Nem a abstenção recorde registrada nas eleições deste ano ofuscou o brilho da incontestável vitória sobre um concorrente altamente competitivo
Nilton Pereira
O resultado das urnas da votação em segundo turno para a eleição do futuro prefeito de Anápolis (2021/2024) confirmou uma tendência: a renovação política em andamento. Roberto Naves e Siqueira, professor e empresário, 42 anos, obteve a concessão da sociedade organizada do Município para governar a Cidade por mais quatro anos. Ele venceu o deputado estadual e ex-prefeito (por dois mandatos) Antônio Gomide-PT, com larga margem de vantagem: 101.349 (61,28%) contra 64.046 (38,72%) votos, depois de haver vencido, também, de forma convincente, no primeiro turno, concorrendo com outros sete candidatos, alguns deles já experientes na política.
Mas, antes, aos 38 anos de idade (2016), Roberto Naves, no PTB, já surpreendia na política de Goiás, ao vencer, também em segundo turno, o então prefeito João Gomes-PT (candidato à reeleição) por 88.730 (51,23%) contra 84.475 (48,77%) votos, naquela ocasião, concorrendo com outros seis candidatos, dentre eles, políticos consagrados em nível municipal e, até, regional. Roberto Naves estreava na política com vitória para prefeito da mais importante cidade do interior de Goiás (economicamente falando), mesmo na condição de “inexperiente” com as urnas. Vinha da iniciativa privada, com uma rápida passagem pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), sendo candidato pelo PTB.
Em quatro anos, o prefeito reeleito de Anápolis viu seu eleitorado aumentar em, exatos, 12.619 votos, contrariando a máxima de que “o poder desgasta”. No caso de Naves, em que pese as dificuldades encontradas – a principal foi, indiscutivelmente, a pandemia da covid-19 que frustrou alguns projetos elencados na campanha – houve um crescimento acima da média.
Natural de Porangatu (Norte de Goiás) Roberto Naves ficou conhecido em Anápolis, inicialmente, como empresário do setor educacional (proprietário do Colégio Órion). Todavia, antes, já prestara serviços em diferentes outras áreas. Sua incursão na política partidária deu-se pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), tendo migrado, posteriormente, para o Partido Progressistas (PP) sem, contudo, perder seu capital político. Pelo contrário, aumentou. E, neste processo migratório, conseguiu, ainda, levar consigo várias lideranças municipais, dentre elas, vereadores e suplentes de boa densidade eleitoral.
Efeito Naves
De perfil diferenciado da maioria dos políticos, Roberto Naves, desde o início, adotou um jeito peculiar de trabalhar. Não é muito dado a exposições midiática desnecessárias, tem facilidade de comunicar (aproveita, bem, a experiência de professor/regente de classe) com diferentes tipos de público e faz questão de priorizar a família (esposa Vivian e quatro filhas) em todas as suas incursões públicas.
Roberto Naves construiu uma plataforma política bem fundamentada, interagindo com os mais diferentes nichos da sociedade anapolina. Católico praticante, tem um excelente relacionamento com outros setores religiosos, principalmente com os evangélicos, onde buscou seu candidato a vice (Pastor Márcio Cândido) nas duas candidaturas. Tem, ainda, bom relacionamento com o empresariado anapolino e com as demais forças socioeconômicas de Anápolis.
Em sua primeira administração Roberto Naves, praticamente, não teve estremecimentos ou desgastes com a Câmara Municipal, com os órgãos estaduais e/ou federais e, muito particularmente, com o funcionalismo público municipal. Em seu governo não enfrentou greves, ou, paralisações, mantendo uma indispensável harmonia com os mais diversos setores da Administração Municipal.
A equipe
Ao assumir o Governo em janeiro de 2017, Roberto Naves procurou montar um secretariado predominantemente técnico e os cargos/chaves foram preenchidos cm base curriculares dos candidatos. Isto possibilitou a ele, dar um ritmo eficiente na gestão. Ao longo dos anos ocorreram algumas substituições, mas o perfil e a filosofia de governo permaneceram, garantindo bons resultados, o que foi comprovado em sua reeleição.
O secretariado de Roberto Naves não tem “figurões” ou “notáveis”, mas é um secretariado de resultados. Ele conta com bons comandos nas áreas da Saúde; Obras; Educação e Assistência Social, principalmente. Sua equipe de comunicação é de excelente nível, o que permite divulgar os feitos do Governo Municipal com alta qualidade.
Futuro político
Pelo que se observa, ao final de sua segunda administração (2024) Roberto Naves estará com 46 anos, idade considerada jovem para a política, o que sinaliza uma sequência lógica na disputa eleitoral. Mas, como será um mandato de reeleição, ele não poderá, mais, concorrer ao mesmo cargo, de acordo com a lei. Restaria uma candidatura a vereador, a não ser que ele venha abdicar de dois anos para se candidatar a deputado estadual, deputado federal, senador, vice-governador e, até, Governador do Estado, nas eleições gerais de 2022. Ressalte-se que este fato não é raro na política brasileira.
No caso de Anápolis a história mostra que foram poucos os prefeitos que deixaram a Administração Municipal para ganharem outros mandatos regionais e, mesmo, nacionais. O inverso é mais recorrente, ou seja, políticos regionais e/ou nacionais que se candidataram e venceram, eleições para prefeito. Casos, por exemplo, de Anapolino de Faria que foi, primeiro, deputado federal e, depois prefeito. Adhemar Santillo, também, foi deputado estadual e deputado federal, elegendo-se, em seguida, prefeito da Cidade (em duas ocasiões). Wolney Martins é outro exemplo de deputado estadual que concorreu e venceu para prefeito.
Dos que saíram da Prefeitura de Anápolis para cargos regionais e nacionais, destaque para Henrique Santillo que foi (depois de vereador e prefeito) deputado estadual Governador do Estado, Senador da República e Ministro o da Saúde; Jamel Cecílio (prefeito nomeado) que se elegeu deputado federal: Irapuan Costa Júnior (prefeito nomeado) que foi, depois, Governador do Estado (nomeado), Senador da República e deputado federal e Antônio Gomide (depois de vereador e prefeito) que elegeu-se deputado estadual.
E, a pergunta que já começa a ser feita é: Roberto Naves fica na Prefeitura nos próximos quatro anos, ou, sai para tenta outro mandato? Se for o caso, seria candidato a quê?
