Ao visitar a redação do Jornal Contexto na terça-feira, 13, o ex-prefeito de Goiânia, Íris Rezende Machado, candidato a Governador nas eleições de outubro, disse que está se preparando para o maior desafio político de todos os tempos. Ele assegurou que já enfrentou problemas bem maiores e que a diferença entre ele e Marconi Perillo (candidato do PSDB) nas pesquisas de opinião pública não o amedrontam. Íris assegurou que tem grande apreço por Anápolis e que pretende desenvolver um trabalho diferenciado no Município. Ele foi sabatinado pela equipe do Jornal por durante 40 minutos.
Contexto – Como é este regresso, em campanha, a Anápolis?
Íris Rezende – Na verdade, desde que assumi a condição de candidato a prefeito de Goiânia em 2004, fiquei restrito a Goiânia. Então, me dediquei de corpo e alma à Administração Municipal. E tem que ser assim. Se não, a essa altura da vida qual seria a imagem que eu deixaria para a juventude? Porque os jovens não se lembram do meu sistema de trabalho quando fui governador. Todavia, eu nunca negava, mas nunca afirmei que deixaria a Prefeitura para me candidatar ao Governo.
Contexto – Como está sendo a experiência, agora, nesta parceria com o PT?
Íris Rezende – Eu disse numa reunião com as lideranças do PT que estudava uma estratégia de campanha para as próximas eleições, lideranças mais ligadas ao ex-prefeito Pedro Wilson. Lá estavam prefeitos do PT e candidatos a deputado estadual: – Olhem, vocês notaram o meu estado de espírito, eu hoje sou um homem super alegre, estou engajado, de corpo e alma, com o PT e com o PC do B, por que são partidos que se movem por um ideal, uma ideologia política, partidos que nunca os viu metidos em negociatas de apoios ou alianças. É um processo construído ao longo de algum tempo. É claro que em determinado tempo se radicalizaram PMDB e PT, mas eu tive um gesto à frente que foi apoiar o Presidente Lula no primeiro turno. Foi o único diretório estadual do PMDB do Brasil à época. Nós apoiamos a eleição do prefeito Pedro Wilson no segundo turno eleitoral. E, apoiamos, de novo, o Presidente Lula no segundo governo. Então, foi um processo lento, mas muito seguro.
Contexto – Em 82 o mesmo grupo, que seria mais tarde o PT, esteve com o senhor. Também depois, em 86, um grupo que saiu do PMDB para fundar o PT em Goiás. O senhor vê uma volta à casa de estar junto nessa aliança? E que diferença tem daquele período em 82 e agora?
Íris Rezende – Eu disse na reunião com as lideranças: – estou satisfeito por que nós, embora afastados durante algum tempo, somo “farinha do mesmo saco”. Quer dizer, nós começamos juntos na luta pela redemocratização do Brasil até que, já com a abertura, veio a extinção das duas entidades – Arena e MDB – e voltou-se a permitir o pluripartidarismo.
Contexto – Qual seria a diferença então a diferença da candidatura do senhor e de outros partidos desse mesmo tronco ideológico?
Íris Rezende – Indiscutivelmente, muita água passou por debaixo da ponte neste período. Mas em se tratando de PMDB, partido de oposição, perdemos três eleições para governador. O PT, também, ficou fora como partido de oposição até que o Presidente Lula se elegeu. Então, são partidos que continuaram e se consolidaram na oposição. Não é a luta do poder pelo poder. Os que queriam o poder a qualquer custo, saíram. Então, hoje é o PMDB, o PT e o PC do B que são três partidos que se unem com um objetivo de luta, de melhoria de qualidade de vida do nosso povo. Logo que saiu a minha disposição de candidatar à reeleição para prefeito, eu fui procurado por um representante de três tendências do PT que me fez duas indagações em nome desse grupo: se eu tinha interesse em uma aliança com o PT. E pedi que ele fizesse a outra pergunta, e o representante indagou se eu daria a vice ao PT. Eu respondi que não precisaria me aliar a partido algum para ganhar a reeleição, porque tinha consciência do trabalho que estava realizando, assim como o Antônio Gomide (prefeito pelo PT) está fazendo em Anápolis. Mas afirmei que queria a aliança cedendo a vice e expliquei: – é porque nessa fase da minha vida, quero começar um novo projeto político para Goiás e, por que o PT tem quadros formidáveis: técnicos, sociólogos, enfim, políticos que praticam a política por vocação e por dom. Aceitei, então, a participação do PT e de outros partidos.
Contexto – Quando o senhor foi governador, o Estado de Goiás tinha um orçamento de 30 a 40 milhões de reais (70 milhões, corrigiu o entrevistado). Hoje Goiás tem um orçamento acima de um bilhão, mas com uma capacidade de investimento de pouco mais de um por cento. Então fazendo essa correlação, o que o senhor poderia fazer em termos de mudanças e que não pode ser feito na ocasião?
