O Brasil vive uma era de radicalização política que tem silenciado vozes, destruído pontes e degradado o debate público.
Vander Lúcio Barbosa
Como jornalista, é desolador observar como a militância da extrema-direita e da esquerda ultrapassada transformou o espaço político em um campo de batalha, onde divergências ideológicas são tratadas com ódio e ameaças, em vez de diálogo e respeito.
Escrever ou dizer algo sobre a conjuntura atual é como caminhar em um campo minado. Cada palavra deve ser escolhida com precisão cirúrgica para evitar ferir as sensibilidades de indivíduos politicamente ignorantes, que confundem dissenso com agressão.
Apesar de termos avançado em educação, acesso à informação e perspectiva cidadã, parece que estamos regredindo enquanto sociedade. Há dois polos em colisão – o bolsonarismo e o lulismo – que não estimulam reflexões, mas sim fanatismos.
Esses líderes se transformaram em símbolos quase religiosos, cujos seguidores não votam mais racionalmente. Eles seguem, adoram e combatem, como soldados de uma guerra irracional. E à medida que essa militância se radicaliza, o espaço para o diálogo encolhe.
Quem tenta mediar, ou sequer apresentar uma opinião moderada, é rapidamente hostilizado por aqueles que consideram qualquer ponto de vista distinto uma ofensa.
O resultado desse fenómeno é visível em lares, amizades, ambientes de trabalho e até em igrejas. Famílias são destruídas, convivências antes leves tornam-se pesadas e relações se dissolvem. Ouvir e compreender pareceram ser substituídos por gritos e intolerância.
Não há mais espaço para discordâncias saudáveis em debates políticos. A democracia – sustentada pela troca de ideias e pelo respeito à diversidade de opiniões – enfrenta um de seus momentos mais sombrios, sufocada pelas vozes ensurdecedoras de militantes teimosamente apegados às suas verdades absolutas.
Estamos diante de uma sociedade cansada e dividida, mas a pergunta é: até onde isso nos levará? Qual será o legado desse fanatismo para as futuras gerações de eleitores? Estamos formando cidadãos ou militantes cegos?
O futuro do Brasil não pode estar atrelado a essa polarização nociva. Nossa democracia é rica em nuances que vão além de dois extremos. Precisamos resgatar o poder de dialogar, divergir e, sobretudo, respeitar. E com isso, talvez possamos oferecer às futuras gerações um legado que não seja o da amargura e da ignorância, mas o do entendimento e da construção coletiva.
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