De repente, parece que todo mundo vai plantar cana no Brasil. É a perspectiva de vender em iene (para os japoneses) e em dólar (para os americanos), o álcool cantado em prosa e verso há mais de duas décadas no País. Sem contar a febre do biodiesel, que está tomando conta de todos. Os “japas” e os “gringos” já mandaram avisar: compram tudo o que nós produzirmos. Podem plantar cana à vontade, podem instalar quantas usinas de álcool quiserem. Dinheiro eles têm muito. E dinheiro forte. Sem contar que as frotas japonesa e americana são as maiores do mundo e não param de crescer. Assim sendo, como eles não têm problemas de caixa e não pensam em substituir o automóvel por outro meio de transporte tão brevemente, é um grande negócio fabricar álcool e vender para eles misturarem à gasolina. Ainda mais agora, quando se descobriu que o petróleo dá sinais de esgotamento e os árabes nada farão para baixar o preço. Bom para eles, bom para nós também. Afinal de contas, temos clientes ricos, que vão nos encher de dinheiro. Será?
Quem ganharia com essa anunciada superprodução de álcool? Certamente que os usineiros, os grandes capitães de indústria. Isto, por que no Brasil, com as grandes e improdutivas faixas de terra, de norte a sul, é possível plantar-se cana à vontade. Só que, estão se esquecendo de um pequeno detalhe: cana não é alimento para humanos, a não ser que se considere açúcar, rapadura, aguardente ou garapa como tal. No mais, cana é para boi e para fazer álcool. Muito álcool.
Se essa onda pegar mesmo, todo mundo vai querer plantar cana. Vão se esquecer do arroz, do feijão, do milho, da batata, do trigo. E, aí, como é que vão se virar os pequenos agricultores, aqueles que manejam as chamadas lavouras de subsistência, que plantam para comer, em pequenas roças, em pequenos roçados? Terão eles espaço, terão como produzir?
Muito mais grave do que isso, a lavoura canavieira, embora produtiva e lucrativa, é tida como predadora. Onde se planta cana, dizem, dificilmente vai nascer outra coisa. Terá sido por isso que os americanos, inteligentemente, não plantam cana e preferem plantar trigo e cevada? Ou é por que a monocultura seria uma estrada de mão única, aniquilando outras opções produtivas, dentre elas a pecuária, uma vez que os pastos, certamente vão, aos poucos, ser substituídos por canaviais?
A euforia pelo cultivo da cana de açúcar deve ser avaliada de diferentes ângulos. No primeiro momento parece ser um bom negócio. Assim como o foram o café nas décadas de 30 e 40, o algodão na década de 70 e vem sendo (por enquanto) a soja. Com o café e o algodão, todo mundo sabe o que aconteceu. Quebradeira geral, gente suicidando, perdendo tudo, indo para a miséria. Tomara que, no caso da cana, se vier mesmo essa febre, os cuidados antecipados sejam propostos, para que num futuro próximo, ou distante, não venhamos a lamentar, mais uma vez, pela falta de objetivo, de planejamento e de racionalidade. Quanto ao mais, viva a cana, viva o álcool! Que venham os ienes e os dólares.
Da polarização à união é o desafio pós-eleições
A polarização política intensificada durante o primeiro e segundo turnos das eleições de 2024 trouxe à tona uma série de...