Da série “o povo tem memória curta”, é, pelo menos, contraditório, (para não dizer injusto) atribuir toda a culpa pela falta de unidades de terapia (tratamento) intensivo à pandemia da covid-19. Na verdade, ela veio a agravar a situação, ao deixar milhares de famílias em verdadeiro pânico, quando se busca uma vaga para o ente querido necessitado. Mas, a bem da verdade (e, da justiça), de acordo com dados oficiais, há mais de 15 anos o Brasil registra déficit de vagas; leitos; médicos, paramédicos e outros elementos essenciais para o funcionamento de tais unidades. Foram muitos os casos em que familiares necessitaram ingressar na justiça para conseguirem um leito de UTI. Muitas dessas vagas foram obtidas quando já não havia mais como salvar o doente.
E, quanto à questão de salvamento por UTI, não é, cientificamente, provado que esse tipo de tratamento seja 100 por cento eficaz, ou, eficiente para impedir a covid-19. A taxa de mortalidade de quem adentra uma UTI é, também, grande. Desta forma, não é de agora que se clama por UTI no Brasil. Provavelmente, muito provavelmente, a situação tenha chegado a este ponto devido ao acúmulo de erros nos últimos anos, com políticas equivocadas, falta de aparelhamento das unidades, principalmente as do sistema público e, acima de tudo, remuneração adequada para os profissionais da área. É muito cômodo creditar, tão somente, à covid-19 a responsabilidade por esta dramática situação vivida atualmente. E, ademais, em outros países onde não se tem notícia da falta de UTI, os chamados países ricos, também, as pessoas estão morrendo de covid-19. Com e/ou, sem UTI. Na África, como um todo, por exemplo, existem menos UTIs do que no Brasil. E, por lá, segundo as estatísticas oficiais, o índice de mortalidade é muito, muito menor do que por aqui.