O País inteiro está comemorando a nova lei de adoção para crianças e adolescentes sancionada, esta semana, pelo Presidente da República. Para muitos, um avanço considerável. Seria o fim da angústia vivida por milhares de órfãos e abandonados (calcula-se em torno de 80 mil no País), que foram parar, cada qual por um motivo, nas chamadas casas de passagem. É a triste realidade vivida por seres humanos que, sem qualquer culpa, acabaram nessa situação. Muitos já perderam as esperanças de, um dia, terem um lar convencional, uma casa para morar. Na maioria dos casos, orfanatos e abrigos não passam de depósitos de crianças e adolescentes onde o que menos se vê é dignidade. É certo que vários outros estabelecimentos cuidam desses seres humanos com amor, carinho e a dedicação que lhes faltou no começo da vida.
Vida em orfanato é a coisa mais dura de encarar. É só perguntar a quem já experimentou, ou experimenta, essa situação. Por melhor que seja o ambiente, fica sempre o vazio, a falta do calor humano, do aconchego de um lar. Dirão muitos que, entretanto, o orfanato é bem melhor do que as ruas. E é uma verdade incontestável. É isso mesmo.
Agora, entretanto, estão surgindo melhores condições para se adotar uma criança ou um adolescente. As exigências são bem menores, os condicionamentos foram reduzidos. Só se espera, todavia, que os pretensos adotantes, os futuros pais e as futuras mães, não levem este processo pela emoção, pela curiosidade ou pela euforia causada pela mídia. Para se adotar uma criança é preciso de muita estrutura emocional, física e sentimental. A começar pela aceitação e, não, pela escolha. Ninguém pode ir a um abrigo e “escolher” uma criança. Até porque, criança não é objeto. Criança é ser humano, tem carências, tem sentimentos, tem emoções. Volta e meia, a mídia noticia casos de pessoas que adotaram crianças e/ou adolescentes e, em poucos meses, até em poucas semanas, se arrependeram e “devolveram” como se estivessem tratando com mercadorias. Isso é inadmissível.
Quem assim procede, além de cometer uma crueldade, quase um crime, está ferindo, ainda mais, a alma de um ser que já vem com a marca da dor de não ter uma família. Desta forma, antes de adotar, é preciso que o pretendente esteja com a consciência do que vai fazer. Não se deixar levar pela euforia, pela vontade superficial e, muito menos, pelo desejo de fazer parte de uma nova geração de “pais adotantes”. É preciso, antes de tudo, que se consulte o coração. A alma de uma criança levada do orfanato e “devolvida” algum tempo depois, fica com uma cicatriz que não se apaga nunca. Não seja você o causador dessa marca.
Passado, presente, futuro!
O ano que chega, como reza a tradição, é um convite à reflexão acerca daquilo que passamos no ano anterior...