Família é algo paradoxal por natureza. Lugar de grandes conflitos e dores, mas, ao mesmo tempo, de acolhimento e cura. Boa parte de nossas neuroses surge por causa do tumultuado relacionamento familiar com suas intrincadas redes e texturas. Mas é impossível imaginar a vida sem berço, sem colo, sem abraço, sem afeto familiar.
O dramaturgo e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, conhecido por sua acidez e cinismo, ironizou a família dizendo que “na melhor das hipóteses, só serve para duas coisas: enriquecer a indústria farmacêutica e dar emprego aos psiquiatras.” Bem, este é o lado sombrio da família. É claro que a frase de Nelson Rodrigues reflete a disfuncionalidade de muitos lares, o que não quer dizer que seja assim em todos eles.
Prolífero escritor católico, G. K. Chesterton foi um escritor brilhante e de inteligência aguçada, dedicando muitas de suas páginas ao casamento e à família. Ele ironizou as contradições gritantes da modernidade na compreensão do casamento como uma instituição vital para o indivíduo e para a sociedade. Também cunhou o termo “domicilidade”, exaltando a importância de termos famílias simples.
“A coisa mais extraordinária do mundo é um homem e uma mulher comuns e os seus filhos comuns”, disse ele. “O que muda o mundo não acontece nos grandes debates e universidades, mas ao redor da mesa”, acrescentou.
O lar é o berço e a escola da humanidade, lugar de acolhimento e proteção, de maturidade e de socialização. Nada é mais poderoso que uma família simples ao redor da mesa. Ora, é na família que se reconhece a própria identidade e valor.
“A família é o teatro do drama espiritual, o lugar onde as coisas acontecem, especialmente as coisas que importam (…). Quando entramos na família pelo nascimento, entramos num mundo incalculável, um mundo que tem as suas próprias leis estranhas, que pode existir sem nós, um mundo que não fizemos. Por outras palavras, quando entramos na família, entramos num conto de fadas”.
Nossa sociedade tenta destruir a beleza e a importância da família. Mesmo a busca desenfreada pelo sucesso profissional pode ser idolátrica se os valores familiares forem negligenciados. Assim, somos desafiados ao que Chesterton chama de “A grande e verdadeira aventura”, que é ficar em casa, responder com coragem à vocação mais apaixonada e empreender aí a bela tarefa de fazer um lar.”
Nas Escrituras Sagradas, os Salmos 127 e 128 são voltados para a família. Na descrição das bem-aventuranças de um homem, temos a afirmação de que a “esposa será como a videira frutífera e os filhos como as flores de oliveira ao redor da mesa.” E este trecho bíblico conclui: “Eis como será abençoado o homem que teme ao Senhor.”
O homem feliz é aquele que é capaz de se assentar com simplicidade à mesa para jantar com seus filhos ou como bem sintetizou o escritor russo Leon Tolstói: “A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família.”