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Por Vander Lúcio Barbosa / Carol Evangelista
O advento da ferrovia em Goiás foi motivado pela força política e por grupos econômicos que defendiam a modernização dos meios de transportes, a interiorização da economia nacional e a facilitação do ingresso dos manufaturados oriundos do eixo Rio/São Paulo, assim como o envio da produção primária (café, arroz, gado em pé, milho e outros produtos gerado em Goiás). Mas, o Estado se achava localizado fora das áreas de maior destaque para a exportação, o que fez com que recebesse poucos recursos financeiros. Levou-se, aproximadamente, dez anos para que a estrada de ferro atingisse Anápolis, o que aconteceu, oficialmente, no dia 07 de setembro de 1935.
A Estação Ferroviária de Anápolis, ” Prefeito José Fernandes Valente”, foi contruída em 1934 e inaugurada no dia 7 de setembro de 1935. Detalhe: sem trilhos.
Anápolis, juntamente com outras cidades que abrigavam pólos de desenvolvimento regional, se empenhou para manter estes terminais férreos. Isto fez com que a Cidade prosperasse, mantendo, durante muito tempo, características e fortes relações com este sistema de transporte. Até hoje, a Cidade guarda resquícios do seu modelo de desenvolvimento relacionado com a linha ferroviária em seus traços urbanos.
De acordo com dados do IBGE, em 1994, Anápolis era o segundo município mais populoso e por meados da década de 20 foi denominada a “Manchester Goiana”, isso por causa do grande dinamismo econômico da época e às expectativas quanto à estrada de ferro e numa alusão à cidade homônima, na Inglaterra, mundialmente famosa por ter sua economia voltada para a industrialização.
Motivada pelo progresso, ocorrido no período de 1910 a 1935, Anápolis experimentou expressivo crescimento populacional. A partir de 1950 já era conhecida como pólo agroindustrial
Paralelamente a esses acontecimentos que marcaram o século XX, no ano de 1922, acontecia em São Paulo a Semana de Arte Moderna, dentre outros movimentos de tendências extremamente modernas, no campo da literatura; da pintura; da fotografia; da arquitetura, dentre outros, que contribuíram de forma singular para o País aderir ao estilo Art Déco. A expressão, de origem francesa, se refere à arte decorativa, constituindo-se em um estilo que rapidamente se tornou modismo internacional. Originou-se em Paris, com a grande mostra Exposition Universelle des Arts Décoratifs.
No Brasil, o fato de se começar a prática da arquitetura de estilo Art Déco, foi considerado uma evolução, uma proposta de substituição da “Art Nouveau”, que se preocupando com a originalidade da forma, tinha relação direta com a Segunda Revolução Industrial e com a exploração de novos materiais, como o ferro e o vidro, o que, para a época, já era considerado ultrapassado.
Em Goiás era discutida a ideia de transferência da Capital, na então Vila Boa de Goiás (Cidade de Goiás, ou Goiás Velho). E, foi durante esse período dos anos trinta, no ardor da Revolução, que levou Getúlio Vargas ao poder, que ocorreu a introdução da Art Déco tornando-a possível no Estado, através de um discurso de modernidade. Com a liderança de Pedro Ludovico Teixeira e o apoio do presidente Getúlio Vargas, foi projetada a nova Capital do Estado.
Com Goiânia, a nova capital, experimentando essa modernidade, Anápolis sentiu essa repercussão na sua arquitetura, uma vez que, nesse período, a Cidade estava buscando, também, a modernidade, com vários imigrantes chegando e que tinha como símbolo a inauguração da Estação Ferroviária em 1935. Tanto é que o prédio da antiga Estação Ferroviária que ainda permanece com sua estrutura original e pode ser visto nas imediações do terminal urbano, se constitui em uma das maiores expressões da Art Déco de Anápolis. Com o decorrer do tempo, as antigas casas coloniais deram lugar as novas casas e novos prédios nesse estilo.
Coreto da Praça Cívica – propriedade Municipal. Prefeitura Municipal de Goiânia. Tombamento: processo do CEC n. 302/81 (2.100-2.299/82). Despacho n. 1.096/82 de 18 de Outubro de 1982.
A Art Déco, também, era mantida por causa da preocupação que se tinha em mostrar o valor histórico que a sociedade produzia. No caso de Anápolis, esse tipo de arquitetura foi considerado patrimônio histórico e arquitetônico. Até hoje, parte dessa arquitetura mantem-se tombada e é patrimônio histórico municipal. São edificações como o Mercado Municipal; a antiga Estação Ferroviária; o Coreto da Praça James Fanstone; o Palácio Cultural (antigo Fórum de Anápolis), além de antigos estabelecimentos comerciais e residências na chamada “parte velha” da Cidade. Muitas dessas fachadas continuam intactas, porém sem visualização, devido às placas e painéis de lojas e outras empresas comerciais nelas instaladas. Mas, é uma arquitetura rica em estilo Art Déco que merece ser preservada.

Museu Histórico de Anápolis “Alderico Borges de Carvalho”, sediado na Rua Coronel Batista, 323, no CentroPalácio da Cultura de Anápolis, antigo Forum da Cidade – Praça Bom Jesus
Entretanto, antes de a Art Déco ganhar espaço em Anápolis, a arquitetura em estilo colonial era a mais comum. Um dos poucos imóveis que, ainda, mantém sua característica colonial de forma integral, ou seja, sem passar por modificações, é a antiga casa do Coronel Zeca Batista onde, hoje, funciona o Museu histórico “Alderico Borges de Carvalho”.
A arquitetura moderna foi outro segmento de construções que fez parte da história anapolina. As tendências modernistas priorizavam a finalidade da obra e eliminavam, ao máximo, os ornamentos. Foram construídas após os anos 50 por arquitetos e engenheiros, geralmente formados no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, ou ainda por projetistas sem formação acadêmica. Apesar de todo o ar de modernidade que os anapolinos respiravam, os moradores eram ainda conservadores. Quando começaram a surgir na Cidade as primeiras casas de cunho moderno, as ideias que as concebiam foram recebidas com certa desconfiança: “É uma casa sem modelo, dizia meu marido. Naquela época, éramos acostumados a casas com telhados vistosos” relembra a Senhora Abadia Silva, dona de uma residência modernista na Rua Benjamin Constant.