Por que sofremos?

Em tempos de paz não somos muito propensos a indagar sobre a questão do sofrimento, mas quando um fato novo irrompe em nossa história, ou cruzamos os caminhos daqueles que passam por tribulações e não encontramos sentido para a dor, facilmente voltamos ao eterno e insolúvel problema do sofrimento.
A dor sempre será o tenebroso mistério do mundo e do homem. Por mais que a ciência avance a questão do mal, da morte e da dor continuam enigmáticas, a menos que aceitemos explicações religiosas simplistas sobre o assunto, como a que diz ser “castigo de Deus”, “Vontade de Deus” ou “karma”.
Embora tenhamos sempre que nos confrontar com a dor e a inevitabilidade do mal, a grande questão não é tanto a causa do sofrimento, mas sim o porquê e o para que, isto é, em que somos didaticamente interpelados quando temos que atravessar o vale da sombra da morte?
Humberto Rohden disse o seguinte: “Não afirmamos que a dor, considerada em si mesma, tenha caráter redentor, mas sim, que Deus se serve do sofrimento para redimir o homem de suas misérias e imperfeições. Não foi o sofrimento de Cristo que redimiu a humanidade – mas foi Jesus que, por meio do seu sofrimento, nos redimiu. E assim continua a ser através de todos os séculos. Deus redime o homem por meio da dor”.
A afirmação de Rohden também é questionável. Existem formas de sofrimentos que nunca poderão ser entendidas por nós, diante destes mistérios apenas paramos embasbacados e surpreendidos com nossa finita capacidade de resposta. Aliás, não estou muito certo de que seremos capazes de dar resposta à dor. Os amigos de Jó deram várias explicações, aparentemente convincentes, e no final foram repreendidos pelo próprio Deus por nada saberem. Mesmo Jó, diante do mistério da dor, teve que reconhecer que falava de coisas que não entendia, que conhecia a Deus só de ouvir falar, mas que agora, seus olhos podiam contemplá-Lo.
A dor não pode ser celebrada como um fim em si mesmo, porque ela é apenas um meio, mas uma das coisas que a dor consegue fazer em nós é nos tornar humanos, solidários e amadurecidos. A dor consegue nos transformar em pessoas que passam a colocar os valores na ordem certa de prioridades, e enxergar a vida como ela é. Por isto Jesus afirma: “Bem aventurados os que choram, porque eles serão consolados”.