Com certeza, 2012 ficará registrado nos anais da história política do Município como, talvez, um dos mais atípicos. Isto porque, não faltaram escândalos que rechearam o noticiário das mídias local, regional e nacional. E, em meio a tanta turbulência, a Cidade teve uma das eleições mais tranquilas de todos os tempos.
No dia 29 de fevereiro, a Cidade foi sacudida com a prisão do empresário Carlos Augusto Ramos, o “Carlinhos Cachoeira”, pela Operação “Monte Carlo”, que investigou a sua participação numa organização que explorava ilegalmente uma rede de máquinas caça-níquel. Além disso, escutas telefônicas, autorizadas pela Justiça, mostraram o envolvimento do contraventor com políticos e empresas, dentre elas a construtora Delta, que passou a ser, também, um dos pivôs do escândalo que levou o Congresso Nacional a instalar, no dia 25 de abril, uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito).
O “Caso Cachoeira” envolveu políticos como os governadores de Goiás e do Distrito Federal, Marconi Perillo (PSDB) e Agnelo Queiroz (PT), respectivamente; o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT); os deputados Carlos Leréia (PSDB), Rubens Otoni (PT) e Sandes Júnior (PP), além de vários outros políticos e empresários. O Senador Demóstenes Torres, que foi eleito pelo Democratas e ficou sem partido, teve o mandato cassado em sessão do Senado Federal, no dia 12 de julho. Ele chegou ao Senado em 2002 com mais de 1,2 milhão de votos. Em Anápolis, à época, Demóstenes obteve votação bastante expressiva, onde a sua suplente era a ex-primeira-dama Sandra Melon, então casada com o ex-prefeito Ernani de Paula.
No mês de abril, outro escândalo voltou a mexer com o meio político anapolino: o vereador Wesley Silva (PMDB) foi preso pela operação “Saint-Michel”, um desdobramento da operação Monte Carlo, conduzida pelo Ministério Público do Distrito Federal, que investigou irregularidades no processo de licitação para a implantação da bilhetagem eletrônica no transporte coletivo de Brasília. O esquema, supostamente, favoreceria a empresa Delta e, por conseguinte, a organização de Carlinhos Cachoeira. O parlamentar passou 52 dias presos no Complexo Penitenciário da Papuda e, no seu retorno, deu entrevista à imprensa, onde negou todas as acusações.
Em meio aos escândalos, os partidos políticos intensificaram a movimentação visando a sucessão municipal. O PMDB, que sempre lançou candidato a Prefeito, anunciou, no mês de maio, que iria apoiar a reeleição de Antônio Gomide (PT). A intenção era de que o partido ficasse com a vice na chapa, mas no mês seguinte, passadas as convenções, o Partido dos Trabalhadores repetiu a chapa de 2008, com Antônio Gomide e João Gomes. Outros candidatos homologados pelas convenções foram: Wilson de Oliveira (DEM); Elismar Veiga (PPS), Gérson Fallacci (PHS) e José de Lima (PDT). Para a Câmara de Vereadores, os partidos lançaram quase 500 candidatos para concorrer às 23 vagas, oito a mais do que as 15 da atual legislatura.
La Plata
No mês de agosto, estourou um novo escândalo, desta vez, por conta da Operação “La Plata”, deflagrada pelo Ministério Público de Goiás, por meio do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e do Centro de Segurança Institucional e Inteligência (CSI), com apoio das 8ª., 11ª. e 15ª. Promotorias da Comarca local que investigou, para fins de processo judicial, um grupo de 12 pessoas sob acusação de corrupção ativa e passiva, peculato, formação de quadrilha, dentre outros ilícitos. Segundo a peça de acusação, foram presos: o vereador Wesley Silva (PMDB) e a sua mulher Andréia Gonçalves Silva e o chefe de gabinete do parlamentar, Nasson Costa; os irmãos empresários Ailton, Paulo e Jairo Moreira Alves e a funcionária do Grupo Lírios do Campo, Rosângela Bento Xavier; Josemar de Melo, servidor do Ministério Público; os servidores públicos municipais Mauro Rocha Carneiro e o seu filho Guilherme Rocha Carneiro e o engenheiro Sérgio Ramos, além da empresária Marcela Reis Pedreiro. Foram chamados a prestar informações ao MP, através de mandado de condução coercitiva, o presidente da Câmara Municipal, vereador Amilton Batista (PTB); o, então, secretário de Meio Ambiente da Prefeitura, Luiz Henrique Fonseca; Charles Aguiar e, por engano, o Ministério Público o diretor da Divisão de Postura, Leonardo Xavier Nunes, equívoco esse admitido pelo próprio MP.
Gomide eleito
Em outubro, os anapolinos foram às urnas e deram a Antônio Gomide uma votação histórica, com quase 90 por cento dos votos válidos, proporcionalmente, uma das maiores vitórias do País. Na Câmara Municipal, quatro vereadores (Amilton Batista e Márcio Jacob, do PTB e Asseff Nabem e Wesley Silva, do PMDB) não concorreram e, dos 15 que postularam o retorno, conseguiram a reeleição: Mauro José Severiano (PDT); Luiz Lacerda (PT); Dinamélia Rabelo (PT); Mirian Garcia (PSDB), Fernando Cunha (PSDB) e Pedro Mariano (PP), este último, o mais votado da história do parlamento municipal, com 3.316 votos conquistados. Não se reelegeram: Valmir Jacinto (PTC); Gina Tronconi (PPS); Domingos Paula (PTB), João Feitosa (PP) e Sírio Miguel (PSB).
No mês de dezembro, em razão da Operação La Plata, a Justiça determinou que os envolvidos ficassem impedidos de ter acesso aos órgãos públicos e de exercerem as suas funções. A medida atingiu o presidente e o vice-presidente da Câmara Municipal, os vereadores Amilton Batista (PTB) e Wesley Silva (PMDB), respectivamente. Em um processo distinto (por denúncia de abuso de poder econômico na campanha de 2008), o vereador Domingos Paula, que era secretário da Mesa, também foi afastado do cargo. O vereador do PSDB, Fernando Cunha, assumiu a Presidência da Casa.
A Câmara Municipal acabou não criando, neste meio tempo, a comissão de ética que avaliaria a quebra de decoro parlamentar do vereador Wesley Silva, o que poderia resultar na cassação de seu mandato e a perda dos direitos políticos. Ele, entretanto, continua respondendo na justiça as acusações das duas operações: “Saint-Michel” e “La Plata”.
Condenado
O contraventor Carlinhos Cachoeira foi solto no início de dezembro, preso alguns dias depois e liberado novamente. Ele, também, continua respondendo às acusações que lhe foram imputadas. Através de despacho do juiz federal Alderico Rocha Santos, Cachoeira foi condenado a 39 anos e oito meses de prisão, por corrupção ativa; peculato, violação de sigilo e formação de quadrilha. Na sentença, o magistrado afirmou que Cachoeira cometeu os crimes durante 17 anos e que, durante todo esse tempo, contou com ajuda de policiais e políticos e, por isso, ainda segundo o juiz, “passou tanto tempo agindo na impunidade”.