A grande mídia fez o maior estardalhaço ao noticiar, esta semana, a deportação de 35 crianças “brasileiras” dos Estados Unidos para o Haiti.
A bem da verdade, houve certo exagero. Aquelas crianças não têm qualquer vínculo com o Brasil. Elas são filhas de famílias haitianas que estavam de passagem pelo Brasil, em busca de uma rota mais fácil que as levasse à fronteira do México com os Estados Unidos. Daí, o Governo Brasileiro não ter qualquer responsabilidade legal sobre a situação, por sinal, digna de compadecimento, por que passam esses pequenos seres.
Mas, de episódios como esses, podem ser tiradas lições para a vida… Enquanto alguns veículos de comunicação criam uma situação de contrição por causa do sofrimento dos haitianos, por aqui, entre nós, existem casos mais dramáticos do que esses.
Quantas crianças brasileiras vivem no exílio econômico, na indiferença de governos e da própria sociedade? Quantas são exploradas sexualmente, quantas dormem e acordam com fome todos os dias? E, salvo algumas raras e honrosas exceções, não se observam rádios, jornais, emissoras de TV ou, redes sociais, preocupados com isso.
Não que as crianças haitiano/brasileiras tenham de ser ignoradas. Muito pelo contrário. Seus pais, por certo, fizeram esta arriscada travessia com o pensamento em alcançarem dias melhores para elas. Eles precisam, sim, de atendimento, o mínimo que seja. Um prato de comida, um calçado, uma roupa para vestir.
Assim como milhões de brasileirinhos, e brasileirinhas, que estão por aí entregues à própria sorte. Desta forma, devemos, todos, nos compadecer dos irmãozinhos haitianos sem, contudo, perdermos o foco nos que por aqui ficaram. É bem mais fácil, e cômodo, ajudar aos que estão mais próximos.
Estamos no limiar de outubro, o mês das crianças, quando elas serão lembradas, mais pelos apelos comerciais, para se venderem produtos próprios para os pequeninos. Mas, também, é uma excelente oportunidade para uma introspecção a fim de que avaliemos o que fizemos, o que estamos a fazer para o bem das crianças.
Apenas filosofar não basta. Apenas, explorar o assunto politicamente, não basta. Temos de agir na prática.