No centenário da morte de Joaquim Maria Machado de Assis, considerado, por muitos, o maior escritor que o Brasil já teve (há controvérsias) nada mais justo, e, nada mais oportuno, do que relembrar um de seus maiores sucessos literários: “Quincas Borba”. Nesse romance, o personagem principal (Quincas), explica a Rubião, o “princípio de Humanitas”, ou, humanitismo, exemplificando a guerra entre duas tribos por um campo de batatas. Quem leu o romance sabe que as batatas eram suficientes para alimentarem apenas uma tribo, mas que a pouca distância, havia batatas para todo mundo. Só que, para chegar lá, era necessário que os pretendentes se alimentassem, o que determinou a guerra entre eles, até que um destruísse o outro. Se repartissem as batatas, ninguém alcançaria o outro campo. Assim sendo, nesta situação, a paz significaria destruição e, estranhamente, a guerra simbolizaria a conservação.
Estamos a poucas horas do segundo turno em Anápolis. Agora, depois de sete candidatos, ficaram apenas duas “tribos” disputando um número aproximado de 180 mil batatas, ou votos, já que, dos mais de 200 mil eleitores, cerca de 15 por cento, conforme a tradição, deixarão de comparecer às urnas. Cada qual por seu motivo. Aqui, todavia, a situação difere, um pouco, da citada no romance machadiano, pois “a causa é nobre”. A luta pelos votos, ou, pelas batatas, coloca em jogo os destinos da mais importante cidade do interior goiano, quem sabe, uma das mais importantes do Brasil Central, por que não? Aí, certamente, vale a disputa, uma vez que a multidão espera que o vencedor, conforme o texto do escritor, fique com as batatas, mas faça delas, um bom uso. Ou seja, os milhares de votos endereçados ao ganhador, servem como documento de aval, para que ele justifique, com atos, ações e trabalho honesto, a confiança depositada em seu projeto de governo.
O que não se deseja, todavia, é que o vencedor, ou a vencedora, do pleito, receba o mandato como um punhado de “batatas quentes”, conforme pejorativamente se refere a situações desagradáveis. Neste exemplo, pontualmente, não se justificaria qualquer ponderação, pois, ao longo de muitas semanas, e, até de muitos meses, os concorrentes, todos eles, tiveram tempo suficiente para conhecerem os problemas da cidade e não economizaram, durante a propaganda eleitoral, o apontamento de soluções para resolvê-los. O que apresentaram de propostas para acabar com problemas crônicos, problemas medianos e pequenos problemas para melhorarem a qualidade de vida dos anapolinos, foi uma barbaridade. E são estes mesmos anapolinos, que votarão no domingo, 26, elegendo seu prefeito ou sua prefeita. Quem ganhar, leva consigo a responsabilidade de governar para vencedores e vencidos. Certamente que a cidade inteira estará acompanhando tudo muito de perto. E, conforme diz o texto de Machado de Assis: “Ao vencido, o ódio, ou a compaixão. Ao vencedor, as batatas”. Quentes ou frias.
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