O Conselho Universitário da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em decisão colegiada, acatou o pedido de afastamento do reitor da instituição, professor Haroldo Reimer, feito por ele próprio em razão das denúncias que envolvem o seu nome em suposta irregularidade no programa Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego). O reitor permanece na função somente até o próximo dia 31. O professor Ivano Alessandro Devilla, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, assume interinamente o cargo até a eleição e posse da nova reitoria, que devem acontecer nos meses de junho e agosto próximos, conforme proposta a ser encaminhada ao Governo do Estado.
Há vários dias, circula pela imprensa goiana notícias de uma investigação da Controladoria Geral do Estado de Goiás, apontando que Reimer, familiares e pessoas próximas a ele estariam se beneficiando de funções no âmbito do Pronatec, recebendo bolsas com valores de R$ 600 a R$ 7,5 mil. Este último valor seria o atribuído ao reitor, que aparece como coordenador/mantenedor. A investigação da CGE corre em sigilo.
A redação do Jornal CONTEXTO entrou em contato duas vezes com Haroldo Reimer, para que ele pudesse apresentar sua versão. No entanto, ele não retornou os contatos. Na reunião do Conselho Universitário, o reitor justificou o afastamento, segundo ele, para que tenha mais tempo para cuidar da sua defesa.
O resultado das investigações pode sair nesta sexta-feira,29, indicando se houve ou não irregularidades nas contratações, nos recebimentos ou na prestação dos serviços contratados no âmbito do Pronatec.
Haroldo Reimer foi nomeado como reitor pelo ex-Governador Marconi Perillo, em 2012. Portanto, estava no cargo há cerca de sete anos. Seu mandato iria até 2020. “Nesses sete anos, eu nunca roubei dinheiro da universidade”, ressaltou o reitor afastado na sua fala dirigida aos conselheiros da instituição. Segundo informação no site da UEG, Reimer também afirmou que não tem intenção de voltar a ocupar o cargo de gestão e desejou que a Universidade continue a trajetória de crescimento que experimentou nos últimos anos.
Repercussão
O caso envolvendo as supostas irregularidades no Pronatec na UEG, teve repercussão junto a outras instituições públicas de ensino superior. A reitoria da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), inclusive, chegou a emitir uma nota pública de apoio à Universidade Estadual de Goiás.
A nota, assinada pelo reitor Antonio Guedes Rangel Junior, diz: “As Instituições de Ensino Superior (IES) públicas brasileiras vêm sentindo o peso da perseguição e do incansável trabalho de governos para sucateá-las, especialmente as universidades estaduais e municipais do País. É o que vem acontecendo, mais recentemente, com a Universidade Estadual de Goiás (UEG). Talvez por não entender a importância de uma educação pública, gratuita e de qualidade, o Governo do Estado de Goiás está agindo para o desmonte da UEG”.
Diz ainda a nota: “Solidária à Reitoria da UEG, a Administração Central da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) vem a público manifestar seu protesto às medidas adotadas pelo Governo do Estado de Goiás, que penalizam a comunidade acadêmica da Instituição, com ações que atentam contra a UEG e mais recentemente visam macular a idoneidade de seus gestores”.
O Governo do Estado tem informado que não irá comentar as irregularidades na UEG, por respeitar e reconhecer a autonomia da instituição.
Professor apontado em investigação demonstra inconsistência em informações
No começo da semana, a redação do Jornal CONTEXTO recebeu ligações integrantes da comunidade acadêmica da UEG, preocupados com as informações que têm sido veiculadas em relação ao caso e a sua consequente repercussão.
Num dos contatos, foi repassado o texto de uma nota de repúdio do docente da UEG, Cássius Dunck Dalosto, um dos citados nas investigações. Ele assevera que as notícias envolvendo o seu nome e do reitor são “caluniosas, injuriosas e difamatórias”.
Na nota, Cássius Dunck derruba a informação de que ele seja sobrinho de Haroldo Reimer vinculando uma possível prática de nepotismo. A informação, disse na nota: “mostra-se de uma baixeza e de uma falta de respeito com a verdade”.
Além dessa questão, o professor informa que sua nomeação no quadro de docentes da UEG deu-se em razão “única e exclusivamente pelo fato de eu ter me submetido a um concurso público e ter me aprovado na segunda posição, como o primeiro do cadastro de reserva para a vaga que pleiteei e por ter logrado o terceiro lugar geral de todos os demais docentes que também foram aprovados no cadastro de reserva”. Ou seja, conforme assinalou, dentro da “absoluta legalidade”.
Com relação ao Pronatec, o servidor disse que, apesar das ilações de que não houve prestação de serviços por todos os que participaram do programa, Cássius Dunck destacou que de sua parte houve, sim, “efetiva prestação de serviços aos quais fui designado”.O docente adiantou que pretende adotar as medidas legais cabíveis contra aqueles que veicularam informações inverídicas acerca de sua suposta participação em irregularidades, não apenas os responsáveis originais pelas divulgações na internet, mas também outros que a replicaram.