A propaganda feita pelos poderes públicos municipal, estadual e federal, à época da inauguração do Residencial Copacabana, em 2011, teve toda a pompa de uma produção cinematográfica, algo típico de eventos políticos. As 1125 famílias moradoras daquele conjunto, que receberam suas casas por meio do programa Minha Casa Minha Vida, ouviram dos governantes presentes, durante a entrega das residências, promessas de melhoria de vida. De lá para cá, já se passaram quatro anos. E a população reclama do atraso das promessas.
Eliseu Ferreira Dahora tem 32 anos, é casado com Elivania Bernardes Silva, 38, e trabalha como pedreiro. Sozinho, sustenta 12 filhos, sete de seu casamento com Elivania; e outros 5 que a atual esposa teve em outro matrimônio. Juntos, possuem quatro netos. Antes de ir para o Copacabana, morava no setor Novo Paraíso. Todos os 18 moram na mesma casa, de 200 metros quadrados. “Não tenho condições de aumentar a casa. Por enquanto, vamos continuando na casa pequena mesmo. O ganho é pouco”, lamenta Eliseu.
A idade dos filhos varia de 5 a 23 anos. Quatro estudam. A esposa é do lar. A renda de Eliseu, de R$ 1000,00 não é suficiente para o sustento da família. Falta comida. A energia não é paga há, aproximadamente, sete meses. Cinco talões de água estão vencidos. Umas poucas pessoas os ajudam. Para ele, “não melhorou muita coisa” desde que se mudaram para o Copacabana. Não bastasse o sofrimento diário, na madrugada de sábado (25) para domingo (26), furtaram seu veículo nas proximidades da Pecuária, onde trabalhava como vigia. A parcela da casa, de R$ 20,00, está há mais de um ano sem ser paga. Eles são beneficiários do Bolsa Família. Eliseu reclama que a renda do programa federal não é suficiente. “Tem que ter mais algum benefício para ajudar as famílias”, observa. Ele continua, afirmando que o dinheiro que recebem do Governo, somado ao do seu trabalho, não garante a subsistência. “Para (a família se) manter, (eu) deveria ganhar ao menos dois mil por mês. E não ganha isso”, destaca. Ele deseja que haja mais estrutura para que as famílias do Copacabana encontrem emprego.
Ele se queixa que não existe no setor um local específico que abrigue o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). E evidencia que o Posto do Programa de Saúde da Família da Vila União, bairro próximo ao Copacabana, ainda não foi entregue. De acordo com a Secretaria de Saúde, a previsão é de entrega do empreendimento nos próximos quatro meses. Atualmente, para serem atendidos, eles precisam utilizar a estrutura de saúde de outras regiões.
Futuro
Eliseu Ferreira Dahora, apesar da pouca idade, carrega uma experiência de vida que poucos têm. Apesar do sofrimento, é possível ver que luta, diariamente, pelo sustento de sua família. Mas o horizonte ainda é obscuro e ele teme que seus filhos cresçam em meio aos graves problemas sociais do Copacabana. “Eu vejo o futuro deles aqui, com medo de virarem malandros na rua. Porque é difíci. Não tem nada para poder mantê-los no lugar . Em outros lugares tem PETI, tem colégio”, diz Eliseu. Ele tem uma fórmula que pode salvar os meninos e meninas do Copacabana: “Alguma coisa para manter ocupada a moçada daqui, a molecada do bairro. Tem muito menino à toa no bairro”.
Casa apertada, dinheiro pouco
Maria do Carmo da Silva Santos e Edmilson de Morais dividem uma casa com seus oito filhos, quatro mulheres e quatro homens, com idades que variam de um a 18 anos. Todos estão matriculados em escolas municipais. Também são beneficiários do Bolsa Família. Antes de 2011, quando sua casa no Copacabana foi entregue, moravam no setor Alexandrina. “Lá só era ruim que a casa não era nossa”, destaca o casal. Atualmente, o problema é outro: falta de escola. Seus filhos, para estudarem, precisam ir a setores próximos.
