Um caso atípico movimentou o plantão policial no último domingo, 12. O médico neurocirurgião Paulo Roberto Taveira foi detido e colocado dentro de uma viatura da Companhia de Policiamento Especializado (CPE, antigo GOE), no Hospital de Urgências, onde trabalha. A detenção teria sido feita a pedido do, também, médico Afonso Henrique Teixeira Magalhães, diretor do Hospital Municipal, com a justificativa de que o colega havia negado atendimento a dois pacientes graves que chegaram ao Hospital Municipal “Jamel Cecílio” (HMJC), vítimas de acidente. Um com traumatismo encefálico-craniano acompanhado de hemorragia e o outro com acidente vascular cerebral e precisavam de atendimento especializado.
O neurocirurgião Paulo Taveira relatou o fato em sua página de relacionamento no Facebook. Segundo ele, no domingo, estava no Hospital de Urgências prestando assistência a uma criança vitimada em um acidente de trânsito na BR-414, sendo que, no sinistro, o pai da criança viera a óbito, devido à violência da batida. O médico disse que teve de interromper o atendimento com a abordagem feita pelo Tenente Valente, da CPE, o qual ordenou que fosse colocado incomunicável dentro da viatura por cerca de meia hora, fato este – destacou o médico, em entrevista na manhã de quinta-feira, 16, à Rádio Manchester – presenciado por vários de seus colegas no hospital, por funcionários e pacientes, causando-lhe grande constrangimento.
Paulo Taveira assinalou que a ordem ao policial partiu do médico Afonso Magalhães e disse estranhar o fato de o policial receber ordem do profissional. “Ainda não sei qual é a íntima e personalíssima amizade entre os dois”, declarou o médico no site de relacionamento. Aos 56 anos de idade, Taveira conta que nunca passou por situação semelhante e que, no dia do acontecimento, não teve mais condições de trabalhar, foi para casa e trancou-se no quarto. Devido ao seu estado, teve de ser medicado e, só então, narrou o que aconteceu para os seus familiares.
Na entrevista à emissora de rádio, Taveira informou que conversou com outro médico do Hospital Municipal acerca dos dois pacientes e que após atender a criança cuidaria do caso, já que o da menina era, também, grave. O médico disse que o colega chegou com os policiais falando em tom de voz alterada e queria levá-lo ao Hospital Municipal. “Ele ficou bravo, falando que eu estava fazendo galhofa com ele”, relatou, acrescentando que não teve ao menos a oportunidade de usar o telefone celular para buscar auxílio. “Já fui diretor do Hospital Municipal, secretário de Saúde do Município e nunca vi uma coisa dessa”, ponderou.
O caso foi parar na polícia e rendeu um Termo Circunstanciado de Ocorrência no 5º Distrito Policial, sob o comando do delegado Álvaro Cássio, que responde também pela 3ª. Regional da Polícia Civil. Ele informou que irá ouvir outros médicos e funcionários do Hospital de Urgências e depois os demais envolvidos, no caso, os policiais que fizeram a abordagem e o diretor do Hospital Municipal, para a instrução do inquérito policial. Paulo Taveira revelou que pretende também levar o caso à Justiça e ao Conselho Regional de Medicina.
Outro lado
Também em entrevista à Rádio Manchester, o médico Afonso Henrique Teixeira Magalhães Issa, diretor do Hospital Municipal, deu a sua versão ao fato, relatando que os dois pacientes chegaram à unidade apresentando traumatismo encefálico e acidente vascular cerebral, sendo que em casos como este, o procedimento é encaminhar para a unidade de referência, ou seja, o Hospital de Urgências. Conforme disse, não houve e não há “nenhum problema institucional com o Hospital de Urgências, mas um problema pontual com o médico Paulo Taveira” que, conforme argumentou, negou-se a receber o encaminhamento dos pacientes que corriam risco grave de morte, para fazer a avaliação presencial.
O diretor do HMJC destacou que os pedidos haviam sido encaminhados há 24 horas e, portanto, antes do caso com a criança, “que ele tinha mesmo de atender, mas poderia fazer depois”. O médico Afonso Henrique afirmou que não deu ordem de detenção do colega, mas que pediu orientação para que a polícia interviesse diante daquela ocorrência “de omissão de socorro”. Para ele, Paulo Taveira, ao se recusar a fazer a avaliação presencial dos pacientes, como profissional especializado, estaria infringindo o Código de Ética Médica. Também, disse que o médico que atendeu aos pacientes, Dr. Caio, fez um relatório em que afirma a negativa. “Fui pedir atendimento, não fui prender”, defendeu-se. Afonso Henrique salientou que vai prestar todos os esclarecimentos que forem necessários e que vai cooperar para a elucidação desse caso, que ganhou ampla repercussão pela imprensa, por envolver dois profissionais da área médica. “A população é que não pode ser prejudicada. Ela tem de ser atendida de direito e de forma digna”, pontuou.
Reunião
Ainda na quinta-feira, 16, o secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Teixeira, teve um encontro com o comando da CPE e com o Tenente Valente. Este solicitou que nenhuma informação fosse dada, uma vez que prestará todos os esclarecimento acerca do fato em juízo. O secretário ressaltou que o diretor do Hospital Municipal “Jamel Cecílio” é um profissional que tem extremo zelo com o Hospital e com os paciente e que o mesmo conta com o seu apoio e irá aguardar os desdobramentos do caso.