Anápolis pode se tornar um dos principais centros de produção e pesquisa do SAF, o combustível sustentável de aviação, que é considerado uma das alternativas mais promissoras para diminuir o impacto ambiental do transporte aéreo.
A cidade, que já abriga uma base aérea e um aeroporto de cargas, tem atraído o interesse de empresas e instituições que buscam desenvolver o SAF no Brasil, como a Embraer, a Boeing e o Parque Tecnológico de São José dos Campos.
A afirmação é do secretário de Indústria e Comércio e Serviço do Estado de Goiás, Joel Santana Braga Filho, que participou do segundo encontro do Conselho dos Empresários para o DAIA (Consedaia), realizado nesta quinta-feira, dia 30 de novembro, no auditório do COTEC.
O SAF é a sigla em inglês para Sustainable Aviation Fuel, ou Combustível Sustentável de Aviação, em português.
Trata-se de um biocombustível que pode ser produzido a partir de diversas matérias-primas renováveis, como cana-de-açúcar, soja, milho, algas, resíduos orgânicos e até mesmo lixo urbano.
O SAF pode substituir parcial ou totalmente o querosene de aviação, o combustível fóssil que é usado atualmente na maioria das aeronaves.
O uso do SAF é considerado uma das principais estratégias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, que contribuem para o aquecimento global e as mudanças climáticas. Segundo a Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), o setor aéreo é responsável por cerca de 2% das emissões globais de CO2, o principal GEE.
A estimativa é que o SAF possa reduzir as emissões de CO2 em até 80% em relação ao querosene de aviação, dependendo da matéria-prima e do processo de produção.

Como o SAF está sendo desenvolvido no Brasil e em Anápolis?
O Brasil é um dos países com maior potencial para produzir e consumir o SAF, devido à sua vasta disponibilidade de recursos naturais, à sua experiência na produção de biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel, e à sua indústria aeronáutica de ponta, representada pela Embraer, a terceira maior fabricante de aviões do mundo.
O SAF já é uma realidade no Brasil, mas ainda em escala reduzida e experimental. Em 2019, a Embraer realizou o primeiro voo de um avião comercial movido a SAF no país, em parceria com a companhia aérea Azul.
O combustível usado foi produzido pela empresa americana Amyris, a partir de cana-de-açúcar, e misturado ao querosene de aviação em uma proporção de 10%.
Desafios
Segundo o secretário, para ampliar a produção e o consumo do SAF no Brasil, é preciso superar alguns desafios, como o custo elevado, a falta de regulamentação, a necessidade de investimentos em infraestrutura e pesquisa, e a articulação entre os diversos atores envolvidos, como governo, empresas, universidades e sociedade civil.
“Nesse contexto, Anápolis surge como uma das candidatas a sediar um polo de produção e pesquisa do SAF no país, graças à sua localização estratégica, à sua vocação industrial e à sua infraestrutura aeroportuária.
A cidade, que fica a cerca de 50 km de Goiânia, é a segunda maior do estado de Goiás e a terceira maior da região Centro-Oeste, com uma população de quase 400 mil habitantes”, destacou Joel.
Ainda de acordo com sua fala no encontro, Anápolis é o lar do Distrito Agroindustrial de Anápolis (DAIA), um dos maiores complexos industriais do país, que abriga cerca de 150 empresas de diversos setores, como farmacêutico, automotivo, alimentício e metalúrgico.
O DAIA também é o local onde está sendo instalada a fábrica de placas solares da empresa chinesa Bio-IG, que faz parte de um projeto da Nápoles, uma empresa goiana de energia renovável.
“Além disso, Anápolis conta com uma base aérea da Força Aérea Brasileira (FAB), que é responsável pela defesa do espaço aéreo nacional, e com um aeroporto de cargas, que tem uma das maiores pistas do país, com 3,6 km de extensão.
O aeroporto faz parte da Plataforma Logística Multimodal de Goiás (PLMG), um projeto que visa integrar os modais rodoviário, ferroviário e aéreo, e que tem o apoio do governo estadual e federal”,
afirmou o secretário.