Para terem atendimento médico, Maria do Carmo, Edmilson e os filhos precisam ir a outros bairros, como o Paraíso e o Vivian Parque. Área de lazer para as crianças? “Não tem. As crianças ficam todo dia dentro de casa. Meu sonho era aumentar pelo menos mais um quarto (da casa)”, diz, esperançosa, a mãe, Maria do Carmo. Os dois quartos da residência, pequenos e apertados, conforme afirmaram, tem que ser adaptados para caber a todos. Ela afirma que recebe ajuda de uma Igreja Quadrangular local. O marido está desempregado e, atualmente, faz “bico” para sustentar a família.
A dificuldade para encontrar emprego também é relatada. Ela reclama que, em alguns casos, até há oferta de vagas para pessoas que moram no local, em empresas da cidade. Mas a distância acaba sendo um fator que dificulta a permanência nos postos de trabalho ofertados. Se a vida deles melhorou depois da mudança para o Copacabana? “Em um ponto, graças a Deus, melhorou. A casa é da gente. Em outros pontos, eu não gostei, não”, queixa-se Maria do Carmo. “É tudo longe, postinho de saúde longe, as coisas todas são longe. Tudo difícil”, menciona. Ela ainda cita que, para piorar, quando chove, o sistema de abastecimento de energia elétrica no setor falha.
Comércio
No setor Copacabana, não esteve previsto, no projeto inicial, a abertura de empreendimentos no local. Para que isso possa ocorrer, as famílias abrem pequenos comércios nas próprias residências, como mercados, salões de beleza, frutarias e até lojas de roupas. Jaci Lopes Montalvão, 43, transformou a garagem de sua residência em um mercado. Ele mora no Copacabana desde 2011. Antes, morava no Jandaia. Mora no local com a mulher e seus quatro filhos – dois homens e duas mulheres.
“De onde eu morava, mudou muito para cá. Porque aqui, segurança não tem, aqui é muito perigoso. Lá onde eu morava era mais tranquilo em matéria de segurança. Aqui não temos trabalho de limpeza de rua. Nós já pagamos taxa de serviços urbanos e não temos o serviço de limpeza”, queixa-se.
“Medo a gente tem, mas eu tento manter eles (filhos) mais em casa”, cita. E se pudesse escolher onde morar? “Eu moraria no Jandaia. Eu estou aqui porque saiu para mim (a casa do programa federal), e eu não tenho condições de comprar um lugar para mim em outro setor. Se eu tivesse, eu iria para aquele lado de lá (próximo ao Jandaia)”. Ele ainda reclama que seus filhos, para poderem estudar, têm que ir para outros bairros. O atendimento em Saúde também é precário, conforme indica. “Aqui, tudo o que você precisa nestes postos, beirando (o Copacabana), você não consegue”, aponta.
O que a Prefeitura diz?
O secretário de Desenvolvimento Social de Anápolis, Francisco Rosa (Chico Rosa), elenca uma série de benefícios trazidos ao Copacabana; e outros que ainda estão por vir. Mas, o cenário apresentado é muito diferente do que aquele mostrado pela população. Rosa destaca o asfaltamento, a rede de energia, a presença de um Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), a realização de cursos técnicos federais para a população, a iluminação das ruas e vários outros benefícios para a população local.
“Todo mundo tem dinheiro ali”, diz com entusiasmo, afirmando que a renda média das famílias é de R$ 1000,00. Para ele, o Copacabana “é uma região nobre hoje na cidade”, um local “bem assistido”. Ele enfatiza que o comércio em regiões vizinhas atende aos moradores do setor. E destaca a presença de áreas de lazer em locais próximos.
Avaliação
A Reportagem do Jornal Contexto encontrou um bairro que ultrapassa os limites da carência. A população, desassistida, demonstrou que quer trabalhar, diferentemente do que se afirma sobre a população que recebe benefícios sociais. Todos os beneficiários do Bolsa Família entrevistados têm algum outro tipo de renda. O grande problema encontrado foi o fato de que os governos municipal, estadual e federal levaram famílias inteiras para o Copacabana, sem que o setor estivesse preparado para recebê-los.
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