Maria Vitória nasceu sob o signo da dor e do sofrimento. Veio ao mundo prematuramente, com cinco meses de gestação. Seus pais, lavradores simplórios, de Inaciolândia, próximo a Itumbiara, são de origem humilde. Maria Vitória foi dada como morta pelos médicos de Itumbiara. Depois, seu pai descobriu que ela estava viva, quando já preparava os funerais. Trouxeram-na para Goiânia, onde há vários dias, trava uma grande luta pela sobrevivência, ou, contra a morte.
A história dessa pequena guerreira não difere, muito, de outras histórias, algumas delas com final mais dramático. Se Maria Vitória foi dada como morta, sem passar, por um exame mais apurado, mais consistente, o que dizer, então, das centenas, talvez milhares de outras crianças que vêm ao mundo com o mesmo problema. Nem é bom pensar nisso.
Maria Vitória é só mais um número na estatística do descaso, da falta de amor, da falta de compromisso para com os seres humanos que, infelizmente, estão tomando conta de todos nós. A agravante, nesse caso, é o fato de Maria Vitória ser oriunda de um casebre, no interior de um estado interiorano, onde médico é coisa de luxo, hospital, quando existe, não funciona. Aliás, pratica-se, mais, a chamada “ambulancioterapia”, com prefeitos comprando viaturas e exportando doentes para as grandes cidades.
Fosse Maria Vitória filha de família importante, com dinheiro no bolso e no banco, com certeza não teria ficado por uma hora jogada num a mesa, tida como cadáver e só não foi sepultada viva porque seu pai, no instinto dado por Deus, resolveu prestar atenção no corpinho inerte e ver que nele ainda havia o sopro da vida. Maria Vitória morreu ontem, depois de comover a muita gente. O que fica dessa história, entretanto, é a preocupação de quantas vezes mais isso vai se repetir, sem que ninguém tome qualquer providência. Tomara que o que aconteceu com Maria Vitória seja, cada vez menos, assunto para notícia em jornal e televisão.
Passado, presente, futuro!
O ano que chega, como reza a tradição, é um convite à reflexão acerca daquilo que passamos no ano anterior...