Em época de tanta polarização é comum encontrar pessoas que, por causa das opiniões divergentes – principalmente políticas -, não conseguem mais caminhar juntas porque se tornaram incapazes de entender o outro lado e dialogar.
A frase “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo” foi escrita por Evelyn Beatrice Hall no livro The Friends of Voltaire (1906). Ela resume a essência da tolerância e do respeito democrático ao prever a separação entre a ideia e a pessoa.
Ou seja, consigo separar o argumento da integridade da pessoa porque minha discordância é intelectual e não, pessoal! Critico a ideia, mas não desrespeito o autor dela. Por outro lado, a frase também demonstra compromisso com o Direito, já que o direito de o outro pensar e se expressar livremente é mais importante do que eu estar certo ou concordar. O princípio da liberdade é então superior à minha opinião.
Pensar e agir assim revela maturidade e demonstra que é possível aceitar que o mundo é melhor quando há pluralidade de ideias, mesmo que haja ideias contrárias.
Em um mundo que silencia quem pensa diferente, essa frase é um poderoso chamado à empatia e ao diálogo porque estabelece a regra de ouro para a convivência pacífica em qualquer sociedade livre.
Quando “concordamos em discordar”, revelamos respeito, reconhecemos limites, admitimos que a persuasão falhou e que não vamos mudar a opinião um do outro. No entanto, valorizamos a relação ao priorizarmos a manutenção do relacionamento (amizade, parceria, convívio).
É também uma forma de dizermos que opiniões diferentes não são uma ameaça, mas parte natural da vida. Elas são o ponto de equilíbrio para que pessoas com visões de mundo opostas coexistam em paz. É a essência da tolerância e do diálogo produtivo.
Quando não conseguimos “concordar em discordar,” a tensão entra em escalada e a comunicação civilizada, em colapso. A recusa em aceitar a discordância como parte legítima do diálogo transforma opiniões diferentes em ameaça existencial ou moral. A primeira vítima? A comunicação!
Quando a outra pessoa não aceita que sua visão diferente e válida, o objetivo da conversa muda. A recusa em reconhecer a legitimidade do ponto de vista divergente traz à tona o questionamento da integridade, da inteligência ou moralidade do outro. Isso é o início da desumanização, além de aumentar ainda mais a polarização e a intolerância.
Outro reflexo direto disso é a criação das “Câmaras de Eco”, nas quais as pessoas se isolam formando grupos em que todos pensam igual. Além de reforçar as próprias convicções, isolar-se numa ‘Câmara de Eco” aumenta a suspeita em relação a todos os que estão fora do círculo.
Assim, a diversidade de pensamento torna-se insuportável, levando à perda da capacidade de convivência. Em vez de focar nos valores e objetivos comuns, a energia é gasta no combate às diferenças e a relação se torna condicional: “Eu só convivo com você se você pensar como eu.”
É daí que nasce o ciclo do ressentimento, que por sinal corrói a confiança e os relacionamentos. O resultado é o colapso posterior ainda mais doloroso, já que o desentendimento vira julgamento. O problema deixa de ser a ideia e passa a ser a pessoa. A honestidade morre e a relação se torna superficial e tensa!
Diante disso, vale pensar em uma das máximas da tradição cristã – que por sinal estabelece uma hierarquia de valores fundamental para a coexistência pacífica e saudável dentro de qualquer comunidade de fé.
A frase original em latim é: “In necessariis unitas, in dubiis libertas, in omnibus caritas.” Trocando em miúdos: “Nas coisas essenciais, unidade; nas duvidosas, liberdade; em todas as coisas, caridade/amor.” É uma formulação que, em essência, traduz perfeitamente a sabedoria desse princípio que tanto precisa ser colocado em prática nos dias de hoje!
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