O morador de rua é um “problema social” ou uma “consequência” do descaso? O comportamento humano diante dos excluídos ou dos marginalizados, pode ser entendido e acompanhado de várias formas, mas há dificuldades nas tentativas da sociedade em mitiga-la ou finda-la.
Sob o aspecto antropológico, com base no estudo da cultura e os modos de vida dessa população por meio da etnografia, é essencial entender a realidade por dentro, por meio de suas próprias perspectivas e experiências.
Uma abordagem empática sobre essa realidade desmistifica o estigma, revela a complexidade da vida nas ruas, os desafios enfrentados, as rotinas e regras sociais, e a criatividade para “se virar” para conseguir sobreviver. Deve ser considerada a relação com a sociedade, a exclusão social e a estratégia para enfrentar o dia-a-dia.
Em 2021 pela Revista Brasileira de Sociologia do Direito divulgou estudo sobre os fatores: relações familiares, habitação e ocupação urbana, o quadro de violência, o problema da dependência química, da imigração, das crises sanitárias, o capitalismo, a pobreza e o desemprego.
A conclusão das investigações de caso revela que a situação de rua é um fator limitador no aspecto social, cria privações, restringe liberdades e reduzem possibilidades de escolha. Entretanto, esse conceito não pode ser justificativa para a “ineficácia administrativa de cumprimento dos direitos sociais da população de rua […]”.
Dados sobre a população em situação de rua disponíveis no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (Cadastro Único ou CadÚnico), coletados pelo Ipea, divulgados em 11 de dezembro de 2023, apontam situações como exclusão econômica, dimensão que envolve o desemprego, a perda de moradia e a distância do local do trabalho.
No campo filosófico, o francês Paul-Michel Foucault (1926-1984), por meio do pensamento que denominou ‘Estética da Existência’ trata da relação entre poder e conhecimento, e como eles são usados como uma forma de controle social por meio de instituições sociais.
Para o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) perpetua a tese de que tudo que fazemos é para sermos felizes. No entanto, a infelicidade pode acontecer em qualquer momento da vida por vários motivos. Para ele, o mau uso da razão, que guia as nossas ações e escolhas, pode incorrer em infelicidade. Outros motivos são: a má sorte e os acidentes involuntários de percurso.
E chegamos aos aspectos da fé cristã. De acordo com os Evangelhos, Jesus ensinou que, diante de pessoas marginalizadas, deve-se agir com compaixão, misericórdia, serviço e inclusão, indo contra as normas sociais e religiosas da época que as excluíam. Demonstrou compaixão ao se aproximar e tocar pessoas que eram consideradas impuras ou excluídas pela sociedade, como os leprosos.
Em essência, a mensagem de Jesus é um chamado à misericórdia ativa e universal, desafiando a discriminação e a exclusão, e enfatizando a dignidade intrínseca de cada pessoa. Jesus ensinou que, diante de pessoas marginalizadas, incluindo aquelas envolvidas com crime ou drogas, a atitude deve ser de misericórdia, acolhimento e oferta de transformação, sem, contudo, aprovar o pecado ou o comportamento destrutivo.
“Se você mata uma barata, você é um herói. Se você mata uma borboleta, você é mau. A moral tem critérios estéticos. […] Nós não julgamos pelo valor real das coisas, mas pelo seu brilho. O belo é santificado. O feio é condenado. A borboleta é celebrada porque voa graciosamente, porque nos agrada. A barata é desprezada por que desperta repulsa. A moral, então, não nasce da justiça. Nasce do gosto. O humano não aprendeu a amar o que é verdadeiro, mas aquilo que é agradável aos seus olhos. Assim, chama de bondade o que lhes entrega prazer. E de maldade o que lhes provoca incômodo. […] Cuidado quando falar sobre o bem e o mal. Antes de julgar, pergunte a si mesmo: estou julgando pela essência ou apenas pela aparência. […] Desconfiem da moral que se veste de pureza, porque ela pode apenas vaidade. É preciso coragem para enxergar valor, onde o olhar comum vê apenas feiura. A verdadeira transvaloração começa quando você rompe com o gosto da maioria e aprende a ver com seus próprios olhos”. (@esteticadaexistencia)
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