O maior curso d’água da cidade é o Ribeirão Antas, conhecido, por muitos, como Córrego das Antas, denominação incorreta, pois “córregos são pequenos volumes de água corrente originários de nascentes de encostas ou minas”, e os ribeirões, que é o caso, “são pequenos rios, maiores que córregos ou ribeiros”. Segundo dados da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, este curso d‘água, que foi elemento fundamental para o surgimento de Anápolis, corta toda a Cidade no sentido sul-norte, em sua trajetória de mais de 27 quilômetros. Nascendo na região do Parque Calixtópolis, nele ocorre uma pequena derivação para o Oeste, voltando, em seguida, para o rumo Norte, cortando bairros como o Residencial Pedro Ludovico; Parque das Primaveras; Vila São Joaquim; Conjunto Nações Unidas e Vila Góis, atravessando todo o centro da Cidade, seguindo rumo Leste para a região do conglomerado de bairros ancorado pelo Recanto do Sol, indo desaguar no Rio Corumbá, já fora da área territorial da Cidade.
O principal manancial local conta com outras quatro bacias, sendo elas; Caldas, Piancó, Padre Souza e João Leite. Duas delas, Caldas e João Leite, também abrangem o perímetro urbano. Já as águas da Bacia do Ribeirão “Padre Souza” seguem em direção ao Rio Tocantins. Outras águas de importantes afluentes, dentre eles os córregos “Góis” e “João Cesário”, ajudam a abastecer o Ribeirão Antas.
O problema
A maioria das cidades brasileiras se formou ao longo de rios sem algum tipo de planejamento previamente estabelecido. Logo, a forma espontânea com que essas cidades foram crescendo, em especial a partir do período entre as décadas de 50 e 70 em que as pessoas da zona rural foram optando por viver nos grandes centros que eram construídos, ajudou a comprometer os atrativos naturais, como os mananciais, que antes haviam sido, justamente, o motivo do desenvolvimento.
Em Anápolis, essa lógica não foi diferente, e a falta de políticas públicas que impusessem regras para o ordenamento habitacional de forma a não degradar o manancial da região, também contribuiu com o quadro de impactos ambientais que hoje se vê, sem muita dificuldade, pelo Município. Como os transbordamentos que ocorreram nas últimas semanas, devido ao tempo chuvoso, que encobriram muitas ruas, dentre elas partes das principais avenidas da Cidade, e fez com que barrancos deslizassem.
Na última semana, um morador fez a filmagem amadora da Avenida Beira Rio, próxima à Estação Rodoviária, mostrando a situação do manancial após uma longa chuva. O vídeo, que circula pelas redes sociais dos anapolinos e alcançou cerca de seis mil acessos, mostra dezenas de tartarugas espalhadas pela avenida e, até mesmo, peixes do Ribeirão agonizando fora d’água.
A mesma chuva fez com que no Parque das Primaveras, o Ribeirão Antas transbordasse e, em menos de uma hora, suas águas invadissem casas e estabelecimentos comercias. Em algumas residências, o nível da água chegou a quase um metro.
O que acontece nesses casos, fazendo com que rios transbordem, é que a água da chuva não conseguindo se infiltrar no solo por causa do asfalto que provoca uma impermeabilização, escorra pelas superfícies. O pavimento, ou asfalto, das ruas, faz com que a velocidade da água seja muito maior do que quando ela escorre por uma superfície como um gramado, que é de mais fácil infiltração. Isso significa que a água escoa mais depressa e pode se acumular nos pontos mais baixos de uma área.
Somado a esse fato ainda está o problema do lixo que obstrui as caixas receptoras, conhecidas como “bocas de lobo” e não permite o escoamento da água pelas galerias pluviais, feitas exatamente para dar passagem as águas.
Toda essa problemática pautou o assunto que o Engenheiro Fábio Maurício Corrêa defendeu em sua dissertação de pós-graduação na Universidade Católica de Brasília, UCB. Fábio argumenta que é imprescindível criar instrumentos para proteger e preservar o Ribeirão Antas, assim como as demais bacias da Cidade. “Para alcançar tal intento, é importante que se promova uma revisão nas questões relativas ao planejamento e gestão ambiental bem como as políticas públicas”, defende.
Uma possível solução
Desde a metade do ano de 2012, a Prefeitura deu início à canalização do Ribeirão Antas. A obra, orçada em mais de R$ 25 milhões, busca resolver os antigos problemas já citados e, ainda, a mobilidade do trânsito na região. O serviço executado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano Sustentável está sendo feito nas regiões do Centro, Vila Góis e Conjunto Nações Unidas, por onde o córrego passa.
