A boa notícia é que, embora não esteja em situação confortável, a Região Pirineus, onde fica Anápolis, conta com uma estrutura que só perde para a região Central, onde está Goiânia. Além disso, investimentos estão em curso parareforçar o sistema de atendimento
O Instituto Mauro Borges (IMB), ligado à Secretaria de Estado da Economia publicou, recentemente, um estudo denominado: “Necessidades de Infraestrutura do SUS em Preparo à COVID-19: Um recorte para as regiões de saúde de Goiás”. O responsável técnico pelo trabalho é o pesquisador Paulo Jakson Bezerra Viana.
O estudo tem como referência a Nota Técnica 03, do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde, intitulada: “Necessidades de Infraestrutura do SUS em Preparo à COVID-19: Leitos de UTI, Respiradores e Ocupação Hospitalar” e traz um conjunto de exercício e empíricos, ou seja, baseados em experiências e observações, com o objetivo de contribuir para o dimensionamento e a alocação de recursos hospitalares para o combate à Covid-19.
A Nota Técnica 03 levantou informações sobre leitos de UTI, regiões vulneráveis considerando uma combinação entre leitos de UTI e mortalidade por condições similares à COVID-19 e, ainda, foram projetadas as taxas de ocupação dos leitos de UTI adultos no SUS, considerando diferentes proporções de população infectada por COVID-19 em um determinado período de tempo. Essas informações foram apresentadas para as regiões de saúde no Brasil. A mesma metodologia foi aplicada pelo IMB para fazer o recorte de Goiás.
Para chegar aos números, foram utilizadas as bases de dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES (Janeiro de 2020, ao nível dos estabelecimentos de saúde), os microdados do Sistema de Informações Hospitalares – SIH (2019), Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM (2018), Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Foram analisados, principalmente, os dados de leitos de UTI adultos no SUS, respiradores e ventiladores disponíveis para o SUS.
Para o parâmetro, foram utilizadas as quantidades dos equipamentos aos requisitos mínimos listados em portarias do Ministério da Saúde. Foi ressalvado que esses parâmetros se referem a um ano típico, sem o impacto da COVID-19. Ao longo do texto, é utilizado o termo de dados do SUS por 100 mil “usuários”. O usuário SUS é a estimativa populacional deduzida dos beneficiários de planos de saúde.
Inicialmente, o IMB aponta que o número total de leitos de UTI adultos em Goiás é de 15 vagas por 100 mil habitantes. Seis regiões de saúde apresentam um número de leitos acima do mínimo recomendado, que são 10 por 100 mil habitantes, segundo Portaria do Ministério da Saúde.
“Mas, ao diferenciar leitos de UTI no SUS e leitos de UTI privados e seus respectivos usuários, nota-se que há uma disparidade entre a quantidade de leitos disponíveis para o público exclusivo do SUS, e os disponíveis para os beneficiários de planos de saúde. Essa disparidade, também, aparece entre as regiões de saúde”, destaca o Instituto.
Ventiladores
No estudo do IMB, consta uma tabela com o número de absoluto e a taxa por cem mil habitantes de ventiladores/respiradores, equipamentos essenciais para tratamento de pacientes com agravamentos provocados pela Covid-19. No total, o Estado conta com 1.285 equipamentos e a taxa por 100 mil habitantes é de 22.
A região central, onde está a Capital (Goiânia), concentra quase que a metade do quantitativo de aparelhos: 672 (taxa de 49,94/100 mil habitantes). Na região Centro-Sul, há 151 equipamentos, com taxa de 18,58/100 mil habitantes. Já na região Pirineus, onde está Anápolis – que é referência para essa região – foram contabilizados 105 ventiladores/respiradores, com taxa de 23,86/100 mil habitantes. Agora, o contraste: nas regiões Nordeste I e II, o número de equipamentos é de 02 e 05, e as taxas de 4,48 e 4,92/100 mil habitantes, respectivamente. Nas regiões Norte e Rio Vermelho, o número de equipamentos é de 08, com taxas de 5,35 e 4,20/100 mil habitantes, respectivamente.
Ao fazer a confrontação de ventiladores/respiradores versus leitos de UTI do SUS (por cem mil usuários), o estudo do IMB concluiu que, apenas duas regiões, a Central e a Pirineus atendem ao padrão de 10 leitos por 100 mil usuários SUS. “Ou seja, indica que em período de normalidade já há 16 regiões de saúde abaixo dos parâmetros mínimos necessários de leitos SUS”, aponta o relatório.
