O CONTEXTO trouxe, na edição anterior, um dado alarmante: 95% das vítimas de homicídio na cidade tinham alguma relação com o submundo do crime. A notícia repercutiu nas mídias sociais. Além da opinião dos leitores-internautas, o jornal procurou também a opinião de especialistas e de lideranças de diversos segmentos sociais para investigar a “raiz” da criminalidade em Anápolis .
Para o bispo diocesano de Anápolis, Dom João Wilk, “a escalada da violência é a tempestade que se intensifica, porque os ventos da destruição dos valores também estão aumentando. Portanto, a raiz da violência está na destruição e desagregação dos valores: da pessoa, da família, valores sociais, políticos, culturais, de respeito à natureza”.
“O uso de drogas, sem dúvida, aumenta a criminalidade. Contudo, ao invés de ir a essa relação causa-efeito, gostaria de ir a algo mais radical e muito mais positivo: o resgate da família e de seus valores como ajuda insubstituível para a nossa sociedade. O outro polo também é verdadeiro: a falta de família e de seus valores fragiliza o jovem e o deixa sem o fundamento necessário para conseguir resistir aos atrativos do mal”, analisou Dom João Wilk.
Cauby Moreira Pinheiro é diretor administrativo do Sanatório Espírita de Anápolis. Ele entende que uma das origens da criminalidade é “com toda a certeza, a desestruturação da família. Também a ausência do pai e da mãe do lar, porque estão buscando conquistas profissionais e financeiras para melhorar seu padrão de vida” ele citou também “a ausência da parte moral cristã no seio da família e da sociedade” e, ainda segundo ele, a ausência de Deus e da religião na vida das pessoas, têm levado algumas delas às práticas criminosas.
O tenente-coronel Wilson Brasil Pinheiro Tavares, responsável pelo 3º Comando Regional da Polícia Militar em Anápolis, “o Governo Federal teria que ter uma atuação mais firme” no combate ao crime. Ele acrescentou que, “a cada dia, mais jovens têm entrado no uso e consumo das drogas” e qualificou o sistema de leis brasileiro como “totalmente ultrapassado, frágil” e que “possibilita enxurrada de recursos”. E pontuou que existe a “quase certeza da impunidade” de crimes cometidos.
Pastor titular da Igreja Presbiteriana Pioneira de Anápolis, Weder Barbosa de Oliveira expressou que “é este distanciamento de Deus” um dos fatores que estão na raiz da criminalidade. “Eu penso que a primeira crise institucional é a crise familiar”, acrescentou, abordando que “a sociedade está ruim, porque a família está ruim”. Ele ainda citou problemas de ordem conjugal, financeiros, o fato dos pais não investirem emocionalmente nos filhos como razões que levam a “este desajuste nos filhos”. Outro assunto abordado foi uma crença da igreja, de que as pessoas podem ser regeneradas. Para ele, “isso não isenta a pessoa das suas mazelas passadas. Não é porque a pessoa passou pela regeneração, que ela não tenha que pagar pelos seus erros passados. Isso não a exime da culpa”, pontuou.
Itami Campos, doutor em Ciências Políticas, pró-reitor de pós-graduação, pesquisa, extensão e ação comunitária da UniEvangélica de Anápolis, avaliou que que culpar a estrutura da polícia “é um pouco de simplismo”. Ele indicou o processo de mudança estrutural da sociedade, a migração intensa e a marginalização como elementos que contribuem para uma pressão social nas cidades e, consequente, para a propensão para as práticas criminosas. “Anápolis cresceu muito. Isso afetou a ordem social”. Para ele, a ambição do sistema imobiliário, ao criar locais de ocupação urbana sem estrutura, também “é um dos fatores que contribuem para a desorganização social e contribui para a criminalidade”.
Lucas Cesar Costa Ferreira, promotor de justiça substituto perante a 16ª Promotoria de Justiça de Anápolis, que tem atuação na área de execução penal e tribunal do júri, também deu a sua opinião sobre as origens da criminalidade, citando que a relação dos crimes praticados contra o patrimônio e o de tráfico de droga, são os que apresentam maiores índices de reincidência e estão “intimamente relacionados”. E o fato de a criminalidade ter se proliferado decorre, também, em razão do envolvimento com o submundo das drogas estar espelhado em todas as classes sociais. Para ele, o pior cenário veio com o surgimento do crack, uma droga que “avassala a estrutura familiar, avassala também a perspectiva de relacionamento e também intensifica essa necessidade que o usuário de droga tem de, a todo o tempo, estar consumindo droga e estar buscando qualquer meio que ele vê na frente para poder consumir a droga”,
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