Simbiose no campo biológico, é “uma relação mutuamente vantajosa entre dois ou mais organismos vivos de espécies diferentes, quando os organismos agem activamente para proveito mútuo, e que pode acarretar especializações funcionais de cada espécie envolvida. Por isto é também chamada de protocooperação.
Relacionamentos simbióticos, porém, no campo da psicanálise, não são positivos. Geralmente se referem a duas pessoas que perdem a sua identidade, e se imiscuem num relacionamento tão complexo que, na linguagem de Chico Buarque, o sangue de um entra na veia do outro e se perde. Quando isto acontece, perde-se a individualidade e a alteridade, e a personalidade de um se torna difusa no outro. Em geral com um se transformando no controlador e se sentindo bem assim, e no outro que se deixa manipular, e apesar de grande desconforto, sendo incapaz de perceber quão seriamente se perdeu na sua capacidade de ser gente, tornando-se dependente e infantil.
Um dos primeiros a tratar da complexa relação simbiótica entre duas pessoas foi Erich Fromm, que cunhou o termo “simbiose incestuosa”, que seria um dos três componentes da “síndrome do declínio”, ou a manifestação do caráter maligno. O lado fraco, por ter um relacionamento parasitário, sente necessidade de romper tal patologia dependente, mas imagina que a morte psicológica do outro implicaria também na sua morte. O fraco, neste caso, não seria uma “vítima involuntária” da malignidade do outro. Uma vez estabelecido o relacionamento doentio, isto se torna um círculo vicioso, no qual os dois parceiros participam do mal.
O fenômeno da escravidão no casamento não é incomum, mas ele se torna mais claro quando age sobre pessoas que não tem como se defender, como no caso de crianças abusadas, que por sua natureza indefesa, temem que o agressor as abandone. Mesmo sendo vítimas, acham-se culpadas. As crianças não são suficientemente fortes do ponto de vista psicológico para romper com este ciclo da malignidade.
O algoz, por sua vez, sequer considera que o outro exista, desconhece a singularidade e não respeita as fronteiras do ego. Não sabe quando o seu “eu-entidade” termina e quando começa o outro. Por isto engole o outro com o seu eu-narcisista. Narciso, na sua essência é intromissor, invasivo e violador.
“Simbiose (…) não é um estado benéfico de interdependência mútua, mas refere-se a um acasalamento mútuo parasitário e destrutivo” (Scott Peck). Uma pessoa abdica das fronteiras de seu ego, e o outro perde sua privacidade na violência sofrida.
Um relacionamento só é saudável, quando não precisamos do outro para nossa própria sobrevivência. Só assim conseguimos manter a distinção necessária e aprendemos a construir nossos projetos juntos.
Relacionamentos simbióticos são despersonalizantes e revelam as mazelas de uma alma que não conseguiu autenticar o seu próprio eu.
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