Não se fala em outra coisa no Brasil que não seja o vestido curto, cor rosa, que a estudante Geisy Arruda usava durante uma aula na Universidade Bandeirante, em São Bernardo do Campo, São Paulo. Por conta disso, ela foi hostilizada, xingada e quase agredida fisicamente. Depois, expulsa da escola, embora a diretoria tenha voltado atrás e anulado tal ato. Querendo ou não, Geisy deixou o anonimato e virou celebridade, com direto, inclusive, a citação na imprensa internacional, com destaque para o New York Times, um dos mais famosos jornais de todo o mundo. E, tudo, por conta de um vestido curto, cor de rosa.
Ironias à parte, este já é o vestido mais famoso de todos os tempos no Brasil, o que deve levar a moça e o ambiente que a cerca, quem sabe, ao Guiness Book, ou o livro do recordes. Este é o retrato do Brasil, esta é a dura realidade em que vivemos. Sem querer entrar no mérito pudico, ou, quem sabe, no falso moralismo, acredita-se que existam coisas mais importantes a serem discutidas, analisadas e debatidas no Brasil. Será que não? Na própria faculdade onde aconteceu o episódio, certamente que haveria coisa mais interessante para alunos, professores e diretores se ocuparem. Ora, uma moça trajando um vestido curto em uma faculdade, é a coisa mais comum no Brasil. O que chama a atenção, entretanto, é a futilidade, a falta de assunto e a banalidade que vem tomando conta do ambiente universitário nacional.
Nada contra, nem a favor, de quem usa roupa curta ou roupa comprida. O livre arbítrio, a liberdade de expressão e, o direito de ir e vir, são assegurados constitucionalmente e devem ser levados ao extremo. Principalmente dentro de uma escola de nível superior. O que não se concebe é uma turba enfurecida, por conta de uma pessoa que resolveu trajar uma roupa mais ousada e sensual, como se isso fosse a pior coisa do mundo, um fato abominável. Excesso de zelo, falso moralismo, ignorância. Uma coisa de cada vez, ou, tudo junto. Mas, a pergunta que não quer calar é a seguinte: depois do episódio de São Bernardo do Campo, qual será o próximo? De que a imprensa nacional vai se ocupar brevemente, já que se deixou para trás a preocupação com os escândalos do Congresso Nacional, dos governos de estado, de prefeituras e, até, de câmaras municipais.
O que teria sido feito, por exemplo, da preocupação exacerbada com a tal gripe suína, que foi o maior fiasco em se tratando de política de saúde pública. Como que por encanto, ou, de forma misteriosa, o assunto morreu. Ou deixou de ser atração, de ser mídia ou, realmente, esta gripe nunca foi o que se falou, escreveu, filmou e fotografou. Sem se contar, claro, em outros assuntos que também chamaram a atenção. O certo é que estamos banalizando, e muito, as coisas. A dignidade, a cidadania, a moralidade, os bons costumes estão indo embora, a passos largos, deixando em seus lugares, a banalidade.
Voltando ao caso de São Bernardo do Campo, que certamente ainda vai render muitas páginas de jornais, programas de auditório nas tevês brasileiras, sites na internet e outros assuntos mais, com certeza, a população nacional ainda vai ter muito o que ver, ler e ouvir. Estamos na era da inversão de valores. Onde o tema central de uma faculdade não é, com certeza, a qualidade do ensino, a grade curricular, a relação alunos/professores ou o futuro dos acadêmicos que ali frequentam. A discussão, nesse caso, é focada no vestido curto, cor de rosa, que Geisy Arruda usava quando seus colegas quiseram, até, linchá-la. Quanta hipocrisia.
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