Com base na constituição da próxima legislatura municipal em Anápolis, onde os 23 vereadores eleitos são integrantes de 15 partidos diferentes, tem-se a noção de que o atual modelo político brasileiro carece de uma avalição mais acurada. Ressalte-se que este fenômeno é nacional e se repete nas demais câmaras municipais, nas assembleias legislativas e, até, no Congresso Nacional (Senado e Câmara dos Deputados), em que a chamada pluralidade é assustadora. São cerca de 30 partidos legalizados e, mais uns 30 na espera de legalização. Teoricamente, o Brasil “corre o risco” de ter seis dezenas de agremiações partidárias. A pergunta que fica é: existiriam ideologias, propostas e projetos para esta quantidade de siglas, ou, há algo mais por detrás disso que ainda não se revelou? O próprio eleitor, ou o cidadão/contribuinte tem muita dificuldade em assimilar este estado de coisas.
Dirão alguns que quanto mais partidos políticos, maior será a diversidade, maiores serão as representatividades. Mas, será isso mesmo? No caso de Anápolis, por exemplo, poucos são os vereadores eleitos e/ou reeleitos que permaneceram fieis aos partidos de origem. Um grande número mudou de sigla, isto sem qualquer consulta ao eleitorado que o colocou no exercício do mandato. As explicações vagueiam, mas, a realidade é que eles mudaram, isso ninguém contesta. Também, justificarão que “o que importa é o candidato e não o partido”, como se sugerissem que tanto faz ter partido político ou não. O que seria um contrassenso. Se fosse assim, como justificar os bilhões de reais que são gastos, todos os anos de eleição, nos chamados fundos partidários, se as siglas são dispensáveis?
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No atual sistema, permite-se que um vereador/solo, ou seja, que não tem companheiro de ideal, seja líder da bancada, ou líder de si mesmo. Segundo o site da Câmara Federal, bancada é “o agrupamento organizado dos parlamentares de uma mesma representação partidária”. Então, não existiria bancada de um só. E, como se sabe, líder de bancada desfruta de alguns privilégios administrativos, principalmente no decorrer das sessões. Sem contar o grau de conhecimento político de vários deles. Há (muitos) casos concretos em que parlamentares confessam e admitem nunca haverem lido a Constituição Federal, mesmo que por curiosidade, para saber suas verdadeiras atribuições. Outros desconhecem a lei orgânica de seu município, ou, o regimento interno da câmara municipal, só para ficar nesses três quesitos. Então, para que tanta gente com mandato?
Uma coisa é certa: à luz da opinião pública, o modelo político brasileiro que, ao longo dos últimos anos passou por alguns “remendos”, precisa, urgentemente, de uma reforma de verdade. Não pela crítica em si. É porque todas essas estruturas (federal, estaduais e municipais) são custeadas com o suado dinheirinho do povo. E, este povo, por certo, merece muito mais respeito do que tem recebido ultimamente. Afinal, quem paga a conta, tem o direito de ser bem tratado. Político é eleito (e, bem pago) pelo cidadão para que o represente. Mas com dignidade, respeito e, acima de tudo, com sinceridade. Uma reforma política no Brasil se torna, cada vez mais, urgente e necessária.