Antes de completar um ano de sua entrega, o Residencial do Servidor/Vitor Braga está se transformando em um drama para as 352 famílias ali instaladas. Problemas de ordem estrutural e dificuldades administrativas são registrados diária e constantemente pelos moradores que já apelaram,até, para o Ministério Público Federal. Muitos já não sabem mais o que fazer para resolverem as dificuldades que vêm encontrando.
Em alguns blocos, as paredes apresentam rachaduras visíveis e, em outros, há casos em que o piso das garagens está afundando. Segundo a síndica do conjunto, Edvânia Rodrigues Machado, já foram feitos vários contatos com a Caixa Econômica Federal, financiadora dos imóveis e com a empresa construtora dos blocos, mas os resultados não aconteceram de forma satisfatória.
No dia 22 de julho, a síndica do condomínio endereçou um documento ao Ministério Público Federal, tendo em vista que o conjunto faz parte do programa “Minha Casa, Minha Vida”, do Governo Federal, sendo financiado pela CEF, relatando e denunciando as irregularidades, sem que as providências tenham sido tomadas até agora. Antes, em maio, a Controladoria Geral da União que, também, recebeu queixas a respeito do assunto, enviou uma equipe ao conjunto residencial e detectou inúmeras falhas ali existentes,dentre elas, a ausência de caixas de gordura para o sistema de esgotamento da água servida dos apartamentos. A construtora, segundo os moradores, providenciou a implantaçãodas referidas caixas em alguns blocos, mas, muitas delas não funcionam a contento, revertendo o esgoto para dentro dos imóveis.
Outra denúncia é quanto ao sistema de água potável. Há apartamentos em que a ligação foi feita, mas em nome de outro mutuário, numa espécie de cruzamentodo sistema. Ou seja: um mutuário paga a conta de outro e, assim, sucessivamente, devido à instalação errada dos hidrômetros. Este problema, também, já foi relatado à SANEAGO. O sistema de energia elétrica, também, apresenta uma série de irregularidades, o que causa aborrecimentos aos moradores dos blocos.
Vários problemas
A agente de saúde Eunice Custódia do Sacramento é uma das moradoras que tem sofrido com a instalação incorreta dos hidrômetros. Ela conta que desconfiou do problema devido ao alto valor da conta e depois de fazer alguns testes, descobriu o cruzamento do sistema com o vizinho. “Fechei o meu registro e observamos que faltou água no apartamento vizinho, quando ele fez o mesmo, foi a vez de a minha residência ficar sem abastecimento”, diz. Segundo Eunice, a dor de cabeça é ainda maior na hora de negociar o pagamento da conta com o vizinho, porque desde que se mudou o banheiro do apartamento dela possui um vazamento e apesar da construtora ter feito reparos, o problema não foi solucionado.
No bloco G, onde vive a agente de saúde, a escada de dentro do prédio, que faz a ligação entre os andares, está fora do padrão de segurança e, por isso, não foi aprovadapelo corpo de bombeiros. Já na escada externa, que dá acesso à porta de entrada, o problema é o concreto que está esfacelando e se soltando. “Temos medo de que com a chegada das chuvas a escada externa se solte completamente”, revela.
Eunice denuncia ainda que os aquecedores solares que ornamentam o teto dos blocos não passam disso, simples enfeites. “Nunca usei porque o sistema simplesmente não funciona. A construtora diz que há problemas nos espelhos que somente a empresa que instalou os aparelhos pode solucionar. É um jogo de empurra, empurra, onde ninguém assume a responsabilidade e ninguém resolve nada”, desabafa.
Antônio Ferreira Timoteo é agente educador da prefeitura de Anápolis, e há oito meses mora no Residencial do Servidor. Como Eunice, ele também adquiriu o apartamento pelo Minha Casa Minha Vida. “Quando mudei não havia energia elétrica, o sistema de gás ainda não funcionava, e não havia empresa contratada para fazer a segurança”, conta. Segundo ele, o bloco em que mora foi um dos primeiros a ser construídos, e por isso não enfrenta tantos problemas. “O estacionamento é simples, mas não está afundando como em outras partes. Acho que como foi um dos primeiros, foi feito com um pouco mais de cuidado. Mas na pressa de entregar a obra, os outros blocos não receberam a devida atenção”, analisa.
“Fiz minha inscrição no programa Minha Casa Minha Vida em 2010 e há um ano, assim que o residencial ficou pronto, me mudei para cá. Mas estou muito decepcionada. È um sonho desfeito. A cerâmica do meu apartamento já está quebrada e descascando em vários locais porque é de muito baixa qualidade.Desde que me mudei até hoje, nunca tive tranquilidadepara aproveitar o que deveria ser a realização de umsonho, porque sempre há um problema estrutural ou administrativo”, desabafa Eunice, sobre a decepção de esperar durante anos pela oportunidade da casa própria e ter mais dores de cabeça do que alegrias.
No fechamento desta reportagem, a redação foi informada que o conjunto não teria o habite-se e nem o alvará do Corpo de Bombeiros, que esteve no local em 19 de agosto e levantou uma série de irregularidades, fixando prazo de 30 dias para o cumprimento das exigências, o que, segundo a informação prestada, não ocorreu na totalidade.
Caixa
A Caixa informou que, em relação a problemas estruturais nos apartamentos, já notificou a construtora que apresentou cronograma para a execução das obras. Já em relação aos hidrômetros, a Caixa não recebeu nenhuma denuncia formal sobre essa irregularidade. Para comunicar eventuais problemas com os imóveis, a instituição orienta o proprietário do imóvel a ligar no 0800-721-6268 ou procurar qualquer agência da Caixa, para que o empregado acione a Construtora na solução das ocorrências apontadas.
O conjunto
Inaugurado em outubro de 2012, o Residencial do Servidor/Vítor Braga, inicialmente, era destinado, apenas, a funcionários da Prefeitura de Anápolis. Todavia, a demanda foi menor do que a oferta e o interesse dos servidores públicos municipais foi aquém do esperado. E, já que o projeto previa a oferta de 352 apartamentos, houve-se por bem abrir oportunidade para que outros interessados participassem. O conjunto faz parte do programa “Minha Casa, Minha Vida”, com as residências sendo subsidiadas pelo Governo Federal, com uma pequena contrapartida dos mutuários.
Ocorre que, como já aconteceu em outros conjuntos habitacionais, o Residencial do Servidor apresentou, desde as primeiras semanas, uma série de falhas estruturais que nunca foram sanadas. O temor dos moradores é de que, com o passar do tempo, os problemas se agravem e possam ocasionar dificuldades de maior gravidade
A Caixa Econômica Federal, em Anápolis, não emite explicações ou justificativas sobre o assunto, sob a alegação de que isto somente pode ser feito através do serviço de comunicação social centralizado em Brasília. A Prefeitura, que sempre proclamou ser a idealizadora e criadora do conjunto, limita-se a informar que sua competência foi triar e indicar os candidatos e que estes foram selecionados pelo serviço próprio da Caixa que, em última análise, é a contratada, ou seja, o contrato é feito, diretamente, entre o banco e o mutuário. Mas, a Secretaria Municipal de Serviços Sociais informa que está acompanhando, de perto, o problema e tem vivo interesse em solucioná-lo o mais breve possível.