Dizem que, no Brasil, as coisas só começam a acontecer depois do carnaval. Verdade ou mentira, exageros à parte, há certa razão em tudo isso. Ou seja, a voz geral há de ser ouvida. Senão vejamos: quando é que as emissoras de TV iniciam a programação geral do ano? Não é depois do carnaval? Quando é que o Congresso Nacional funciona, de verdade? Não é depois do carnaval? Quando é que os concursos públicos, os grandes eventos e as grandes decisões acontecem nesse País? Não é depois do carnaval?
Então, o que se diz em tom de chacota, de pilhéria, de brincadeira, em parte, procede. Não deveria ser assim, mas é. Enquanto isso, perdemos dois meses de vida ativa no Brasil. Para quem gosta do carnaval, é uma beleza. O ano fica mais curto. Mas, e para quem tem de trabalhar, pagar impostos, fazer girar o capital? E para as empresas que são obrigadas a interromperem sua produção durante quatro dias ou mais? Sim, porque a chamada “ressaca do carnaval” deixa os trabalhadores cansados, sonolentos, improdutivos, desanimados, necessitando de mais descanso para compensarem a semana que descansaram (ou cansaram) pulando carnaval.
Este é o Brasil em que vivemos, esta é a realidade à frente da qual estamos e com ela temos de conviver. Brasileiro, em geral, só começa a produzir mesmo, depois da que se convencionou chamar de “a maior festa do mundo”. Entretanto, alguns questionamentos hão de ser feitos. Dentre eles, a quem, realmente, interessa o carnaval? Quem ganha e quem perde com ele? Ora, é uma matemática simples: se alguém está perdendo, é sinal de que alguém está ganhando. Ou não? O certo é que, até hoje, ninguém sabe por que motivos o carnaval brasileiro tomou estes rumos, onde milhões e milhões de reais são consumidos, entrando aí, dinheiro público e dinheiro privado. Mas, os foliões continuam pobres, muitos deles miseráveis. Outros perdem um pouco do quase nada que tinham. Muitos outros perdem quase tudo do pouco que lhes restava e, uma grande maioria, perde tudo. Perde parte da saúde, da moral, do trabalho, do dinheiro e da dignidade. Muitos acabam perdendo a vida nos mais variados eventos de violência que a crônica policial registra nesse período.
Sem nenhum sentido moralista, ou de aversão à festa que é do agrado de (quase) todos os brasileiros, se olharmos direito, se avaliarmos e analisarmos, vamos ver que há coisas mais importantes no Brasil do que o carnaval. Certamente que sim. Há muito o que se fazer para diminuir o nível de pobreza, há o que se fazer para melhorar o nível do ensino, a qualidade da segurança e da saúde públicas, além da infraestrutura das cidades. Se os governos cuidassem da população com o mesmo entusiasmo com que cuidam (e gastam) do carnaval, certamente a qualidade de vida dos brasileiros, inclusive dos carnavalescos, seria bem melhor. É bom saber, finalmente, que nos países mais desenvolvidos do que o nosso, em nenhum deles, tem uma festa que dure quatro dias e que fica o ano todo sendo preparada. Falando nisso, será que agora, depois do carnaval, a coisa anda no Brasil? Tem de ser. Afinal de contas, daqui a 40 dias vem a Semana Santa, quando tudo pára. De novo.
Vander Lúcio Barbosa, publicitário, diretor geral do CONTEXTO.
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