Os legados coreanos

Chego de uma viagem ao oriente onde tive o prazer de viver e conviver por cinco dias na cidade de Seul, capital da Coreia do Sul. Viajei, também, pelo interior daquele país, rumo ao sul, onde se pontificam majestosas rodovias construidas em túneis e viadutos quilométricos, tudo novo e moderno, perfeitamente sinalizadas, coisa prá lá de primeiro mundo. Entusiasmou-me saber como um pequeno país (99.000 kms2), com um território totalmente montanhoso, pouco aproveitável, com pouquissimos recursos naturais, em estado de calamidade total nos anos 1950, tornou-se, em pouco mais de 60 anos, a 10ª. economia do mundo e a 24ª. economia mais competitiva do planeta.
A história recente das Coreia do Sul registra fatos interessantes que valem a pena conhecer. Ocupada por japoneses até o fim da segunda guerra mundial (1945), teve, até então, uma história de sofrimento, desculturalizalão em decorrencia da obrigatoriedade de ter como língua oficial o japonês, sendo que qualquer tentativa de rebelião era sufocada, ocorrendo, com isto, elevado número de mortos e presos. Após o final da guerra (1945), a Rússia invadiu o norte da Coreia, até o paralelo 38, onde, por final, o território foi dividido em Coreia do Norte e do Sul, sendo que na parte Sul a reconstrução foi feita sob a tutela do ocidente (EUA). Tensões internas e planos de reunificação levaram à invasão do sul pelo norte comunista e ao início da Guerra da Coreia (1950-1953), fato que sofreu pesada intervenção das Nações Unidas e dos EUA, apoiando a Coreia do Sul, e da China Comunista, apoiando a Coreia do Norte. Sofrimento só.
Nos dias de hoje, o coreano do sul, altaneiro e feliz, bem empregado, preparado para as dificuldades mundo afora, vive seu apogeu político cultural e economico. Bonito é ver o povo nas ruas nos finais de semana: bem vestidos, educados, bem humorados, felizes enfim! Todos falam a língua inglesa, inclusive taxistas mais antigos. Não há analfabetos porque o país realmente optou por ser uma verdadeira ´Pátria Educadora´ e aqui está, na verdade, a verdadeira causa do sucesso da Coreia do Sul: EDUCAÇÃO DE QUALIDADE, com preparo para as competividades mundiais. Sim, por isto o crescimento econômico da Coreia do Sul nos últimos 30 anos foi espetacular. O PIB per capita chegou a US$ 27.800 em 2015, 14 vêzes maior que o da Coreia do Norte, sua coirmã que optou pelo socialismo de estado e encontra-se em dificuldades até para alimentar sua população.
O sucesso econômico do país se deve a união entre governo e a iniciativa privada, que inclui crédito facilitado, restrição a importações, subsídios a determinados setores e incentivo ao trabalho, principalmente. As reformas iniciadas nos anos 1960 contemplaram a ênfase na exportação com preparo do povo para essa missão. Enquanto aqui no nosso país a industrialização foi feita visando apenas a substituição de importações, lá, a industrialização foi realizada com vistas ao mercado externo somente.
O legado da Coreia do Sul é o exemplo vivo de que o sucesso vem do preparo do povo em primeiro lugar, do aumento da autoestima e da liberdade de pensamento, do livre empreendedorismo, da facilidade de contratação de mão-de-obra, da livre negociação e da força do mercado. Nada de doação ou paternalismo idiota. Ensinar a ganhar o pão de cada dia é o maior legado que um país pode deixar aos seus concidadãos. A Coreia do Sul fez exatamente isto. E isto é exatamente tudo que falta aqui na terra de Cabral.