A Nota Técnica nº 3 do IESP, conforme o IMB, para identificar regiões de saúde especialmente vulneráveis no Brasil, utilizou dois parâmetros: o número de leitos abaixo de 100 mil usuários e valores acima da mediana nacional da taxa de mortalidade por doenças respiratórias selecionadas em 2018, similares com a COVID-19.
Cenários
Outro recorte produzido foi em relação à ocupação dos leitos UTI adulto no SUS e possíveis cenários de avanço da COVID-19. Para tal, foi calculada a quantidade de hospitalização-dia por leito UTI adulto em 2019, e esse foi utilizado como ano base. Em seguida, foram criados cenários sobre a proporção de infecção na população, considerado que 5% dos infectados necessitariam de internação em leitos UTI.
Conforme o levantamento, no ano base, as regiões que possuíam leitos de UTI adultos, tinham uma mediana de ocupação de 56% e, em algumas regiões mais populosas, chegando à casa de 70% a 85% de taxa de ocupação.
No cenário base, com 20% da população infectada, e 5% dos infectados necessitando de cuidados em UTI por, apenas, cinco dias, “todas as regiões de saúde ultrapassariam a taxa de ocupação de 100%, sendo que nove regiões necessitariam mais que dobrar o número de leitos-dia”, alerta o estudo.
Pirineus
Analisando o mesmo cenário, na região Pirineus, onde está Anápolis, por exemplo, a taxa de ocupação poderia passar da casa de 70% a 85% para mais de 200%. Na região São Patrício I, a taxa poderia ultrapassar os 600%.
Em um contexto de desaceleração de infecção com 20% da população infectada, com uma mudança de 12 para 18 meses como período de contágio, a quantidade de regiões que necessitariam dobrar o número de leitos passaria de nove para cinco. Porém, ainda próximos de 200%. Num cenário contrário em que o período de contágio passasse de 12 para seis meses, todas as regiões necessitariam mais que dobrar o número de leitos UTI adulto.
“Outro exercício realizado foi para responder à seguinte pergunta: qual a taxa de infecção populacional por região de saúde necessária parar levar a taxa de ocupação hospitalar para 100%?”.
Para Goiás, oito regiões de saúde necessitariam de uma taxa de infecção menor que 10% para ocupar 100% de sua capacidade de internação em UTI adulto SUS”, revelou o estudo.
“Os cenários realizados apresentam uma rápida extrapolação de disponibilidade da infraestrutura do SUS e, com isso, a necessidade de se pensar em meios alternativos de absorver a demanda que pode ser gerada”, orienta a pesquisa, destacando que além dos leitos e respiradores/ventiladores, há outras necessidades, que não são objeto da pesquisa, tais como equipes especializadas, infraestrutura e insumos específicos, além da disponibilidade e manutenção dos leitos para se receberem os pacientes.
O IMB ressalta que, em Goiás, iniciativas estão sendo tomadas para o atendimento da demanda e expectativa de possíveis internações com os pacientes de Covid-19, sendo um dos exemplos o HCamp implantado em Goiânia, no Hospital do Servidor, além de outros hospitais de campanha que estão sendo providenciados em diferentes regiões de Goiás.
Gargalos
O estudo avalia que o combate à pandemia do Coronavírus, tem levado vários países a adotarem medidas emergenciais, não sendo diferente no Brasil, em nível federal, estadual e municipal. No Brasil, entretanto, há algumas barreiras e gargalos relacionados à escassez de insumos (como álcool em gel, máscaras e EPIS (equipamento de proteção individual) em geral para a área da saúde/hospitalar); a baixa oferta de exames e testes; infraestrutura de leitos de UTI, respiradores; procedimentos em relação ao óbito/enterro e a necessidade de recursos humanos especializados.
Essa realidade, entretanto, não é exclusiva do Estado de Goiás. Aliás, nenhum estado brasileiros demonstrou estar preparado para enfrentar um inimigo que, embora “invisível”, tem se mostrado muito podero. A situação de Goiás, até, é muito melhor do que a de outras unidades da federação.
Anápolis
O Município de Anápolis, por sua vez, também tem trabalhado para montar uma estrutura a contento para fazer o enfrentamento do novo coronavírus. A cidade tem cinco unidades de referência e um centro de Atendimento com 30 leitos de UTIs.
Com os investimentos que começam a caminhar de uma forma mais célere em Goiás, o horizonte para o combate da Covid-19 fica bem melhor do que o cenário demonstrado no estudo do IMB e, certamente, essa estrutura poderá ficar de legado, para a população goiana.