Somente este ano quase 400 pessoas foram assassinadas em Goiânia. São os dados frios dos registros na polícia, sem contar os que foram encaminhados para hospitais e acabaram morrendo. Sem se falar nos que ficaram inutilizados, paraplégicos, tetraplégicos, inválidos, devido à violência urbana de que foram vítimas, em muitos casos, vítimas inocentes da banalização a que chegou o crime no Brasil.
Não é mais preciso se recorrer aos noticiários da Baixada Fluminense, do Entorno de Brasília, nem da Baixada Santista. Os crimes contra a pessoa estão entre nós, na rua onde moramos, na empresa onde trabalhamos ou na escola onde estudamos. A vida passou a não valer quase nada. Ou nada. As manchetes que antes nos horrorizavam, mostrando a crueldade dos assassinatos vitimando jovens, adultos e até idosos, agora envolvem as crianças também. E os executores não se contentam mais em somente matar. A onda, agora, é mutilar, vilipendiar, barbarizar. Afinal de contas, estamos ultrapassando os limites do racional, chegando às raias do horror barato, do terror disseminando entre as populações, sejam ricas, sejam pobres, sejam remediadas. A violência deixou de ser exclusividade dos morros, das favelas, dos subúrbios, e está, mais do que nunca, presente em meio à chamada sociedade organizada.
Em troca de quê, se mata tanto no Brasil, muito mais do que nas guerras, sejam elas religiosas, sejam elas doutrinárias, sejam elas políticas, pelos quatro cantos do mundo? Nem na Colômbia, onde os narcotraficantes impõem o império do medo, se registra tanto crime assim. Muito menos nos países em conflito na África ou no Oriente Médio, onde as guerras são ideológica, políticas ou raciais. No Brasil está ficando pior. Em Goiás está ficando pior. Em Anápolis está ficando pior. Fazer o quê?
Há o que fazer, sim. Antes que sejamos as próximas vítimas. Trancar-se em casa, colocar cercas elétricas, muros altos, grades por todos os lados, não adianta. Carro blindado, segurança particular, isolamento da sociedade, também está provado que não adianta, não resolve. A nossa batalha tem de ser clara, escancarada, transparente. Temos de nos mobilizar enquanto sociedade, criar mecanismos inteligentes e toleráveis, para não vermos nossos filhos, nossos netos, nossos amigos e, até, nós mesmos, sendo tragados, um a um, pela violência urbana que dizima muito mais do que qualquer conflito bélico oficial.
A instituição de leis mais severas, o combate implacável à impunidade, a busca dos valores e atributos morais, de há muito desprezados pela maioria de nós, talvez sejam saídas racionais, menos traumáticas, mais aceitáveis. Devemos exigir de nossos representantes, seja no Executivo, seja no Legislativo ou no Judiciário, que cumpram com os seus deveres, que façam valer a lei e a ordem, seja a que custo for. Quanto ao mais, cada um de nós deve, também, fazer a parte que nos compete. Deixemos de lado a hipocrisia, a individualidade, a deslealdade, a indiferença, a intolerância e a falta de compromisso para com o meio em que vivemos. Já terá sido um bom começo. Depois disso, é ter muita fé, acreditar em dias melhores e torcer para que a violência urbana seja levada para longe, muito longe, de nós. A vida é um dom muito precioso para que a percamos em troca de banalidades. Em resumo, a vida é bela e deve ser vivida em sua plenitude.
Passado, presente, futuro!
O ano que chega, como reza a tradição, é um convite à reflexão acerca daquilo que passamos no ano anterior...