Já os curados aumentaram em 54,5% em relação ao divulgado sete dias atrás e já somam 476 pessoas no município
Depois da cloroquina, a ivermectina tem se tornado o medicamento da vez quando o assunto é coronavírus. Em Anápolis, a procura pelo remédio, que é conhecido no tratamento de vermes e parasitas, dobrou, zerando o estoque de muitas farmácias no município.
De acordo com o proprietário da Rede de Farmácias JK, Murilo Gomes, a procura pelo medicamento aumentou consideravelmente nas últimas duas semanas. “Primeiro foi a hidroxicloroquina, ficamos sem estoque nenhum do medicamento usado contra a malária. Agora, de uns 10 dias para cá, começaram as buscas pela invermectina, que é um vermífugo usado no tratamento de piolhos, vermes e outros tipos de parasitas”, acrescenta Murilo.
Na Drogaria Farmatec, localizada no Setor Central de Anápolis, a situação não é diferente. “A ivermectina chega e acaba na mesma hora. Antes de vender, nós sempre lembramos aos clientes que o uso do remédio em altas dosagens pode causar sérios efeitos colaterais. Inclusive problemas neurológicos e até respiratórios”, ressalta Rogério Alves, bioquímico e proprietário da Farmatec.
Por ser indicado para o combate aos vermes, o medicamento, que custa entre R$ 15 e R$ 30, dispensa receita médica. Até o momento, o proprietário conta que não recebeu nenhuma notificação que proíba a venda do remédio.
Outro que não é encontrado desde março é o Leucogen. Conhecido por estimular verdadeiramente o sistema imunológico do indivíduo, o Leucogem é usado por pacientes imunodebilitados como os portadores de HIV ou por pessoas que possuem infecções recorrentes como herpes ou inflamações de garganta. “Com o esgotamento nas prateleiras, essas pessoas que realmente precisam ficam sem o medicamento”, explica Rogério.
Reajuste de preços
Murilo dá outro motivo para o sumiço de certos remédios nessa época. Ele explica que é justo agora que as indústrias e distribuidoras reajustam os preços dos medicamentos. “Trata-se de um reajuste tabelado pelo governo que gira em torno de 5%. Não é muito, mas é de praxe que nos meses de maio e junho as empresas segurem os estoques para aproveitar essa pequena alta e embolsar os lucros”, detalha ele.
Trata-se de uma prática que não pode ser comprovada, mas é o que todos os donos de farmácias observam anualmente. “Existe um fluxo constante na distribuição. De repente, vários medicamentos estão em falta e, após o reajuste, a distribuição é normalizada. Coincidência?”, questiona. Essa situação, somada ao medicamento que as redes sociais dizem ser o da moda, resultam em desabastecimento nas farmácias.
Especialista
Em entrevista ao jornal Contexto, o médico infectologista Marcelo Daher, realça a importância de se informar sobre o mecanismo de ação dos remédios, efeitos colaterais e saber com precisão a hora certa de consumir cada tipo de medicamento.
“Estamos diante de uma doença nova e ameaçadora. A busca por um medicamento que iniba a replicação viral é importante nessa fase e a tentativa de usar o que já está pronto é uma das mais rápidas e baratas. Entretanto, devemos sempre lembrar o quão importante é conhecer os medicamentos”, esclarece o especialista.
Conforme relembra o infectologista, nenhuma eficácia no uso do medicamento pode ser confirmada e a prescrição do remédio deve ser de caráter exclusivamente médico.
“Até agora o que temos são impressões pessoais de possíveis benefícios e dados científicos desencorajando o uso. Vele lembrar que estamos diante de uma doença onde 85% das pessoas não terão sintomas ou os sintomas serão leves, ou seja, o próprio sistema imune irá resolver a infecção.”, completa Marcelo.
Estudos e contraindicações
Até o momento, os principais estudos clínicos, que são os realizados com grupo controle, não demonstraram benefício do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes hospitalizados e em estado grave. Além disso, o medicamento pode apresentar efeitos colaterais.
Na bula, consta que é contraindicado para pacientes com meningite ou outras doenças do sistema nervoso central. A substância também não é indicada para crianças com menos de 15 quilos ou menores de cinco anos.
A SBI, assim como a Organização Mundial da Saúde (OMS), não recomendam o uso da substância por não saberem ainda o real efeito no organismo de um paciente com Covid.