O projeto de implantação do Aeroporto de Cargas era uma demanda da classe empresarial. Com isso, a Associação Comercial e Industrial (ACIA) contratou um projeto de implantação do aeródromo e o repassou ao Governo de Goiás, na gestão de Marconi Perillo.
Projeto visionário
Na época, do ponto de vista estratégico, era um projeto visionário, visto que se buscava também a implantação da chamada Plataforma Logística Multimodal, para a integração dos modais rodoviário, ferroviário e o aéreo e a implantação de uma estrutura de apoio logístico para compor esse hub de negócios.
Além do que, na época, também se trabalhava um projeto para que Anápolis pudesse receber uma espécie de sucursal da Zona Franca de Manaus.
Juntando-se a tudo isso, o município já contava (e conta), com uma das mais bem estruturadas estações aduaneiras do interior do país, o Porto Seco Centro-Oeste.
Assim foi concebida a iniciativa, com a aspiração de que o aeroporto seria um “pulo do gato”. E as condições, diga-se de passagem, eram favoráveis pela leitura da época.
A Plataforma Logística, infelizmente, um sonho acalentado pelo saudoso Capitão Waldyr O´Dwyer, não saiu do papel. A Ferrovia Norte-Sul só agora está em vias de entrar em plena operação na região.
E, de lá para cá, o mercado de aviação de carga também teve uma mudança de panorama, sobretudo, com a internacionalização do Aeroporto Santa Genoveva. Além disso, há também o fato de Anápolis estar próxima de Brasília, que também tem um aeroporto internacional que tem operações voltadas ao transporte de cargas aéreas.
Essas questões todas, é claro, devem ser colocadas no bojo do processo da possível privatização que, no momento, seria a melhor alternativa para que se possa dar continuidade ao projeto e fazer com que, de fato, o Aeroporto de Carga possa, literalmente, sair do papel e decolar.
Nova modelagem
Assim, dentro dessa perspectiva de privatização, ocorrerá a elaboração de uma modelagem de funcionamento que esteja em sintonia com o mercado. Afinal, nenhuma empresa fará investimento sem perspectiva de demanda e de retorno.
Entretanto, essa sinalização dada pelo prefeito Roberto Naves e pelo governador Ronaldo Caiado, pode, sim, abrir um novo horizonte ao projeto do Aeroporto de Cargas.
Apesar de tudo e isso conta muito, Anápolis tem uma situação estratégica diferenciada, pela sua localização geográfica, pela sua condição de polo fabril e comercial, por ter uma unidade da Força Aérea Brasileira e vários outros componentes que pendem a balança para o lado positivo.
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Se o projeto não foi bem costurado tecnicamente lá atrás, no seu início, não quer dizer que não possa dar certo agora. A ideia não pode ser desmerecida, contudo, a realidade agora é outra.
Histórico de problemas
No dia 29 de outubro de 2008, uma reunião histórica na Associação Comercial e Industrial de Anápolis (ACIA), marcava a entrega de um projeto para a Secretaria Estadual de Planejamento, visando a implantação no Terminal de Cargas no Aeroporto de Anápolis.
Mal sabiam os dirigentes da ACIA, os empresários e a população do Município que o projeto, considerado de vanguarda e estratégico para a economia não só de Anápolis, mas do Estado de Goiás, acabaria se transformando em uma “cabeça de burro enterrada”, uma expressão que popularmente faz uma analogia a coisas que nunca dão certo.
O projeto original foi entregue em 2008. Depois disso, passou-se mais de ano para que houvesse a licitação. A assinatura do contrato com a empresa vencedora do certame e o Estado ocorreu no dia 07 de julho de 2010.
Desde então, foram várias as mudanças naquela proposta que a ACIA havia encaminhado. O projeto cresceu e foi acoplado à Plataforma Logística, outra iniciativa – da mesma forma, idealizada nas melhores intenções – mas que, também, não saiu do papel.
Em 2010, o valor estimado da obra, conforme apurou o CONTEXTO na Plataforma GeoObras, do Tribunal de Contas do Estado de Goiás, era de R$ 94,1 milhões. Houve, depois, um aditivo de R$ 46, 5 milhões. Chegando, assim, a R$ 134 milhões. Porém, informações já amplamente divulgadas, apontam que os gastos chegaram na casa de R$ 300 milhões.
A obra foi por várias vezes alvos de investigação e foi judicializada, por conta de danos ambientais, sobretudo, na cabeceira da pista, com a degradação do Ribeirão Extrema.