Uma das características da pós modernidade é a desinstalação. Quase não existem rituais e formas estabelecidas, e não dá para saber, com certeza, até que ponto isto é positivo.
Não estou pensando em ritos religiosos, que tendem a engessar-se, embora certos rituais religiosos também sejam positivos: ter horários e programas espirituais, quer seja a participação na missa ou nos cultos. Crianças gostam de ir à igreja, cumprir certos ritos mágicos ou sagrados. Adultos também sentem a mesma necessidade.
A ausência de ritos traz instabilidade. Por isto culturas criam ritos: O da circuncisão no povo judaico e islâmico, os batismos e iniciações religiosas, os ritos culturais em tribos animistas como o ato de carregar pesados troncos de madeira entre determinadas tribos para que o rapaz mostre sua virilidade e masculinidade, ou o afastamento da jovem do seu círculo social no primeiro ciclo menstrual, demonstrando que agora é uma mulher.
Existem outros ritos sociológicos e familiares igualmente importantes: As férias na casa dos avós, a viagem com determinados amigos, um programa semanal da família como pescar, ir ao cinema, jogar boliche ou dominó, desde que isto aconteça dentro de uma certa periodicidade são verdadeiros ritos.
Meu pai não possuía muitos ritos com a família, mas anualmente íamos pescar e acampar. Tudo era muito provisório e precário, mas ao mesmo tempo empolgante. Tralhas de pesca, cozinha, roupas de dormir, colchões, cinco filhos dentro de um pequeno carro, e lá íamos nós. Este rito da vida era aguardado ansiosamente.
Em junho de 2009 fui com meus queridos amigos, Tânea e Iraci, passar uns dias numa deliciosa casa à margem do Lake Champlain, no Estado de Vermont, divisa com Canadá. Na volta, as filhas queriam parar num determinado restaurante, e disseram ao pai, que não poderiam deixar de passar por lá, porque já fazia 10 anos que sempre comiam naquele lugar. O que na verdade queriam, além de comer, era que não se perdesse o elemento simbólico do rito familiar.
Vida sem programa, sem horário, sem ritos, pode parecer atraente para alguns, mas todo ser humano precisa de alguma rotina para organizar seu universo interior, neste universo invisível subjacente ao rito. Parece que a natureza determina certa previsibilidade: O nascer do sol, a época das chuvas, tempo de estio, plantio e sementeira, colheita e nascimento. A natureza se rende aos ritos para construir sua própria dinâmica.
Não será que o ciclo da vida deveria ser considerado por nós como alguma coisa também necessária?
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