Presenciamos, ultimamente, campanhas e mais campanhas para a arrecadação de alimentos a serem distribuídos a famílias e instituições necessitadas. A crise econômica, agravada pela pandemia do novo coronavírus, que resultou na covid-19, são os ingredientes essenciais para esta situação. De fato, muita gente, mas, muita gente mesmo, passa fome no país que é um dos maiores produtores de alimentos em todo o mundo, chamado até, de “celeiro do Planeta Terra” e com a perspectiva de se tornar uma grande potência mundial, justamente por conta disso. Mas, tem o outro lado da história, ou, a outra face da moeda.
O Brasil é um dos principais campeões de desperdício de alimentos no mundo. Cada um de nós, cidadãos deste País, joga no lixo, em média, 60 quilos de alimentos todo ano, ou seja, cinco quilos todo mês. De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), 690 milhões de pessoas passaram fome em 2019, um número que deve aumentar drasticamente após a pandemia do coronavírus. Além disso, três bilhões de pessoas não podem pagar por uma dieta saudável. Assim, a contradição entre desperdício e a falta de alimentos é clara.
O problema seria, então, falta de alimentos, ou, desperdício de alimentos? Ou, as duas coisas? A outra pergunta seria: Por que se joga tanta comida fora, se tem tanta gente com fome? O chamado Índice de Desperdício de Alimentos 2021 apresenta um número quase assustador: em 2019, foram 931 milhões de toneladas de alimentos desperdiçados. Isso sugere que 17% da produção total de alimentos do mundo foram para o lixo. Isso é o equivalente a 23 milhões de caminhões de 40 toneladas totalmente carregados com alimentos, que alinhados dariam a volta na Terra sete vezes. E, sabe que, a maior parte do desperdício de alimentos – o equivalente a 61% – vem das famílias. Ou seja, da casa de cada um de nós. O restante: 26% vêm do setor de serviço de alimentos, por exemplo, restaurantes, hotéis ou estabelecimentos de ensino. E, por fim, 13% vêm do comércio, como supermercados ou pequenas lojas. Pode-se, dizer, até que, isso não é um problema apenas para os países ricos, como se sugeria antes, onde os consumidores, simplesmente, compram mais comida do que podem comer. Agora é, também, daqueles que estão em desenvolvimento.
A matemática que não bate é a seguinte: quanto mais desperdiçamos alimentos, mais eles ficam caros, pois os produtores têm de plantar, criar e colher mais para atenderem à demanda. E, num sistema capitalista, não tem erro: é a lei da oferta e da procura. O drama, portanto, tem duas vertentes: muita gente com fome e muita gente que paga mais caro pela comida, devido ao desperdício nosso de cada dia.