A década de 1970 continuou produzindo notícias impactantes sobre o que se passava em Anápolis. Na edição de 31 de janeiro de 1977, o Jornal Correio do Planalto apresentava em sua capa ‘O caso do falso médico‘. O italiano Vitali Répoli, nome pelo qual se apresentava, ‘foi preso sigilosamente pela polícia e encaminhado para São Paulo‘, conforme relatou o jornal. ‘Em seu poder foram encontradas armas privativas do exército tais como fuzis e metralhadoras‘, continua o relato do periódico.
Fatos deste tipo já mexiam com o consciente coletivo, e as especulações a respeito do fato, tomaram conta do pensamento dos anapolinos. O Correio do Planalto abordou o caso do falsário, que atuou durante um ano na cidade: ‘a imaginação fantasiosa de muitos o ligaram à máfia, a grupos subversivos e a várias outras organizações. A presença na cidade do delegado Sérgio Paranhos Fleury, para buscá-lo, aumentou a curiosidade‘. De acordo com o Jornal, o delegado ‘ficou famoso‘ por combater o terrorismo e ‘pelos processos que respondeu como um dos chefes do Esquadrão da Morte‘, grupo acusado de executar criminosos durante o Regime Militar.
Este tipo de notícia chamativa era parte da tentativa dos jornais da época em atrair novos leitores e, assim, conseguir mais anunciantes. Durante este período, o País vivia a Ditadura Militar, com sua política desenvolvimentista, ações para o avanço tecnológico e crescimento econômico. A comunicação da época não ficou de fora deste processo e os jornais, apesar da censura, conseguiram se desenvolver tecnologicamente.
O jornalismo da década de 70, tomando, como exemplo, veículos de comunicação que circularam em Anápolis neste período, já era mais vivo, dinâmico e atrativo. Alguns periódicos que passavam nas mãos dos leitores apresentavam impressão a cores, tinham uma linguagem menos literária e uma proposta empresarial consolidada. Em ‘História da imprensa goiana: dos velhos tempos à modernidade mercadológica‘, as professoras do curso de jornalismo da UFG Rosana Borges e Angelita Pereira tratam sobre o tema.
O texto, publicado na Revista UFG de dezembro de 2008, fala sobre o desenvolvimento do jornalismo em Goiás. Sobre o período que vai de 1945 até 1964, o texto afirma: ‘os periódicos já manifestavam preocupações estéticas e as redações estavam tornando-se cada vez mais profissionalizadas e ágeis, tendo em vista que o desenvolvimento da telefonia no Brasil contribuiu, significativamente, para o aceleramento da notícia. O jornal adquiria então um caráter empresarial e a profissão de jornalista, uma necessidade mercadológica‘.
O tarado do capuz
‘O tarado do capuz preto voltou a atacar em Anápolis, fazendo outra vítima, enquanto que grande parte da população se acha indignada com suas constantes aparições. Na madrugada da última terça-feira ele agrediu uma funcionária do Colégio Estadual, somente não conseguindo a satisfação da sua tara, devido ao socorro prestado por terceiros‘. Assim, no dia 21 de abril de 1977, uma quinta-feira, o Jornal Correio do Planalto apresentava em sua capa mais uma notícia que chocaria a sociedade Anapolina.
Elementos do próprio texto mostrariam como aquela matéria foi produzida. O Jornal Correio do Planalto evidenciaria a credibilidade da reportagem que havia sido feita: ‘a denúncia de sua aparição foi feita por pessoa idônea, não pairando qualquer dúvida sobre a veracidade das acusações‘. Além deste reforço da veracidade da informação, o periódico lançava mão do estabelecimento do juízo de valor a respeito do crime cometido, indo além do simples noticiar. O jornalismo julgava o fato.
‘O surgimento desses anormais em Anápolis tem-se constituído no principal assunto, resultando no pânico entre as pessoas que necessitam sair às ruas altas horas da noite ou madrugada‘, continuava o Correio, apresentando-se como uma espécie de defensor da sociedade Anapolina.
Contando a história
Paulo Nunes Gonçalves, correspondente do jornal O Popular em Anápolis, contou um pouco de como era feito o jornalismo na década de 1970. Ele, que teve sua carteira de trabalho assinada pela Organização Jaime Câmara em 1979, explicou que uma das grandes dificuldades em se produzir notícias era o recebimento de fotos na redação. Elas vinham por sinal de telefone ou de rádio. Outras dificuldades foram relatadas por ele, como a estrutura das redações.
