As imagens que ilustram esta reportagem são muito parecidas com as cenas divulgadas na grande imprensa, denunciando a poluição em mananciais localizados próximos às grande capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. Mas, infelizmente, os flagrantes foram registrados na zona rural de Anápolis, ao longo de um dos principais mananciais do Município, o Ribeirão Antas, que cobre uma grande área localizada na porção sudoeste de Anápolis e é afluente do Rio Corumbá que, por sua vez, é afluente do Rio Paranaíba. E, sem contar o seu valor histórico, uma vez que foi às suas margens que se iniciou a colonização da região, devido à movimentação de tropeiros ainda em meados do século XVIII.
A realidade do Ribeirão Antas, entretanto, retrata que o manancial vem sendo severamente agredido, colocando em alerta os fazendeiros, chacareiros e trabalhadores rurais que moram nas proximidades. A produtora rural Ana Paula Gomes, que forneceu o registro das imagens da matéria, é proprietária da Fazenda Cachoeira. Segundo ela relata, há cerca de 45 dias surgiram verdadeiros blocos de espuma no leito do Ribeirão que tem registrado, também, a sua coloração natural alterada e o cheiro, que parece ser de óleo – conforme relatou.
Ana Paula observa que essa situação tem causado preocupação para os moradores da região já que muitos deles utilizam da água para consumo. Ela afirmou que já levou o fato ao conhecimento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a única providência adotada foi a coleta de amostras da água em mais de 30 pontos do rio, até o local de deságua, no Corumbá. Entretanto, nada foi feito concretamente para resolver o problema e o volume da espuma “só vem aumentando absurdamente”, enfatizou a produtora rural. A desconfiança é de que a espuma possa ser oriunda da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Distrito Agro Industrial ou, então, proveniente do descarte de alguma indústria.
Enquanto as dúvidas não são sanadas e o problema não é resolvido, a população ribeirinha sofre com os transtornos da poluição no Antas. “Aqui quase não se pesca mais. Em alguns pontos, a gente vê com frequência grande quantidades de peixes mortos”, apontou Ana Paula, afirmando que há quase 30 anos não come peixe do Ribeirão, mas que as pessoas que ainda têm coragem de comer, dizem que o gosto do pescado é ruim.
Para a proprietária rural, é necessário que haja uma grande mobilização envolvendo os órgãos ligados ao meio ambiente, o Ministério Público e a própria sociedade de uma maneira geral, para evitar que o Ribeirão Antas venha a ‘morrer‘, devido aos maus tratos que sofre com a poluição. Além do lançamento de possíveis efluentes no manancial, ainda há o problema do lixo que é jogado às suas margens.
Mau cheiro
Desde o início do ano, as secretarias municipal e estadual do Meio Ambiente investigam sobre uma onda de mau cheiro que seria proveniente da ETE do DAIA. A Goiasindustrial, que é a empresa estatal responsável pela manutenção do Distrito, chegou a ser multada pelos órgãos ambientais. A direção da empresa, entretanto, afirma que investimentos estão sendo feitos na ETE. Há, também, denúncias de que indústrias estariam fazendo o lançamento de esgoto, sem o devido tratamento. O problema gerou uma ação civil pública do Ministério Público e foi parar, até, na delegacia. Contudo, ao que parece, a situação ainda está longe de ser resolvida e, enquanto isso, o Ribeirão Antas “grita” por socorro. Se as providências demorarem muito a chegar, pode ser muito tarde.