Anápolis na rota
Esses fatores têm chamado a atenção de empresas e instituições que buscam desenvolver o SAF no Brasil, como a Embraer, a Boeing e o Parque Tecnológico de São José dos Campos (PqTec), que é um dos maiores centros de inovação do país, vinculado ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA).
Joel Santana Braga Filho, disse que parceiros procuraram o governo estadual para que o estado, por meio do governador Ronaldo Caiado, encabece um novo investimento que tem que ser feito por estados e empresas privadas, para que se possa ter em Goiás um dos polos de produção do SAF no país.
Ele explicou que Anápolis seria a região escolhida por eles para desenvolver essa parceria, por conta da sua infraestrutura e da sua proximidade com o Parque Tecnológico de São José dos Campos, onde está a maior tecnologia da Embraer, que é a parceira da Boeing, e também os maiores clientes do SAF.
Joel Salientou que o SAF pode ser produzido a partir de produtos de etanol, que é o mais importante, mas também de produtos de biodiesel e de outras áreas, como a soja, que é um dos principais produtos agrícolas de Goiás.
“O projeto do SAF está em fase de estudos e viabilidade, e que depende de uma vontade política, mas também de uma vontade das empresas de base tecnológica estarem juntas do setor público e do setor privado, para que os investimentos, que são de grande monta, possam ser obtidos e realizados dentro do estado de Goiás”, esclareceu ele.

Quais são as perspectivas e os benefícios do SAF para Anápolis e para o Brasil?
O desenvolvimento do SAF em Anápolis pode trazer diversas vantagens para a cidade e para o país. Do ponto de vista ambiental, o SAF pode contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, que são responsáveis pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas, que afetam a biodiversidade, a saúde humana, a segurança alimentar e a qualidade de vida da população.
O SAF também pode ajudar o Brasil a cumprir os compromissos assumidos no Acordo de Paris, que prevê a limitação do aumento da temperatura média global a 1,5°C até o final do século.
Para o secretário, do ponto de vista econômico, o SAF pode gerar empregos, renda e desenvolvimento para a região de Anápolis, que já é um polo industrial e logístico do Centro-Oeste Do ponto de vista social, o SAF pode estimular a inovação tecnológica e a educação científica na região de Anápolis, que já conta com instituições de ensino superior, como a Universidade Estadual de Goiás (UEG) e o Instituto Federal de Goiás (IFG).
“O SAF também pode favorecer a inclusão social e a distribuição de renda, ao envolver pequenos produtores rurais e cooperativas na cadeia produtiva do biocombustível e, ainda, aumentar a competitividade e a sustentabilidade do setor aéreo brasileiro, que é um dos mais importantes para a economia e a integração nacional, mas que também enfrenta desafios, como a alta carga tributária, a baixa demanda, a concorrência internacional e a crise sanitária provocada pela pandemia de Covid-19”,
declarou Joel.
Estimativas e previsões
Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR), o SAF pode reduzir os custos operacionais das companhias aéreas, ao diminuir o consumo de combustível e a emissão de poluentes, que são taxados por alguns países e organismos internacionais. O SAF também pode melhorar a performance das aeronaves, ao aumentar a eficiência energética e a autonomia de voo.
A ABEAR estima que o Brasil tem capacidade para produzir até 9 bilhões de litros de SAF por ano, o que corresponde a cerca de 27% do consumo atual de querosene de aviação no país.
A meta da entidade é que o Brasil alcance uma participação de 1% de SAF na matriz energética do transporte aéreo até 2025, e de 10% até 2035. Para isso, a ABEAR defende a criação de um marco regulatório para o SAF no Brasil, que estabeleça as normas técnicas, os incentivos fiscais, os mecanismos de financiamento e as políticas públicas para o desenvolvimento do biocombustível.
A entidade também apoia a realização de parcerias entre os diversos agentes do setor, como fabricantes, fornecedores, distribuidores, operadores, pesquisadores e governos.