A maternidade é uma das experiências mais incríveis que eu já vivi. A cada dia aprendemos e vivenciamos coisas novas, desde a gestação até o pós-parto. Noites mal dormidas, não saber o que um choro desesperado quer dizer (com o tempo aprendemos), e até na hora do banho surge um certo receio — o bebê fica escorregadio, a água pode estar quente ou fria demais. Enfim, não é fácil, e quem já passou por isso sabe como é importante a ajuda de alguém experiente neste momento — no meu caso, minha mãe e minha sogra foram essenciais. Lembrei-me dessa etapa da vida nesta semana porque minha filha Julie fez 5 anos e que alegria é poder comemorar com ela a vida e todos esses desafios já vencidos. Além de lembrar dos momentos com ela me peguei pensando naquelas mulheres que estão passando por essa experiência em uma condição totalmente inusitada: a pandemia do novo Coronavírus.
O isolamento domiciliar, fundamental para conter a propagação do vírus, impede que muitas mães de primeira viagem tenham ao seu lado aquelas que tanto nos ajudam nessas primeiras semanas — as avós, as irmãs, as tias, as amigas e etc. Ou seja, algo que é tão natural em tempos normais, hoje pode colocar em risco a saúde do bebê, da mãe, do pai, e de qualquer visita, uma vez que a mulher acabou de sair de uma unidade de saúde — um local que possui alto risco de contaminação.
Pensar sobre isso me inquietou. Então resolvi conversar com algumas conhecidas que estão grávidas e que acabaram de dar à luz para saber como tem sido as últimas semanas. Bom, o que me disseram não foi diferente do que eu imaginava. As dificuldades são muitas. Por exemplo, você já deve ter escutado bastante nos noticiários algo sobre o “pico da curva”, o que significa o auge do número de casos confirmados no País. Para alguns pode ser algo relativamente distante, mas está interferindo diretamente na vida de quem está esperando para ter um filho.
Foi o que uma das mulheres com quem falei me explicou. Ela estava programando um parto normal para essa semana, mas a possibilidade real do aumento de casos confirmados fez com que ela antecipasse o nascimento do filho. A decisão, apoiada pelo seu médico, também exigiu a mudança do parto normal para Cesária, que aconteceu há duas semanas. Ocorreu tudo como o esperado e o bebê, um menino, nasceu saudável, para a alegria de toda a família.
Mas existe um porém, ela é mãe solo e a avó da criança estava planejando passar algumas semanas com a filha e o neto, para dar o suporte necessário. Só que, infelizmente, isso não foi possível, já que ela é idosa e faz parte do grupo de risco. Desde de então, a mamãe de primeira viagem está passando por esse momento totalmente novo sozinha.
E ainda há outros desafios. Em Anápolis, muitas unidades de saúde limitaram o agendamento de consultas, fazendo com que gestantes em período de pré-natal não conseguissem dar continuidade ao acompanhamento. Além disso, por algumas semanas, a Secretaria Municipal de Saúde limitou a vacinação de bebês para recém-nascidos (BCG e Hepatite B), e para crianças de 2 a 4 meses a rotavírus, apenas a Unidade de Saúde Dr. Ilion Fleury, conhecida como Osego. Outra vacinas, como a pentavalente, não estavam disponíveis até alguns dias atrás, preocupando muitos pais.
Entendo que a atual conjuntura exige muita atenção especial do poder público. Mas, é preciso lembrar que, apesar da nossa rotina ter mudado, a vida segue. Crianças continuam nascendo, pessoas continuam adoecendo ou passando por tratamentos oncológicos, por exemplo. É por isso que os nossos representantes não podem deixar outras questões importantes de lado. Não adianta concentrar esforços no combate ao novo Coronavírus, sendo que, por outro lado, a população continua adoecendo por outras razões.
Como tudo na vida, é preciso ter equilíbrio. Anápolis é uma cidade com quase 400 mil habitantes e, por isso, o bom funcionamento dos serviços de saúde pública é essencial para atender a todos de forma eficiente. Milhares de pessoas dependem disso. Para tanto, é preciso ter atenção e planejamento do que é feito. Questões importantes como essas, não podem ser deixadas de lado, pois, assim como o novo vírus, colocam em risco o bem-estar de todos.