Uma rocha que impedia a melhor vazão das águas do Ribeirão, nas imediações da Estação Rodoviária, foi explodida há cerca de dez dias. O impacto da explosão foi maior que o esperado e, ainda com a colaboração das chuvas, alguns transtornos aconteceram na localidade, onde fragmentos da rocha atingiram o telhado de algumas casas e um carro estacionado próximo ao local. Mas, segundo o Chefe de Gabinete da Secretaria, Gabriel Rebelo Júnior, todos os transtornos foram resolvidos. “A empresa especializada que está executando esse serviço tomou todas as providências e ressarciu os que foram prejudicados pelo incidente”, afirma. As obras no trecho, como previsto, continuam e já trazem benefícios. “Os moradores do Andracel Center, que durante muito tempo conviveram com o alagamento das suas ruas e casas no período chuvoso, enviaram uma carta para a secretaria agradecendo pela realização das obras, porque o bairro já não alaga mais”, comemora. Nos próximos dias outras rochas naquelas imediações serão explodidas, porém com maior cuidado por parte da empresa terceirizada, justamente para que o impacto seja menor e não cause novos transtornos.
Além de promover a recuperação ambiental destas áreas, o projeto prevê, ainda, a construção de uma via marginal de pouco mais de dois quilômetros. A via, que fará a ligação entre a Rua Engenheiro Portela e Avenida Presidente José Sarney, pretende facilitar o acesso da região a outros bairros. De acordo com o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano Sustentável, Clodoveu Reis, com a obra irá ocorrer uma grande melhoria no trânsito, além de uma nova concepção para esse contorno do Ribeirão. “Por esses motivos a obra beneficiará mais de 30 mil pessoas”, conta. Já o secretário de Meio Ambiente, Francisco Carlos Costa, informou que por ser caro o projeto é feito em partes. “O desassoreamento do Ribeirão é um trabalho demorado, dispendioso, mas extremamente necessário”, justifica.
Um dos focos da tese acerca do Ribeirão Antas realizado pelo Engenheiro Fábio Maurício Corrêa, detalha sobre as condições da água que corre nessa bacia. Além de receber córregos procedentes das mais diversas regiões, em certo trecho, mais precisamente no lado leste da Cidade, o Ribeirão recebe os efluentes líquidos oriundos da Estação de Tratamento de Esgoto, ETE, e do chorume produzido no aterro sanitário do Município. “Também, é muito provável que o sistema de drenagem pluvial no Ribeirão sofra ligações clandestinas de esgotos domésticos, o que vem agravar o quadro de alagamentos e inundações que acontecem”, conta. A Secretaria de Municipal de Meio Ambiente ainda não conta com um processo de monitoramento específico dos recursos hídricos da Cidade. Entretanto, tem trabalhado com a conscientização ambiental da população.
Políticas públicas
A mesma secretaria elaborou, em sua última gestão, uma proposta dentro da Agenda 21, contemplando o Município com uma série de ações que podem refletir, diretamente, na questão ambiental, especificamente nas bacias hidrográficas do Município. São elas: Criar Unidades de Conservação de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC); Estimular a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural RPPN‘s, identificando propriedades particulares que possuam áreas de reserva prioritárias para conservação no município; Criar Parques Lineares que sirvam de corredores ecológicos para conservação e disseminação do patrimônio genético natural; Diminuir os impactos da criação de parcelamentos do solo que envolvam áreas de preservação permanente. Integrar as reservas legais às áreas de preservação permanente como forma de conservação da biodiversidade local; Realizar projeto de recomposição das áreas de preservação permanente relacionado com os recursos hídricos; Executar o cadastramento georreferenciado, monitoramento e fiscalização de todas as atividades desenvolvidas nas microbacias hidrográficas do Município, Realizar programa de monitoramento da qualidade ambiental, físico e químico, com a coleta sistemática e análise da água dos principais corpos hídricos do município e Desenvolver ações de Educação Ambiental nas áreas naturais do município que recebem as maiores pressões de atividades antrópicas.
A realização de todo um trabalho de conscientização, sobre a preservação e conservação do Ribeirão, que envolva a população, deve ser incentivada por políticas públicas, bem como buscar abordar o tema no ensino público e privado do Município. “As ações educativas devem buscar a sensibilização popular visando a melhoria da água do córrego, aliando o poder público aos meios de comunicação, universidades e organizações não governamentais. Preservar esse patrimônio histórico e ambiental é um dever de toda a população”, finaliza o Engenheiro Fábio Maurício Corrêa.