Existem pessoas que não gostam de trabalhar, e isto possui um elemento cultural e familiar. Existem sociedades que são marcadas pela indisposição das pessoas em fazer, vivem sem ambição, dominadas pela malemolência, enquanto outras são tão enérgicas e laboriosas que facilmente chegam a exaustão e ao burnout.
Além de percebermos culturas tendentes ao esforço mínimo, vemos ainda que isto é também um traço de determinadas famílias. Muitos pais, são indispostos em e os filhos repetem o modelo de negligência. Existem vários textos bíblicos que falam sobre a preguiça. Um deles, bem pitoresco diz: “O preguiçoso diz: Há um leão no meio da rua…” Entenderam a mensagem?
Mas hoje quero refletir sobre aqueles que tem dificuldade em dizer não a alguma coisa, mesmo quando se encontram cansados ou mesmo exaustos.
Tais pessoas tendem a justificar o cansaço e a falta de energia, como se isso fosse de fato um crime.
Nossos corpos cansados, não são “apenas” resultados deste mundo acelerado. Fazem parte de uma realidade comum a sociedade moderna que facilmente desemboca num projeto de desumanização em função do trabalho e da performance. Para escapar deste modelo destrutivo, precisamos nos lembrar constantemente que não somos máquinas.
Quando chega o final do ano, isto fica ainda mais claro. São muitos os convites, eventos, reuniões de planejamento, avaliação, compromissos, e ficamos perdidos, tentando encontrar justificativa para o cansaço. Mas a realidade, é que não precisamos explicar por que estamos cansados. Nosso corpo está acendendo uma luz amarela, que pode ficar vermelha. Não estamos cansados, por preguiça, mas sim pelo excesso de demandas que nos chegam. Não é fácil entender porque temos uma epidemia de exaustão.
A verdade é que não podemos achar feio estar cansado. Não precisamos dizer sim a apelos e convites, mesmo estando exaustos, e não podemos sentir culpa por não fazer nada, nem criminalizar o ócio. Descanso é direito e não crime. Precisamos averiguar quanto deste cansaço é próprio dos tempos modernos, e quanto é nosso, que por reputação ou afirmação pessoal, nos leva a assumir cada vez mais compromissos.
Durante 23 anos fui professor de uma faculdade em Goiânia. Apesar da baixa remuneração o trabalho era interessante. Sempre gostei de me conectar às próximas gerações e de dar aula, e levantava toda terça feira de madrugada, dava seis aulas e retornava para Anápolis as 13 hs. Eu já estava me sentindo cansado da rotina, e isto se tornou evidente neste último semestre, quando deixei acumular provas e trabalhos que precisavam ser corrigidos. Em junho deste ano, meu irmão mais velho me perguntou: “Você não está cansado disto?” E a minha resposta reflexiva foi: “Estou!” Senti que era hora de parar. Um ciclo se encerrava na minha rotina de trabalho.
Entretanto, ressignificar e reorientar rotinas e atividades, sempre gera um incomodo sentimento. O que fazer? Como fazer de forma diferente? Como se sentir bem, diminuindo as funções? Como não se sentir descartado ou culpado? Todas estas perguntas brotam, e diante disto é fundamental não nos sentirmos culpados pelo descanso. Afinal, nossa identidade não está no que fazemos, mas no que somos.
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