Íris Rezende – Parece uma sina. Sempre assumi a chefia de Poder Executivo em situação de calamidade. Quando me candidatei à prefeitura de Goiânia, em 1965, já em plena ditadura, eu não poderia contar com o Governo Federal. Recebi as contas com 10 meses de atraso no salário dos funcionários, a cidade tomada de buracos. Me perguntavam o que iria fazer e me lembrei dos mutirões que faziam na zona rural nos finais de semana para ajudar os vizinhos e, então, trouxe os mutirões para a cidade. Na época, nem os professores, nem os jornalistas, ninguém, conhecia a palavra mutirão. E foi um sucesso. Não demorou muito e uma revista de maior tiragem naquela época (Realidade) destacou sete páginas para aquele sistema administrativo. E, Anápolis é testemunha disso: fizemos o Fomentar (programa de incentivos fiscais); estruturamos o Daia; construímos a estação rodoviária que estava uma carcaça abandonada há muitos anos; resolvemos o problema da água em quatro anos. Ficou faltando o Bairro de Lourdes e alguns adjacentes; a cidade tinha um curso superior e nós criamos mais sete; criamos a Universidade Estadual de Anápolis (Uniana), que o meu sucessor (Marconi Perillo) não aceitou o nome e passou para Universidade Estadual de Goiás, para que se pensasse que tudo que tinha nessa área de ensino era criação dele, quando tudo começou na nossa administração. Quando eu disse em Goiânia num debate que iria asfaltar todas as ruas da cidade, meus adversários reagiram de pronto, que aquilo era enganar o povo. 132 bairros sem asfalto, quase 40% da população. Eu dizia que estavam me subestimando. E cumpri o prometido. Quando, então, anunciei que iria renunciar ao mandato para concorrer ao Governo, disse que o faria porque o estado se encontra numa situação aflitiva, preocupante. Se fosse, pelo menos, regular eu não deixaria a prefeitura.
Contexto – O senhor já definiu juntamente com o PT, nessa aliança, qual será a linha da campanha? O senhor pretende adotar uma estratégia de mostrar esse trabalho ou, também, trazer outras questões a público como os problemas da Celg, do déficit do Estado que estão no centro dos debates?
Íris Rezende – Nós fizemos uma reunião com os dirigentes, com candidatos a deputado estadual e federal, exatamente para isso. E nós entendemos que temos o dever de mostrar a situação do Governo Estadual, na área da Celg, Saneago, na área de infra-estrutura com as nossas rodovias que estão todas desmoronando, a estrutura física da saúde, da educação. Vocês viram o Ministério Público requerendo a demolição de 60 prédios públicos do ensino, por que as crianças estão em situação de risco. Muita gente está achando, lá no Norte, que se fez muito aqui no Sul e a região Leste achando que se fez na Oeste e, na verdade, você não vê nada que essa gente tenha feito de desenvolvimento. Muito pouco.
Contexto – O senhor não acha que essa discussão vai levar a um acirramento da campanha?
Íris Rezende – Eu não tenho nada a esconder em minha vida. Nunca deixamos dúvidas à população, uma indagação qualquer sobre o meu trabalho, a minha vida. Tudo eu esclareço imediatamente.
Contexto – A população às vezes questiona o senhor que já foi prefeito, deputado, governador, senador, ministro, por que está entrando nessa disputa?
Íris Rezende – Quando me candidatei a prefeito de Goiânia em 2004, iniciei a campanha dizendo que gostaria de fazer a administração mais bela da minha vida. E, agora, digo, começando a campanha em Anápolis, que, eleito governador, quero realizar a melhor administração aqui no Estado e também uma bela administração para Anápolis, como governador.
Contexto – O senhor tem, também, que se preocupar com a questão da governabilidade. Caso seja eleito, essa questão também está sendo olhada dentro da estratégia da campanha?
Íris Rezende – Na convenção conjunta do PMDB, PT e PC do B eu disse aos convencionais: voltem às suas comunidades e encarem a responsabilidade, não apenas com a eleição do Governador, mas dos dois senadores e dos deputados estaduais e federais, porque não é justo que me coloquem no Governo e não me deem maioria na Assembleia, que não ponham os dois candidatos a senador da aliança: Adib Elias e Pedro Wilson para defenderem os interesses de Goiás e, não coloquem, na Câmara Federal, a maioria da nossa representação para que juntos, possamos defender os interesses do Estado de Goiás
Contexto – Qual a expectativa do senhor em relação à participação do prefeito Antônio Gomide na sua campanha?
Íris Rezende – É a melhor possível. Estou certo de que, quando o povo de Anápolis conhecer o comprometimento dele com o meu possível governo, Anápolis vai nos dar uma das mais emocionantes vitórias da sua história.
Contexto – O adversário do senhor no PSDB tem Anápolis como uma de suas principais bases eleitorais no Estado. O senhor pretende fazer um trabalho especial aqui na cidade, um contraponto?
Íris Rezende – Vou fazer de pessoa em pessoa, de bairro em bairro. Vou fazer o que for necessário para mostrar quem, realmente, no Governo, se preocupou com Anápolis. O povo vai entender que a minha preocupação foi, de longe, a maior.