Artigo de autoria de Cinthia Dias e Edergênio Negreiros Vieira
Antes de iniciarmos o texto de fato, pedimos licença ao líder indígena Ailton Krenak, para tomar-lhe emprestado o título do seu maravilhoso livro, para nomear essas breves linhas. Estamos em junho, mês dedicado à reflexão sobre as questões que sempre deveriam estar na ordem do dia: a pauta climática.
Quando o debate é o clima, mais uma vez, temos dois lados em disputa: os que lutam para preservar, e os que querem destruir. O Brasil é o segundo maior produtor de alimentos e o maior consumidor de agrotóxicos por volume no planeta Terra. Estes números estão para a ordem do progresso, mas os custos desse “desenvolvimento” representam o fim do amanhã.
Se nos últimos 4 anos o governo anterior deu as costas às iniciativas e proposta de preservação, com o governo atual, capitaneado por duas Ministras (Sonia Guajajara e Marina Silva, Ministério dos Povos Originários e Meio Ambiente, respectivamente) respeitadas mundialmente, o país volta ao cenário internacional no quesito preservação e sustentabilidade. Mas, os enfrentamentos internos estão vivos.
Deputados ligados à direita e extrema-direita brasileira, representantes do garimpo, de mineradoras e do agronegócio predatório articulam fortemente contra o povo trabalhador, mãe Terra e todo o ecossistema. A proposta de retirada da demarcação de terras indígenas e da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) do Ministério dos Povos Indígenas foi uma tentativa de manter a destruição das nossas riquezas naturais, que se dá desde que os invasores europeus chegaram, há pelo menos 5 séculos.
O veto a essa insistência pela destruição, pelo o atual Governo Federal, é um respiro a todas as pessoas, que acreditam num mundo em que todas as formas de vida existentes neste planeta importam. E estudos comprovam que é possível conviver de forma harmoniosa com a produção de alimentos, sem avançar com desmatamentos e destruição do Meio Ambiente.
As novas descobertas devem agir sob a ótica do equilíbrio entre as diversas formas de vida. A possível descoberta de poços de petróleo na foz do Rio Amazonas também coloca um desafio não apenas para a União, mas especialmente para todos nós que defendemos um humanismo eco-radical.
Conforme a atual forma de produção de riqueza social avança em suas inúmeras contradições, usa como um dos elementos para manter a inamovibilidade de suas condições de reprodução, a ampliação da barbárie sobre pessoas, animais, rios, lagos, córregos, plantas, árvores, povos e nações. Mas, essa lógica de mercado predatório, não se sustenta. Até para manter a produção precisam de terra, água e todos os bens naturais. A produção e a vida precisam da natureza, protegê-la é uma obrigação racional.
O cerrado pede socorro
De acordo com o Sistema de Desmatamento do Cerrado, (SAD Cerrado), uma tecnologia, que opera através de inteligência artificial e com imagens de satélite da Agência Espacial Europeia, pensado e desenvolvido pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em parceria com a rede MapBiomas e com o Lapig, (Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento), da UFG, (Universidade Federal de Goiás), o Cerrado brasileiro corre sérios riscos de extinção. Apenas no ano de 2022 o bioma perdeu 815.532 hectares em todo o Brasil.
No ranking nefasto da destruição do meio ambiente, Goiás ocupa a quarta posição com 78.148, 41 ha, de Cerrados perdidos apenas em 2022. A destruição dessa savana, além de matar toda a riqueza da diversidade do bioma que inclui a fauna de araras, jiboias, cervos, preás, cachorros-do-mato, lobos-guará; e da flora composta de buritis, mangabas, cagaitas, barus, babaçus e pequis entre outros representa a extinção da nossa própria espécie de seres humanos. Vale lembrar que como ativistas em qualquer causa, nada fará sentido se não salvarmos o nosso planeta.
O Governo Federal, as Ministras do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas estão na linha de frente e devem ficar atentos no combate à autodestruição do planeta. Mas, não estão sozinhas, instituições e governos internacionais discutem a importância de reconhecer à dependência humana a natureza e, portanto preservá-la. Agora, nós, pessoas comuns, trabalhadoras e trabalhadores, devemos fazer a nossa parte, cobrando, vigiando e enfrentando as forças reacionárias.
Pela vida humana, pela proteção da natureza e em nome da saúde do planeta Terra, continuamos fortemente na luta, viva o Meio Ambiente.
O ARGUMENTO DO PODER E O PODER DO ARGUMENTO!
Quando tratamos de algum tema, nós devemos construir argumentos que legitimem os nossos pontos de vistas. Porque “todo ponto de vista é visto de um ponto”. Nós devemos construir um histórico do tema até chegar aos dias da discussão do problema. Em seguida, nós devemos optar por uma linha reflexiva ou autor especializado no tema. Assim, nós construiremos um “argumento de força”.
Os argumentos de autoridade são: “eu sou o chefe”; “eu que mando aqui”; “eu sou o mais velho”; “eu sou o pai”; “eu sou o patrão”; “o cliente sempre tem razão”; “o cliente sempre tem razão”; “manda quem pode, obedece quem tem juízo”; ” eu sou negro, eu tenho ‘lugar falar'”; ” eu sou lgbtqiap+, eu tenho ‘lugar de fala'”; “eu sou empobrecido, eu tenho ‘lugar de fala'”; “eu sou favelado, eu tenho ‘lugar de fala'”; ” eu fiz graduação, Mestrado, Doutorado, Pós-doutorado, eu tenho ‘lugar de fala'”. Estes argumentos não tem necessariamente “força”. Eles são muito mais um “argumento de força” que a “força de um argumento”. Portanto, estes argumentos podem ser muito mais um grito que a construção de elementos legitimadores da tese principal.
A presente reflexão não tem o objetivo de proibir o uso de qualquer um destes argumentos. Ela tem apenas o objetivo de esclarecer que há argumentos ilegítimos e que não provam nada sobre nada. Eu nem quero entrar nas idiossincrasias como os especialistas que se vendem para propagar uma “mentira” ou uma “meia verdade”. Eu não quero entrar na loucura do especialista em tudo. Eu não quero tratar daquela pessoa que fala superficialidades e acha que o que está tratando é algo profundo. Desta maneira, o processo da construção do conhecimento e dos argumentos devem ter como “ponta de lança” os princípios, os valores, o caráter e a ética. Porque “todo ponto de vista é visto de um ponto”.
SÉRGIO DE SOUZA NERES
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GOIÂNIA – GOIÁS
19/04/2023