“Para pegar notícia, a gente só tinha um telefone fixo”, detalhou. “A Notícia era transmitida via telex”, “Como se fosse uma ligação telefônica”, explica. Ele informou que “o barulho de máquina (de datilografar) na redação era ensurdecedor”, o que atrapalhava o trabalho dos redatores, repórteres e demais membros da equipe de redação do jornal. Na época, ele era da editoria de Esportes de O Popular.
“A qualidade do jornal já era boa”, informou. “A linguagem (empregada no jornal) praticamente é a mesma” hoje em dia, quando comparada com a daquela época. Com relação à ideologia do periódico, “era um jornal que tinha uma postura de maior seriedade” e também “que tinha uma postura com uma certa independência”, confidenciou. Sobre os profissionais da área de Esportes que trabalharam em Anápolis na sua época, ele rememorou que muitos vieram do Rádio e foram incorporados ao noticiário diário impresso. “Era tudo feito a canivete”, humoriza sobre a maneira como foram formados os repórteres da área esportiva em Anápolis.
Futuro
Sobre o Jornalismo impresso, Paulo Nunes sinaliza que “tudo indica que o jornalismo impresso terá que ter uma nova roupagem”. Ele acredita neste tipo de veículo de comunicação e aprecia a notícia veiculada nas páginas de um jornal. “Pra mim se não sair aqui (no jornal impresso), não saiu a notícia”. “Pra mim não vale. Se não sair aqui, é como se não tivesse saído”, continua. Ele observa, porém, que “os pequenos jornais não vão suportar por muito tempo”. Sobre dificuldades da profissão, ele explicita que “o salário (do jornalista) hoje é complicado”.
70 anos de Anápolis
A Gazeta de Anápolis também estava em circulação por aqui durante os idos da década de 70. Este jornal produziu uma matéria especial de capa sobre os 70 anos da cidade no dia 31 de julho de 1977, dia do aniversário do município. O relato da Gazeta dizia: ‘70 anos de trabalho e história são contados hoje, neste 31 de julho que marca a concretização dos sonhos idealistas daqueles homens que trabalharam e criaram as condições necessárias para que Anápolis pudesse se orgulhar dos seus feitos, de sua primazia como cidade mais importante de Goiás e núcleo cosmopolita de integração do centro-oeste brasileiro‘.
‘Artistas anapolinos estão sem mercado de trabalho‘
Não é de hoje que o tema das dificuldades dos artistas anapolinos é colocado em discussão. Na edição do dia 13 de junho de 1977, a Gazeta de Anápolis trouxe à tona este assunto. A matéria dizia que, ‘encontrando sérias dificuldades para o trabalho e falta de condições para exporem as suas obras, os artistas anapolinos estão em fase de improdutividade e dispostos a procurarem outros que lhes ofereçam melhor mercado e maior valorização‘.
Na época, o renomado pintor anapolino Isaac Alarcão, em atividade, até hoje, na Cidade, foi entrevistado pela reportagem da Gazeta. O artista se mostrou pessimista quanto à possibilidade de construção de uma galeria de artes em Anápolis, promessa feita pelo Governo Estadual naquele tempo. “Nós temos quase a certeza de que isso não acontecerá, ficando como alternativa a esperança de que a Prefeitura Municipal, através do seu departamento de cultura, assuma a responsabilidade e crie condições para que os nossos artistas continuem a produzir e tenham melhora na comercialização dos trabalhos, pois do contrário dentro de pouco tempo Anápolis ficará isolada e sem representantes no campo da arte”, disse Alarcão à época.
“Se por um lado, os artistas tentam uma aproximação com os órgãos competentes, alguns políticos, com a intenção de fazer média política fatalmente nos prejudicam, principalmente porque desejam assumir a responsabilidade pelo nosso empreendimento e imediatamente esquecem-se dos compromissos assumidos”, reclamou.
O Jornal Contexto agradece ao Museu Histórico de Anápolis Alderico Borges de Carvalho, na pessoa do diretor Tiziano Mamede Chiarotti e toda a sua equipe, por contribuir para a pesquisa e reportagem sobre a história do jornalismo na cidade. Incentivamos os leitores a visitarem o museu para conhecer um pouco mais sobre o município e seu processo de construção.