A Polícia Civil instaurou 36 inquéritos para investigar crimes envolvendo 54 vítimas, a maioria de homicídio, na Operação Malavita (palavra italiana que significa marginalidade, submundo). Os crimes ocorreram desde 2011. O titular da Delegacia Estadual de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO), Alexandre Lourenço concedeu entrevista coletiva na quinta-feira,30, para detalhar a operação.
A ação foi desencadeada no dia anterior, quarta-feira, 29, pelas polícias Civil e Militar em parceria com a Força Nacional e o Ministério Público de Goiás, para combater crimes de extorsão; homicídio; sequestro, tortura e ameaça com envolvimento de agentes públicos. A maioria das ações ocorreu em Anápolis, mas houve prisões em Alvorada do Norte e Posse.
Segundo informações do MPGO, foram cumpridos 20 dos 23 mandados de busca, apreensão e prisão expedidos, sendo 13 contra policiais militares, 04 contra policiais civis e 03 contra cidadãos. O desenvolvimento da operação está sendo acompanhado por promotores das comarcas envolvidas e do Grupo de Controle Externo da Atividade Policial (GCEAP).
A DRACO começou a participar das investigações a partir do desaparecimento, em 17 de junho de 2013, de Eamon Pinheiro de Lima, ocorrido em um posto de gasolina em Anápolis. “Com o desaparecimento dessa vítima, todas as testemunhas ligadas ao fato foram eliminadas”, pontua Alexandre Lourenço.
De acordo com o delegado adjunto da DRACO, Adriano Sousa Costa, a comprovação da participação de agentes públicos na organização criminosa foi identificada a partir do modus operandi. “Eles têm uma organização tática muito semelhante a forças policiais. Se aproximam do alvo, promovem o adentramento, sempre gritando palavras de ordem geralmente utilizadas pela polícia, com armamento similar, inclusive de uso restrito das forças policiais. Já dentro dessas residências, promovem extorsões, sequestros e homicídios”, explica. Segundo ele, foram essas características que possibilitaram que a polícia conectasse todos os indivíduos em um contexto mais organizado. O delegado Alexandre Lourenço afirma que há, pelo menos, outras seis vítimas de homicídio a serem incluídas nos inquéritos. Duas pessoas estão foragidas. As investigações continuam.
Em entrevista a uma emissora de rádio local, o coronel Wilson Brasil Pinheiro Tavares, responsável pelo 3º Comando Regional da Polícia Militar, informou que estão sendo investigados 11 policiais militares dentro da jurisdição, sendo 08 de Anápolis e 03 lotados em outras três localidades pertencentes à jurisdição do 3º CRPM. Os envolvidos que cumpriram mandado de condução coercitiva já foram ouvidos e liberados e os demais ficaram detidos. Até o fechamento da edição, não houve informações precisas sobre a possível soltura daqueles que tiveram mandado de prisão temporária.
Invasão de quartel
O comandante do 3º CRPM desmentiu, também, o boato de que teria ocorrido uma “invasão” nas sedes do 4º e do 28º Batalhão. Conforme narrou, toda a operação foi acompanhada por oficiais da PM e membros da Corregedoria, que atuaram no cumprimento dos mandados judiciais de forma “legítima e legal”.
O delegado regional da Polícia Civil, Álvaro Cássio, também, falou sobre a operação e, segundo ele, dos cinco detidos, três já haviam sido colocados à disposição da Superintendência Judiciária e, portanto, não estavam atuando na Cidade e um dos acusados, ele confirmou que não era policial civil, mas, dono de um lavajato no Município.
Todos os envolvidos na operação, segundo os comandantes da PM e da Polícia Civil, devem ficar afastados das funções enquanto durarem as investigações. Para o delegado Álvaro Cássio, o caso não deve manchar a polícia, uma vez que partiu dela própria a ação de retirar de seus meios os policiais com desvios de conduta.
Sobre a ligação dos PMs com o desaparecimento de pessoas em Anápolis, o comandante do 3º CRPM afirmou que não há como, ainda, fazer qualquer ligação neste sentido, muito menos, sobre a possível existência de um grupo de extermínio. Esta última hipótese, de acordo com o Coronel Wilson Brasil, está praticamente descartada. Pode, sim, terem ocorridos fatos isolados, mas não uma ação nesse nível. (Com informações do site Goiás Agora e do MPGO)