Anápolis tem sido refúgio para vários venezuelanos. Todo anapolino que passa nas imediações do cruzamento da Avenida Goiás com a Brasil, provavelmente, já avistou algum pai de família refugiada com um cartaz de papelão na mão, anunciando que procurara algum emprego para manter a si mesmo e a sua família. Essa cena tem se tornado cada vez mais comum pelo Brasil afora depois que a situação política e social da Venezuela tomou rumos devastadores nos últimos meses, sob gestão ditatorial de Nicolás Maduro. Estima-se que, até o final de 2019, 5 milhões de venezuelanos terão deixado seu país natal e, são esperados, no Brasil, pelo menos 200 mil cadastrados na fronteira. Número que tende a ser muito maior levando em consideração as travessias clandestinas.
Na semana passada, uma equipe de abordagem social da Secretaria de Desenvolvimento Social, Trabalho, Emprego e Renda fez um mapeamento da cidade depois de algumas denúncias, a fim de encontrar refugiados em situações precárias para, assim, auxiliá-los e encaminhá-los aos devidos órgãos assistenciais. Uma família foi encontrada, na Rodoviária da Cidade, e tem sido assistida de perto desde então. Foram orientados a regularizarem CPF e Carteira de Trabalho, e providenciar documentação internacional, como Passaporte, junto à Polícia Federal, bem como cadastro no Sistema Nacional de Emprego (SINE) para quer possam aguardar seu encaminhamento para as vagas disponíveis ao perfil. Outra orientação, foi para procurar o Espaço da Oportunidade, que fornece cursos de qualificação.
Mas a situação tem saído do controle do órgão de Assistência Social. No último sábado, 18, outra família chegou na cidade e tem se “hospedado” na rodoviária desde então, totalizando agora um total de 14 pessoas (5 mulheres, 4 homens e 5 crianças). Uma mulher, inclusive, está grávida de 6 meses. Eles são da tribo de Warao, localizada no estado de Delta Amacuro, cerca de 750km da capital venezuelana, Caracas. Em contato com o Jornal Contexto, um dos representantes da família, Osomer Christiano, disse que ainda não conseguiram contatar a Assistência Social e têm procurado se manter por conta própria, e se proteger como podem do frio e da insegurança nas imediações da rodoviária.
Entenda
A Venezuela tem sido prejudicada econômica e socialmente, desde a ditadura chavista. Após a morte de Hugo Chávez, que assumiu a presidência do país em 1999, Maduro, que era seu vice-presidente, chegou à liderança do país em caráter interino e então convocou eleições. Acabou eleito para um mandato de seis anos em 2013, num pleito apertado e cujo resultado foi contestado por Henrique Capriles, candidato opositor.
Em 2018, em novas eleições, foi reeleito em eleição geral mas recebeu inúmeras denúncias de fraudes, dando, assim, início à atual crise. Com a legitimidade do pleito questionada, a economia do país foi comprometida ainda mais, atingindo hiperinflação negativa de aproximadamente 35%. Em janeiro de 2019, Maduro tomou posse para o segundo mandato e teve como resposta de Juan Guaidó, uma autodeclaração, onde o mesmo apresentou como presidente interino na Venezuela. Agora, a oposição luta pela saída imediata de Maduro da presidência e a convocação de um novo pleito. Hoje, 48% da população vive em condições de pobreza. A violência também estourou país afora, levando a capital Caracas ao topo do ranking das cidades mais violentas do planeta.