“Amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito”. Ouvi muitas vezes essa frase, parte da “Canção da América”, interpretada por Milton Nascimento. Um hino à amizade. Mas no dia em que alguém me ofertou um livro, e em sua dedicatória transcreveu esta parte da canção, meu coração se alegrou, e naquele momento pude melhor entender porque o cantor/compositor sugere que guardemos o amigo no coração.
Meus pensamentos viajaram pelos anos que testemunharam uma história de amor, de cumplicidade, de irmandade, de paternalismo, de afeição, de amizade. Lembro-me que sentado à mesa, em meio à comezaina e tantos amigos e familiares, pessoas que me são caras, olhando para os olhos e gestos daquele que fez das palavras do cantor as suas, sabendo ele escrever tão bem, fui capaz de compreender muitas coisas sobre a amizade.
Naquela noite, em dia de meu aniversário, entendi que a amizade não se conquista, pois é uma opção de escolha. Percebi que a amizade é uma descoberta da alma irmã e um bem precioso que jamais será perecível. Naquele momento enxerguei que a amizade é um tesouro sem preço, uma jóia gratuita, uma dádiva de Deus. Vi também que o amigo, caso necessário, pode ser a luz para os nossos pés nas caminhadas de dúvidas, de aflição. Pude compreender ainda que amigo é aquele que não mede esforços para demonstrar seus sentimentos, não teme as conseqüências do apoio nas horas incertas e não pensa em si antes de se doar porque sabe que a amizade é o mais sublime dos sentimentos.
Tenho amigos assim. Pessoas mágicas que dividem suas vidas comigo, que me presenteiam com seus olhares meigos, com suas palavras doces, com seus gestos amáveis. Amigos como os citados em provérbios de Salomão, “que nos querem bem, mesmo quando os ferimos”. Tenho amigos assim, verdadeiros anjos – mensageiros de Deus – que me ensinaram a caminhar, a crescer, e insistem, apesar de minha rabugice, , a trilhar ao meu lado. Dia após dia, anos após anos.
Tenho amigos assim, tipo o Nilton Pereira, “meu amigo de fé, meu irmão, meu camarada”, aquele que transcreveu Milton Nascimento para me mostrar que o lado esquerdo do nosso peito foi feito para guardar os amigos que vamos (es)colhendo vida afora…
Passado, presente, futuro!
O ano que chega, como reza a tradição, é um convite à reflexão acerca daquilo que passamos no ano anterior...