Moacir de Melo
E cá estou eu, de volta ao reino da música e suas mensagens positivas e eternas. Agora, quarenta anos após seu lançamento, é que percebo que a música “Pride (In the Name of Love)”, da Banda Irlandesa U2, que a reposicionou como protagonista mundial em protestos ou alertas sobre temas sensíveis, continua ecoando como um manifesto moral contra a violência, o racismo e a intolerância.

A canção homenageia líderes que deram a vida por causas essenciais como a igualdade, dignidade humana e o amor, trazendo à tona Martin Luther King, assassinado numa tarde de 4 de abril, mas trata, sobretudo, daqueles que ousaram desafiar sistemas que se alimentam da opressão, passando por Cristo traído com um beijo, tudo por amor ao próximo. E afirma: por orgulho à causa do amor, vale a pena. É o recado.
Verdade é que o orgulho deve ser ressaltado. Sim, os contrários tiram vidas, mas não tiram o orgulho. Contextualizando para nosso país, com certeza a linha final da música talvez seja a síntese que o Brasil precisa. Não apagam a dignidade dos que defendem direitos. Não silenciam, definitivamente, o sonho de um país menos desigual. Sim, a violência pode matar o corpo, mas não extingue ideias, nem apaga o orgulho de uma causa.
Neste contexto, o Cristianismo é o maior exemplo de todos. A causa de King, um sonho de igualdade entre todos, por amor, continua viva e não se curvará. E existem muitos “Kings” Brasil e mundo afora.
Porém, olhando para nosso Brasil real e atual, a canção se torna inquietante. Porque aqui, mais do que nunca, precisamos revisitar o significado de lutar “em nome do amor”. Vivemos em um país onde o discurso do amor aparece com frequência, mas quase sempre divorciado da prática.
Fala-se em “pátria mãe”, “povo acolhedor”, “democracia forte”, mas a realidade insiste em mostrar rachaduras: comunidades negras ainda carregando a herança da violência histórica; desigualdade social que parece eterna e sem nenhumas ações corretivas; líderes comunitários e defensores dos direitos humanos silentes; uma juventude periférica que, todos os dias, enfrenta seu inferno no ir e vir, no estilo salve-se quem puder. Sorte ajuda também.
O pior é que nosso país se acostumou com mortes que não viram manchetes. E esse é o maior sintoma de uma sociedade que desaprendeu o sentimento de solidariedade. Nada importa os 32 mil mortos no transito brasileiro por ano grande parte de motoqueiros; nada importa os 47 mil mortos por homicídios (o maior do planeta) e, ainda, 1,5 mil feminicídios, também destaque mundial.
“Pride” pergunta: quantas vidas mais serão ceifadas em nome do amor? E essa pergunta se encaixa perfeitamente em nosso cenário. Sim, em um país onde o medo e não o amor é o motor das políticas públicas, como cantar, com autenticidade, “What more in the name of love?” (o que mais em nome do amor?) Sim, aqui a música vira denúncia.
Porém, temos nossos bravos heróis: professores que enfrentam escolas sucateadas; mães pobres que lutam para que seus filhos tenham futuro; voluntários que fazem mais que o Estado; líderes comunitários que insistem na paz; jovens que, mesmo cercados de violência e risco de vida, escolhem estudar. Esses, sim, representam o orgulho que sobrevive apesar de tudo.
Evidente que não há, pois, mais espaço para discursos vazios ou para a romantização de um país que mata seus próprios heróis. Urge agir nas causas das desigualdades em todos os níveis como prioridade nacional, não apenas com caridades; urge proteger a vida dos que defendem causas públicas; urge reconhecer que o amor não é slogan e sim prática concreta e assumir que a nação não terá futuro enquanto a violência for normalizada e não combatida.
Evidente que precisamos de mais Bono (U2) mundo afora, e, em especial, aqui no Brasil, para reavivarmos nossos compromissos de lutar por uma nação com justiça social verdadeira.
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