O mundo do marketing e da mídia reconhece que o ser humano se move por desejo. É isto que nos impulsiona. Desejamos satisfação imediata daquilo que nos atrai, e os marqueteiros oferecem satisfação garantida. Não é sem razão que facilmente estouramos os limites do cartão de crédito e apesar de termos acesso tão fácil e possibilidades cada vez mais acessíveis, ainda continuamos vazios e carregados de desejos, esperando a próxima aventura e maior adrenalina.
A Bíblia relata o povo de Deus no deserto, reclamando da monotonia do maná e com saudades da comida do Egito. O povo de Deus foi saciado. Deus enviou milhares de codornizes e eles puderam recolher grande quantidade de carne, mas seus desejos estavam tão desajustados que passaram a comer desvairadamente, e a sofreguidão os levou à morte enquanto ainda comiam. Aquele lugar se tornou um grande cemitério, e o povo deu o nome em hebraico de Quibrote-Hataavá, que quer dizer ´As sepulturas do desejo´ (Números 11.32-34).
O Sl 106.15, posteriormente analisa este trágico evento: ´Concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma´. Isto demonstra que, o desejo deles se tornou laço, destruição e armadilha. Existe um termo bíblico, concupiscência, raramente usado em ambientes que não sejam teológicos, que fala de um risco presente na alma humana. Sua tradução mais imediata seria ´desejo estragado´. Temos desejos legítimos, que lamentavelmente estão adoecidos e pervertidos, por isto não nos satisfazemos quando os realizamos.
´Nosso Senhor considera os nossos desejos não demasiadamente fortes, mas demasiadamente fracos. Somos criaturas perdidas, correndo atrás do álcool, sexo e ambições, desprezando a alegria infinita que se nos oferece, como uma criança ignorante que prefere seus bolinhos de barro no meio do chiqueiro, porque não consegue imaginar o que significa um convite para passar as férias na praia´ (C. S. Lewis, O peso da Glória).
Nosso desejo mais profundo é por Deus, e não por coisas que conquistamos e que se tornam substitutas para aquilo que só Deus pode satisfazer, como bem afirma a teologia clássica: ´somos seres finitos com desejos infinitos´. Existem dentro de nós desejos que só Deus pode satisfazer.
Buscamos desesperadamente por coisas que nos satisfaçam, projetamos nossa dor e anseios em coisas finitas, sem saber que isto não pode nos satisfazer, e o resultado será maior frustração, vazio e desespero.
Assim, desencontrados em nossos adoecidos desejos, terminamos nossa vida de forma angustiante e vazia, sendo levados para ´as sepulturas do desejo´.
Obrigada por esclarecer essa passagem bíblia, pois quando a li pela primeira vez achei pesadas as consequências do desejo descontrolado e das murmurações constantes do povo de Deus.