Por conta de sua polêmica “cura” largamente anunciada pelas redes sociais, o pároco de Souzânia, Distrito Administrativo de Anápolis, foi processado e condenado por promover propaganda eleitoral irregular
Por Vander Lúcio Barbosa
Claudius Brito
Natural de Itumbiara e criado na localidade de Corumbaíba, o padre Genésio Lamunier Roams acabou meio que virando uma celebridade, embora ele próprio afirme não se sentir a vontade com esse tipo de notoriedade.
Falante e extrovertido, o religioso virou centro das atenções nas eleições deste ano, após ter dito que era petista e foi “curado”. Ele acabou envolvido num embate com o candidato à Prefeitura de Anápolis, o ex-prefeito de Anápolis, Antônio Gomide, do Partido dos Trabalhadores, em quem chegou a votar por duas vezes, antes da “cura”.
Acabou sendo processado pela coligação do candidato, que pediu uma indenização de R$ 20 mil. O Ministério Público Eleitoral opinou que o valor seria de R$ 8 mil. A decisão ficou a cargo do Judiciário. O Juiz Carlos Limongi, no entanto, o condenou ao pagamento na ordem de dois mil reais, um valor mínimo, segundo consta na legislação, para o infrator que promove irregularmente a propaganda política eleitoral, de acordo com a decisão do magistrado.
Na última sexta-feira, 30/10, padre Genésio esteve presente em uma solenidade de homenagem ao deputado federal Major Vitor Hugo, na sede da Companhia de Policiamento Especializado.
Chamou logo a atenção pelo seu jeito falante e foi bastante solicitado para fazer fotos com várias pessoas que estavam no local. Ele fez o ato de benção junto com o pastor evangélico Jander.
Após o evento, padre Genésio conversou demoradamente com o Portal CONTEXTO sobre sua vida, sobre a “fama”, sobre a repercussão de seus posicionamentos junto à igreja e, claro, sobre a “cura”.
Seminarista
O religioso contou que por seu jeito “franco, aberto e correto” chegou a ser incompreendido quando entrou para o seminário. E, em razão disso, a sua permanência de formação acabou durando cerca de 16 anos, mais ou menos o dobro do normal. Neste período, ele relata que se dedicou aos estudos.
O pároco conheceu, na sua jornada, o trabalho das Comunidades Eclesiais de Base (CBS), que muitos consideram um “braço” da esquerda na Igreja Católica. E, pelo menos duas vezes ao longo do diálogo, ele fez considerações acerca da leitura marxista da Bíblia.
Hoje, porém, ele não consegue enxergar uma identidade da religião com o comunismo, um regime que na sua avaliação cria um mundo de opostos, de um lado os dominadores e, de outro, os dominados; de um lado os opressores e, de outro, os oprimidos. “Deus nunca criou hierarquia”, sintetizou.
Pecado
Questionado que suas atitudes estariam relacionadas a um pecado ou a doença, como ele mesmo definiu seu relacionamento com o PT, padre Genésio afirmou: “para nós o pecado às vezes é como doença”. O religioso disse que era como uma “lavagem cerebral”
Hoje exercendo as suas atividades no distrito de Souzânia, padre Genésio brinca: “Fui para lá buscar a paz e olha o que eu encontrei”, disse, referindo-se à polêmica criada com a história da “cura” do PT. Ele, entretanto, diz que não se arrepende de nada. E, ainda, dá a receita para a “cura”: “mínimo de honestidade, conhecimento intelectual, boa vontade no coração e busca da verdade”.
Perguntado se externa os seus posicionamentos por paixão, padre Genésio preferiu usar o termo “compaixão” e destaca que o alvo nem é Gomide e nem o PT mas, sobretudo, assegura ele, é proteger de uma ideologia que leve as pessoas ao atraso.
Padre Show
Padre Genésio assinala que não é a favor de “padre pop”. Sobre a exposição na mídia, ele frisa que toda vez que fala alguma coisa [sobre política] não fala enquanto instituição, quanto Igreja. “Falo como cidadão que paga impostos e tem um CPF”.
O pároco diz que aonde está, sempre é cercado de pessoas batendo à sua porta pedindo comida, pedindo emprego, pedindo saúde. “Seria bom se pudéssemos contar com gestores públicos para atender essas situações”, pondera, acrescentando não entender porque as questões políticas ainda são tratadas com tanto tabu no meio religioso.
Inspirações
“Não estou a serviço de ideologia”, enfatiza padre Genésio, que não esconde ter simpatia pelo presidente Jair Bolsonaro e nem daquele que foi considerado o “guru” dos bolsonaristas, o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, de quem, até, recomenda a leitura do livro: “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”.
Questionado se alguém o inspira, padre Genésio externou ter profunda admiração ao Bispo Diocesano de Anápolis, Dom Manoel Pestana Filho, que faleceu em 2011, aos 82 anos de idade. “Nós nunca vamos conseguir agradecer a ele, como ele merecia”, pontua, dizendo que outra fonte de inspiração é São Tomás de Aquino.
Papa
Sobre o Papa Francisco, que tem adotado um discurso mais liberal da Igreja Católica, padre Genésio externou que tem profundo respeito pelo Santo Padre, entretanto, diz que essa avaliação não pode ser distanciada do conjunto, ou seja, dos papas que o antecederam.
O religioso, até, fez questão de fazer citação de uma frase que diz gostar muito do Papa Francisco: “O homem é o único animal que cai duas vezes no mesmo lugar”. E, para não perder o costume, emendou: “Não vamos cair de novo no mesmo lugar”. Para o bom entendedor, a frase tem endereço.
Justiça
Sobre o processo que foi movido contra a sua pessoa, padre Genésio assegura que não agiu contra a lei eleitoral. O que ocorreu é uma questão de interpretação que, segundo ele, a Justiça irá fazer. E reiterou que não se arrepende, porque está fazendo o uso da liberdade de expressão, que é um direito do cidadão.
Para o religioso, a igreja é um lugar de cura e que, muitas vezes, a causa de um enfermidade está na tristeza, no cerceamento de uma comunicação. “Temos que nos mover pelo equilíbrio”, argumenta.
Farpa
Ao final da entrevista, ele sugeriu falar sobre “o incômodo de ter um petista em casa”. Ele próprio respondeu, que seria por “falta de conversa, falta de diálogo e porque quem confronta se torna um inimigo, acima de tudo está a bandeira vermelha”, dispara e acrescenta: “é por isso que falo que é doença”.
PERFIL
Genésio Lamunier Roams
Condição: Sacerdote
Data da Ordenação: 13/05/2005
Data de Nascimento: 28/01/1974
Naturalidade: Itumbiara – GO
03/08/2004 – Diácono Cooperador nas Paróquias: São Benedito, Nerópolis; Nossa Senhora do Carmo, Nova Veneza; São Sebastião, Ouro Verde; – 2006– Vigário Paroquial da Paróquia Sto. Antônio, Cocalzinho de Goiás – GO;– 03/02/2007 – 2008– Administrador Paroquial da Paróquia Imaculado Coração de Maria e S. Judas Tadeu, Jaranápolis – GO;– 12/01/2009– Vigário Paroquial da Paróquia S. Francisco de Assis, São Francisco de Goiás – GO;– 22/08/2011 – Administrador Paroquial da paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, Terezópolis – GO.
(Os dados do perfil foram extraídos do site da Diocese de Anápolis)