Tudo depende da forma como enxergamos. Os olhos filtram os fatos e decodificam as imagens. Nem sempre o que vemos é, de fato, a realidade. Muitas vezes nos equivocamos em nossos julgamentos porque nossos olhos estão deformados. Não é a imagem que é feia. Meus olhos é que são feios. O que fizeram não é necessariamente mal, mas a forma como interpreto é que danifica a imagem.
Certa vez o escritor Rubem Alves publicou na Folha de S. Paulo (20/10/2004) uma belíssima crônica sobre “A Complicada Arte de Ver”. No texto, ele cita o poeta e tipógrafo inglês William Blake: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Num dado momento, Rubem Alves diz: “Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado, mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.”
No caminho de Emaús, dois discípulos andaram com Jesus depois da sua ressurreição e só o reconheceram ao partir do pão, quando “seus olhos se abriram”. Outro texto bíblico nos ensina uma belíssima lição, que é quando Jesus convida seus discípulos a olharem os frágeis e belos lírios do campo. Ele então afirma: “Nem Salomão, em toda sua glória, se vestiu como qualquer um deles.”
Jesus ainda convida seus interlocutores a aprenderem a olhar a vida com encantamento e graça: “Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?”
Gosto muito do poema de Adélia Prado intitulado Paixão, que começa assim: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo.” Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem. Beethoven, com sua deficiência auditiva, era capaz de ouvir – intuitivamente – as notas musicais de algumas de suas composições compostas na velhice, ainda que não ouvisse seus sons, auditivamente.
Já o compositor Gilberto Gil afirma: “Do luar não há mais nada a dizer. A não ser, que a gente precisa ver o luar. Rubem Alves ainda afirma: “Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras.”
Os olhos são a lâmpada do corpo. Eles têm a função de iluminar, de trazer clareza às imagens e aos fatos. Entretanto, se os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Mas, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso.