No romance O Idiota, Dostoiévski afirma: “Os verdadeiros olhares de amor e adoração só aparecem nas portas dos hospitais, nas portas dos cemitérios. “Não reconhecemos nem acreditamos no amor exceto no momento do fim.” Para ele, os verdadeiros sentimentos humanos só aparecem diante da doença, da morte ou dos momentos finais de ruptura. Essa ideia fica evidente em seus personagens como o Príncipe Myshkin, cujo amor só é compreendido quando ele cai na loucura. Ele busca salvar Nastácia Filíppovna de seu sofrimento, oferecendo-lhe um amor puro e desinteressado.
A mesma ideia surge em “Os Irmãos Karamazov”, onde os irmãos só entendem o significado do amor após a perda, e em “Crime e Castigo”, quando Raskolnikov só percebe o amor de Sonya por ele quando está à beira da perda. Dostoiévski não escreveu sobre o amor feliz, mas sobre o amor que se manifesta à beira do abismo. O amor é frequentemente retratado como uma força intensa e irracional, capaz de levar os personagens a extremos de comportamento.
Dostoiévski explora a relação entre amor e sofrimento, mostrando como o amor pode ser uma fonte de dor e angústia. Os personagens frequentemente se debatem com a incapacidade de amar e serem amados de forma plena. Ele apresenta um panorama complexo e contraditório, mostrando como o amor pode ser uma força tanto criativa quanto destrutiva, capaz de levar à redenção e à ruína.
“Não reconhecemos nem acreditamos no amor exceto no momento do fim” reflete sua visão pessimista do amor, que só se manifesta em sua verdadeira intensidade no momento da perda ou da tragédia. O amor é visto como um catalisador que revela a verdadeira natureza humana, muitas vezes oculta sob máscaras sociais e ilusões, e fortes emoções humanas, que só se manifestam em sua plenitude nos momentos de tensão e desespero.
Será que podemos concordar com sua afirmação sobre o amor? Ou é possível imaginar um amor puro distante das tensões e dores? Gosto de refletir sobre a frase de Clarice Lispector: “Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e, às vezes, receber amor em troca”. O desejo de sentir-se amado é uma necessidade psicológica fundamental. As pessoas estão dispostas a irem até o confim da terra, em busca de amor.
Chesterton afirmou:” A questão não é que este mundo é triste demais para ser amado ou alegre demais para não o ser; a questão é que quando se ama alguma coisa, a sua alegria é a razão para amá-la, e sua tristeza é a razão para amá-la ainda mais. Roma não foi amada por ser grande, mas foi grande por ser amada.”
Ao contrário do pensamento de Dostoievsky, acredito que amor não depende de circunstâncias, boas ou ruins para se manifestar. Ele tem a força de desconstruir, construir, retirar dos escombros a esperança, e fazer renascer a vida no meio de ruinas. Não é sem razão que a Bíblia define a essência de Deus como amor. O apóstolo João afirma: “Deus é amor!”
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