais, eles relatam esperas de 1h30 e até oito cancelamentos para conseguir embarcar. Isso acontece porque os motoristas da plataforma estão escolhendo as corridas mais lucrativas devido ao alto preço do da gasolina e do etanol. “Eles podem selecionar corridas em que consigam obter algum lucro, se negando a realizar corridas da categoria Uber Promo”, disse o representante.
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Raimundo Perez era advogado, mas passou a desempenhar a função de motorista há dois anos. Recentemente decidiu abandonar a atividade. Segundo ele, o aplicativo nunca reajustou taxas ou preços, mas o combustível já aumentou dezenas de vezes. Encher o tanque custa praticamente o dobro do que custava antes da pandemia. Sua renda mensal, que chegou a ser de R$ 2 mil, agora não chega a R$ 500. “Existem corridas em que o valor recebido não paga um litro de combustível. O veículo se danifica, a pessoa se desgasta, daí as contas não fecham. Na maioria das vezes sobram R$ 3 ou 5. A maior fatia do valor pago pelo passageiro fica para o dono da plataforma e para os postos de combustíveis. Decidi parar”, narra.
Uber
Recentemente, em nota divulgada em âmbito nacional, a Uber, maior plataforma do segmento, disse que o preço dos combustíveis foge ao seu controle, mas entende a insatisfação e trabalha para ajudar os parceiros a reduzir gastos fixos. Sobre as taxas, a Uber afirmou que “há confusão entre os motoristas parceiros do aplicativo sobre o valor da taxa” e que “em 2018, ela se tornou variável e passou a fazer parte da estratégia da Uber em oferecer descontos para os usuários de modo a incentivar que eles façam viagens” e que por isso “em algumas viagens ele pode aumentar enquanto, em outras, pode diminuir”.
Além disso, a plataforma informou que uma alta demanda por viagens vem se acentuando nas últimas semanas. Conforme o avanço da campanha de vacinação contra a covid-19 e a reabertura progressiva de atividades comerciais é retomada, aumenta a demanda por transporte, o que justificaria o tempo maior de espera por uma viagem, especialmente nos horários de pico. “A demanda elevada significa que o app da Uber está tocando sem parar para os parceiros, situação em que eles relatam se sentirem mais confortáveis para recusar viagens, pois sabem que virão outros chamados na sequência, possivelmente com ganhos maiores”, explicou a Uber.
Questionado, o aplicativo disse que os ganhos dos motoristas são “bem particulares porque são muitas as variáveis em jogo”. “Os parceiros da Uber são livres para decidir em quais dias e horários dirigir, quem dirige em dias e horários de maior movimento tem uma maior chance de ganhar mais.” Sobre as tarifas cobradas dos passageiros, afirmou que opera em um sistema de intermediação de viagens dinâmico e flexível e que, por isso, busca considerar, de um lado, as necessidades dos parceiros e, de outro, a realidade dos consumidores, “tendo em vista o equilíbrio entre oferta e demanda.”