Representantes de diversos segmentos organizados se reuniram em audiência pública requerida pela Câmara Municipal, na última terça-feira, 22, no auditório do SENAI, para discutirem o futuro da Base Aérea de Anápolis na era pós Mirage, que deverá se encerrar no dia 31 de dezembro próximo, quando os caças supersônicos deixarão de voar, após cumprirem o seu ciclo de atividade. O movimento foi, também, organizado por membros Honorários da Força Aérea Brasileira (FAB) e ex-alunos da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ASDESG).
O Juiz de Direito Carlos Limongi Sterse, na condição de membro honorário da FAB e um dos articuladores do movimento, abriu o ato cívico que, segundo disse, teve como objetivo sensibilizar a Presidente Dilma Rousseff para que o Governo dê maior celeridade ao Projeto FX-2, para a renovação da frota de caças para a aeronáutica e, mais especificamente, para o 1º Grupo de Defesa Aérea, sediado no Município. Ele lembrou que está em Anápolis há 12 anos e, quando conheceu o complexo aeronáutico, em 2001, ouviu, pela primeira vez, uma explanação técnica a respeito do projeto FX.
Carlos Limongi salientou que a união dos segmentos organizados é uma forma de demonstrar insatisfação em relação à questão, que acarreta prejuízos para o sistema de defesa do País, porém, mais do que isso, o atraso tecnológico que é decorrente da indefinição. Fez, ainda, questão de frisar que o movimento não visa, em momento algum, confrontar com o Governo “e não é em absoluto um movimento político-partidário”, frisou, acrescentando que outras ações estão sendo planejadas, dentro do objetivo da iniciativa. “O que nós estamos buscando é importante não só para Anápolis, mas para todo o Brasil e para todos os que amam a Pátria”, defendeu.
O ex-comandante da Base Aérea de Anápolis, Coronel-Aviador Cícero Ceccato, participou da audiência pública, segundo ele, não como membro do Governo (hoje ele atua na assessoria internacional do Ministério da Defesa), “mas de um cidadão que está preocupado com esta questão”. Ex-integrante do Projeto FX, na primeira fase, Ceccato elencou algumas razões para o futuro do 1º GDA após a desativação dos Mirage. Ele salientou que a Aeronáutica tem, obviamente, um plano para cobrir este “vácuo”, ou seja, o da “aposentadoria” da frota atual e a chegada das novas aeronaves, o que pode demorar mais de quatro anos após a definição pela compra dos novos aviões.
Tecnologia
Para o militar, hoje na reserva, a falta de definição, que já atravessa mais de uma década, traz prejuízos ao País, sobretudo, com relação à aquisição e domínio de tecnologia. “Se estivéssemos avançado, talvez, hoje, já poderíamos, até, estar fabricando os nossos caças”, pontuou, lembrando que o Brasil detém conhecimento em várias áreas, como a de controle do espaço aéreo, inclusive, exportando essa tecnologia. Foi exibido um vídeo, mostrando o sequestro de um avião da antiga Vasp, que foi monitorado pelos sistemas de radares e pelas aeronaves da Base Aérea, no ano de 1989. Além disso, fez também um paralelo com o ataque terrorista de 11 de setembro nos Estados Unidos, que depois do episódio veio conhecer o modelo brasileiro que, se estivesse implantado naquele País, poderia, talvez, ter outro desfecho.
O superintendente do Porto Seco, Edson Tavares, discorreu na audiência pública sobre a importância logística da Base Aérea de Anápolis, lembrando que no início da década de 70, Anápolis passava por um período de “depressão econômica”, pois vinha se exaurindo o ciclo do beneficiamento de arroz e a indústria era, então, bastante incipiente. A Base Aérea, após a sua implantação no ano de 1972, trouxe novas perspectivas e, em 1976, foi inaugurado o Distrito Agro Industrial que, ao lado da Base Aérea, representou dois pilares importantes para o desenvolvimento da região.
De acordo com Tavares, é fundamental que a Base Aérea receba novos investimentos com o projeto FX-2, consequentemente, com a possibilidade de agregar mais empreendimentos ligados ao setor aeronáutico e também, faz necessária a tecnologia da BAAN para dinamizar o hub logístico que será criado com o Aeroporto de Cargas, a Plataforma Logística e o Parque Tecnológico. Para Tavares, é importante reativar, também, a luta para que Anápolis venha a sediar o Parque Aeronáutico, conforme projeto já desenvolvido no âmbito do Governo Federal.
Mais eventos
Ainda, fez uso da palavra o Vereador Sargento Pereira (PSL), que foi o autor do requerimento para a realização da audiência pública. Ele chamou atenção para a questão do que classificou de Projeto RH, se referindo aos Recursos Humanos das Forças Armadas. “É preciso que ele seja melhor valorizado”, apontou, dizendo que, hoje, um piloto da aviação civil recebe quase seis vezes mais do que um oficial piloto de caça. O que, a seu ver, é uma disparidade que precisa ser corrigida.
O Promotor de Justiça Marcelo Henrique dos Santos disse que a situação enseja um caso grave, até, de negligência e passível de questionamentos. Atualmente diretor da Faculdade de Direito de Anápolis (FADA), ele anunciou que está em estudo um evento a ser realizado na UniEvangélica, dando sequencia às ações que vão acontecer até o final deste ano para sensibilizar o Governo Federal. Ainda está prevista uma nova audiência pública, quando então serão convidados os representantes de Goiás no Congresso Nacional – deputados e senadores – deputados estaduais e vereadores. Além disso, foi elabora a Carta de Anápolis, que será posteriormente encaminhada à Presidência da República.